Preto, branco e vermelho de sangue: força-tarefa policial é montada após empate do Santa Cruz
Um helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) sobrevoava o estádio do Arruda, enquanto a cavalaria da PM tentava ordenar ruas
Quando o árbitro Leonardo Ferreira Lima, do Paraná, soprou o apito final consolidando o empate entre Santa Cruz e Potiguar em 1 a 1, neste domingo (16), teve início uma sequência de episódios de violência. Entre os atingidos, estavam idosos, crianças, profissionais e mais um pedaço da esperança por dias de paz no futebol.
Sob medo e protestos violentos, os jogadores dos dois clubes precisaram correr em direção aos vestiários buscando proteção, já que a torcida mandante tentou invadir o gramado.
Do lado de fora do estádio do Arruda, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) reforçava seu efetivo nas ruas com a cavalaria, tentando impor ordem em meios ao tumulto. Bombas e tiros foram ouvidos. No céu, um helicóptero da Secretaria de Defesa Social (SDS) fazia uma ronda na área, auxiliando na contenção da barbárie.
Carlos, um homem que atuava em uma empresa de segurança privada no clube, foi atingido com uma lata na orelha e precisará levar dois pontos. Outra funcionária, da mesma empresa, foi atingida por uma garrafa na cabeça. No momento, ela estava na presença de outras duas colegas de trabalho.
“A gente estava saindo do setor em que estávamos, porque tinha muita bagunça, só que um torcedor coagiu a mim e outras duas mulheres, aí um torcedor empurrou a gente para o campo e eu fui atingida na cabeça por uma garrafa. Foi um horror, é muita falta de respeito. Foi um cenário de guerra sem necessidade. Prejudicou muita gente”, disse a mulher.
Nos vestiários
Diego Almeida, goleiro do Potiguar, detalhou o cenário enfrentado por ele e seus colegas de time, que correram na direção dos vestiários após o jogo. O atleta fez um paralelo aos casos de violência que são comuns em estádio de futebol em todo o país e exaltou a ação das forças de segurança que estiveram no estádio nesta noite. Uma equipe com cerca de 20 profissionais, inclusive, deve estender os trabalhos até a manhã desta segunda-feira (17).
“A gente sabia que se o Santa Cruz não vencesse o jogo, a torcida iria fazer algum tipo de protesto. É lamentável, infelizmente a gente tem esse problema no Brasil, mas graças a Deus a polícia conseguiu controlar. A gente se preocupa, mas tem que ‘entregar na mão’ da segurança e confiar na polícia”, disse o arqueiro.
O defensor Romeu, também do Potiguar, disse ter sido a primeira vez na carreira em que presenciou cenas fortes como essas, tragédia que ele relembrou já ter sido “anunciada” pelos vândalos, que prometeram invadir o gramado caso a vitória não acontecesse.
“Nunca vivi isso, não foi bom, mas suportamos tranquilos, já que conseguimos chegar no vestiário. Antes de chegar no estádio, já sabíamos que poderia ter essa invasão. A gente já veio preparado e todo mundo conversou que se acontecesse alguma coisa, a gente iria correr para o vestiário, porque estaríamos seguros”, revelou.
Com ainda mais tensão, o vestiário do Santa Cruz precisou ser protegido por equipes de segurança do clube. Grupos de torcedores aguardavam a saída dos atletas para realizar xingamentos. Alternados, os jogadores corais deixavam o estádio cercados por seguranças. Alguns atletas preferiram dormir no clube e outros disseram que só sairiam de lá pela madrugada, sem a presença da torcida.
Toda uma geração afetada
O motorista de aplicativo José Thiago da Silva, de 27 anos, levou seu filho Miguel, uma criança, pela primeira vez ao estádio do Arruda. Eles assistiram ao empate do setor das cadeiras, pensando em questões como conforto e segurança. Miguel talvez não tenha “jogo da volta”, depois do que viveu neste domingo (16).
“A gente traz as crianças para compartilhar as emoções de dentro do estádio e acaba tendo que esperar muito para sair de casa. Lá de cima deu para ver toda a movimentação da polícia contra essas pessoas de má índole. Eu tenho mais receio em trazer ele de volta pelo que aconteceu hoje, mas nunca vamos abandonar o Santa Cruz”, afirmou o pai.
Prisões
A reportagem da Folha de Pernambuco entrou em contato com as assessorias das polícias Civil (PCPE) e Militar (PMPE) de Pernambuco para obter informações sobre possíveis prisões, mas até o momento não foi respondida.