Presidente do COB critica CBF e 'intromissão' em eleição do comitê
A entidade que comanda o futebol teria aberto suas portas para a oposição de Wanderley nas eleições do COB
Reeleito à presidência do COB na quarta-feira (7), Paulo Wanderley teve 26 votos a seu favor. Outros 22 foram para seus adversários, e destes últimos um irritou especialmente o dirigente.
Na visão do presidente e de seus aliados, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não só escolheu a chapa de oposição, encabeçada por Rafael Westrupp e Emanuel Rego, como abriu as portas da sua sede na Barra da Tijuca, próxima ao prédio do COB, para instalar um gabinete de campanha para seus rivais.
"Houve uma tentativa de intromissão de ex-ministro e de pessoas ligadas ao futebol, da CBF, tentando cooptar confederações. Conseguiram o voto de algumas, teve quem caiu no conto de fadas", disse Paulo Wanderley à Folha de S.Paulo.
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O ex-ministro é Leandro Cruz, que comandou a pasta do Esporte no governo Michel Temer e atualmente ocupa o cargo de secretário de Educação do Distrito Federal. Ele articulou a candidatura de Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, entidade patrocinada pelo BRB (Banco de Brasília, que tem como maior acionista o governo do DF).
A CBF é a única das 35 confederações esportivas ligadas ao COB que não depende de recursos das loterias federais repassados pelo comitê. Faz parte da estrutura olímpica porque o futebol está no programa dos Jogos, mas pouco se relaciona com ela.
Rogério Caboclo, presidente da CBF, justificou o apoio a chapa de Westrupp com o argumento de que Paulo Wanderley, seu "vizinho" de sede no Rio de Janeiro, só o visitou para pedir votos durante a campanha.
"A CBF é filiada ao Comitê Olímpico do Brasil, com o mesmo status do hóquei, do judô e de todas as outras [confederações]. Deu o voto escutando apenas uma proposta. Fiz uma visita à CBF e bem alegre por sinal. Não é por esse motivo que não votou em mim", afirmou o presidente do COB.
Caboclo esteve no local da eleição na quarta, antes de o pleito começar, e cumprimentou demais chefes de modalidades.
Sob a justificativa de que se reuniria com a seleção brasileira, que joga nesta sexta pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, foi embora antes da votação e assinou procuração para Leonardo Ferraz, diretor de marketing da Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), representá-lo.
Procurado, ele não quis comentar as falas de Paulo Wanderley.
O presidente reeleito minimizou que a vitória tenha sido conquistada por uma margem apertada, o que indicaria insatisfação de muitas confederações com seu trabalho, e o impacto disso para os próximos anos de sua gestão, que abarcará os Jogos de Tóquio-2020 e de Paris-2024.
"Pela primeira vez teve briga externa [agentes de fora do movimento olímpico]. Quando é entre nós a gente quebra o pau aqui e está tudo bem. Esse sistema externo foi desagregador, mas acredito que com essa eleição eles aprenderam na marra", disse.
"Ainda bem que venceu a continuidade. Seria contraproducente uma nova gestão, embora na campanha tenham sido feitas muitas promessas", completou.
Paulo Wanderley admite que viveu dias tensos antes da eleição, período classificado por ele como "TPE (tensão pré-eleitoral)".
Havia o receio por parte de seus aliados de que confederações que declararam apoio a ele mudassem de ideia nas urnas, com o voto secreto. Se isso aconteceu, foi compensado pelo apoio da maior parte da Comissão de Atletas, responsável por 12 dos 48 votos do colégio eleitoral.
Todo esse cenário esquentou a primeira eleição do COB nas últimas quatro décadas. Desde 1979, não havia situação e oposição batalhando pelo poder da entidade.
A chapa de Helio Meirelles, que tinha como candidato a vice Robson Caetano, rachou às vésperas da assembleia. Das cinco confederações que o apoiavam (pentatlo moderno, levantamento de pesos, remo, tiro esportivo e tênis de mesa), três optaram por se aliar a Westrupp.
Se garantiu a reeleição, Paulo Wanderley viu seu candidato preferido ao Conselho de Administração como membro independente, Rodney Rocha Miranda, ser derrotado por Ricardo Leyser, ministro do Esporte do governo Dilma Rousseff.
A Folha mostrou que o cartola fez campanha por Miranda, que não tem ligações com o esporte, o que irritou membros do colégio eleitoral.
Paulo Wanderley assumiu a principal entidade do esporte olímpico em outubro de 2017, após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, de quem era vice. O seu segundo mandato, de quatro anos, começará oficialmente no dia 15 de janeiro de 2021.