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Público nos estádios

Proibição de torcida vira briga entre prefeito de Belo Horizonte e patrocinador do Atlético-MG

Ambos são ex-presidentes do clube, que saiu em defesa do empresário em nota oficial

Torcedores na volta do público ao MineirãoTorcedores na volta do público ao Mineirão - Foto: Pedro Souza / Atlético

Com convite para confronto até na "vida pessoal", a proibição de torcidas em estádios de Belo Horizonte expôs a disputa entre dois ex-cartolas do Atlético-MG.

Um é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). O outro, o empresário Ricardo Guimarães, considerado um mecenas da agremiação mineira. Ambos ex-presidentes do clube. Em nota, a equipe saiu em defesa do empresário.

Guimarães afirma existir na prefeitura pessoas querendo dificultar as coisas para o Atlético. O time é líder do Campeonato Brasileiro.
 


Já Kalil afirma que o empresário tem interesse "político-partidário" nas eleições do ano que vem, além de tentar colocar a torcida do clube contra ele. O prefeito é pré-candidato ao governo de Minas Gerais.

A suspensão da presença de torcedores em partidas de futebol profissional em Belo Horizonte foi publicada nesta segunda-feira (23) no Diário Oficial do Município .

O texto, assinado pelo secretário de Saúde, Jackson Machado, afirma que a decisão é por tempo indeterminado.

O posicionamento da prefeitura foi tomado depois de duas partidas disputadas no Mineirão. Entre Atlético e River Plate, pela Copa Libertadores, na última quarta-feira (18), e entre Cruzeiro e Confiança, na sexta-feira (20).

O Atlético venceu por 3 a 0. O Cruzeiro, por 1 a 0.

Os dois jogos foram chamados de eventos-teste como forma de preparação para o retorno das torcidas aos estádios, mas registraram aglomerações nas imediações do estádio antes das partidas, o que motivou a decisão da gestão de Kalil na segunda-feira.

A disputa entre os dois ex-presidentes do Atlético-MG, no entanto, teve início antes, quando a prefeitura já sinalizava para a proibição.

No domingo (22), Guimarães fez um pronunciamento à rádio Itatiaia frisando ser "cidadão belo-horizontino, atleticano, conselheiro grande benemérito do Atlético, ex-presidente do clube e eterno colaborador". Disse ainda que não falava e nem tinha autorização para falar em nome do time.

O empresário declarou ter ficado "abismado" quanto à proibição de público nos jogos de futebol na cidade. Afirmou ter conversado com "muitas pessoas" e que não via motivos para a decisão.

"Se houve erros no jogo contra o River Plate, a prefeitura também é partícipe do erro. Em conjunto com o Atlético-MG e o Mineirão, deveriam procurar melhorar o protocolo antes de tomar essa decisão tão radical", apontou.

O empresário avaliou que o posicionamento da gestão de Kalil teria outros motivos, que não públicos.

"Para mim essa decisão tem mais um caráter político, interno do Atlético-MG, do que uma questão pública de prefeitura. Isso nunca será admitido ou mesmo será comprovado, mas a prefeitura parece querer disputar com os dirigentes e colaboradores do Atlético", afirmou.

Guimarães foi presidente do Atlético-MG de 2001 a 2006. A família do empresário é fundadora do Banco BMG.

"Parece que existem na prefeitura pessoas querendo dificultar as coisas para o Atlético. [...] Parece que estão torcendo contra, por mais que digam o contrário. Como isso é apenas uma opinião minha, não é um posicionamento oficial do clube, não precisa ser provado, mas é uma opinião responsável, de quem está dentro e está sentindo as dificuldades."

A resposta do prefeito ocorreu em entrevista coletiva, nesta segunda-feira (23). Kalil classificou as declarações de Guimarães como "ataques virulentos, descabidos e asquerosos" e assumiu ter sido o responsável por pedir ao comitê de enfrentamento à Covid-19 da prefeitura estudo para que os jogos fossem realizados.

O prefeito, que comandou o Atlético-MG de 2008 a 2014, afirmou que Guimarães não tem coragem. "Nunca foi o seu forte. Convivi com ele dentro do Atlético. Coragem nunca foi um atributo do senhor Ricardo Guimarães".

Kalil disse já ter sofrido outros ataques. "Primeiro, é um discurso político partidário visando 2022. Coisa que já fizeram na minha última eleição. Que estão achando que sou candidato e querem me minar e me jogar contra uma torcida que, quer eles queiram ou não, não vão me esquecer".

O prefeito disse estar disponível para uma briga no campo pessoal. "Estou falando de futebol. Estou falando do ataque virulento que sofri ontem [segunda]. Porque se quiser levar para a vida pessoal, eu quero dizer para o senhor Ricardo Guimarães que recordar é viver. Nós podemos ir lá atrás. Ele vai na minha vida e eu vou na vida dele."

O pior momento da história do Atlético-MG também foi atribuído por Kalil a Guimarães.

"Quero lembrar a torcida que o presidente Ricardo Guimarães foi o presidente que nos empurrou para a segunda divisão, que é, sem dúvida nenhuma, nos 113 anos de historia do nosso clube, o pior presidente que já passou por lá. Manchou a nossa camisa. Manchou, entristeceu o nosso manto sagrado".

O Atlético foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro em 2005.

O clube, no final da tarde desta segunda-feira, divulgou nota sobre as declarações de Kalil.

O texto diz que Guimarães participa ativamente da vida do Atlético e é um dos maiores apoiadores do clube "há mais de 20 anos".

"Recentemente, inclusive, Atlético e Ricardo Guimarães assinaram acordo histórico para o clube. Em gesto de grandeza, desprendimento e amor ao Galo, Ricardo Guimarães e sua família perdoaram parte significativa da dívida do clube e viabilizaram o pagamento da quantia remanescente em parcelas amigáveis".

A reportagem entrou em contato com as assessorias dos dois atleticanos. A do Kalil informou que o assunto foi abordado na coletiva da última segunda-feira. Ainda não houve retorno por parte de Ricardo Guimarães até a publicação deste texto.

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