Pesquisa O Globo/Ipec: Quantos são e como torcem os brasileiros que afirmam ter dois times
Só 11% dos entrevistados afirmam ter dois times; veja ranking de quem tem fã mais 'fiéis' e divididos
Pesquisa O Globo/Ipec que mediu o tamanho das torcidas no Brasil identificou que a fidelidade ao clube do coração é mais regra do que exceção no país. Segundo o levantamento, apenas 11,2% dos entrevistados manifestaram torcida por mais de um time nacional. O Ipec perguntou a cada pessoa por qual time “torce mais ou tem simpatia maior”, com possibilidade de dar até duas respostas.
O percentual de torcedores que declararam ter apenas um time chegou a 62%. Outros 24,4% afirmaram não torcer para ninguém, e 2,5% não souberam ou não responderam.
Os dados indicam que a ideia de torcer com exclusividade para um clube é maior para os moradores no Sul e no Sudeste. Nas duas regiões, os percentuais dos que torcem para dois clubes foram similares, na casa de 8%. Já os habitantes do Norte, Centro-Oeste e do Nordeste são os que mais manifestaram preferências divididas entre dois clubes (em torno dos 15%).
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O fenômeno é tão tradicional nestas regiões que ganhou um nome entre os pesquisadores: bifiliação. Consequência de décadas em que as rádios e TVs que chegavam às cidades do interior eram do eixo Rio-São Paulo. Com isso, a população tinha muito mais contato com notícias e jogos de Flamengo, Corinthians, etc. do que dos clubes locais.
— Na região metropolitana desses estados você tem um domínio dos clubes locais. No interior, nem tanto — explica o jornalista e doutor em comunicação pela Uerj Irlan Simões. — O sujeito que nasceu no interior da Bahia, qual contato ele teve com Salvador? O que a capital o representa em termos de identidade? Muitas vezes nada. Então escolher um clube de fora estando a 400km, 500km de Salvador não é um dilema. Nesse sentido, ter força esportiva e relevância financeira e social é que vai levá-lo a torcer.
De acordo com a pesquisa, 71,1% dos entrevistados com 16 a 24 anos de idade afirmaram torcer por um só time, enquanto só 7,8% citaram duas equipes como preferidas. Já o percentual mais alto está nos entrevistados entre 45 e 59 (13,2%). Contudo, não é possível dizer que a geração mais nova só torce para um time local. Isso porque a pesquisa não considerou clubes estrangeiros.
Mas, de fato, ter duas paixões está em viés de baixa. O que fica comprovado por episódios de tensão em estádios do Nordeste, onde faixas chamam os mistos (como são apelidados pejorativamente os que torcem para times de outros estados) de vergonha. Além das proibições feitas por alguns clubes à presença nas arquibancadas de pessoas com camisas de outras instituições, algo comum até os anos 2000.
— A gente percebe que este fenômeno vem diminuindo nas gerações mais jovens. Ou estão torcendo só para times locais, ou também para europeus — confirma a jornalista e pesquisadora Hévilla Wanderley. — Porque é uma geração que os pais levam mais os filhos para o estádio. Também por que o calendário dos times locais hoje é maior. Antes, acabava nos estaduais, o que os levava a escolher outro clube para torcer no resto do ano. E também por que, se for para ver jogo pela TV, que seja do Neymar, do Messi e outras estrelas.
Gremistas são os mais "fiéis"
Os números mostram ainda quais clubes possuem torcedores mais "fiéis" - e o contrário também. Entre os times mais citados pelos entrevistados, o Grêmio é o que registra maior exclusividade de seus torcedores: 90,6% se dizem apenas gremistas.
Na comparação com os outros três rivais citados, o Palmeiras tem menor exclusividade sobre seus torcedores: 65,5% dos palmeirenses torcem apenas para o clube paulista, enquanto 34,5% também torcem para outro clube. Em termos proporcionais, a cada três palmeirenses identificados na pesquisa, um também manifestou ter outra torcida. Nos casos de Flamengo e Corinthians, a taxa de fidelidade fica acima de 80%. O São Paulo aparece com 75,6% de torcedores exclusivos.