Santos sofre pressão de patrocinadores antes de votação sobre Robinho
A insatisfação dos anunciantes foi ampliada nesta sexta (16), com as revelações pela Globo de gravações de conversas do atleta
A contratação de Robinho pelo Santos, anunciada no último sábado (10), terá de ser aprovada pelo conselho deliberativo do clube, em reunião marcada para a próxima quarta-feira (21). Se a autorização for negada, o estatuto da agremiação obrigará que o negócio seja desfeito.
Esse trâmite já estava previsto, mas a votação acontecerá sob crescente pressão de patrocinadores do clube após a chegada do atacante, condenado em primeira instância na Itália a nove anos de prisão por violência sexual. Ele nega que tenha cometido o crime e recorreu.
A insatisfação dos anunciantes foi ampliada nesta sexta (16), com as revelações pela Globo de gravações de conversas do atleta, tidas como fundamentais para a condenação. Para a Justiça italiana, o conteúdo das interceptações mostrou que Robinho e os demais acusados do crime sabiam da condição da vítima.
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Ao menos dois patrocinadores entraram em contato com a diretoria santista, exigindo uma postura enérgica do clube em relação ao caso.
A Kicaldo, empresa do ramo alimentício e que anuncia sua marca nas mangas da camisa do time, avisou ao clube nesta manhã que deverá manter o patrocínio somente se a contratação for desfeita. Esse contrato rende ao Santos aproximadamente R$ 2,5 milhões.
A Kodilar, que possui um acordo de R$ 1,2 milhão para anunciar nos meiões, estuda tomar a mesma decisão e analisa ainda uma forma de pedir a suspensão de contrato de forma temporária, até a conclusão do caso na Justiça italiana.
Apesar disso, a empresa avalia que, independentemente de Robinho ser inocentando, a postura do jogador, a partir do conteúdo das conversas, é inadmissível e não o exime de culpa.
As duas empresas aguardam retorno do clube para tomarem uma decisão.
Sem um patrocinador máster na camisa desde o final de 2018, o Santos depende do fatiamento de espaço no uniforme para conseguir receita.
Na quarta, a Orthopride, rede de franquias de ortodontia e estética, rescindiu o seu contrato de patrocínio com o clube, iniciado em 2018 e no valor de R$ 2 milhões, por causa da contratação.
A votação do conselho deliberativo é necessária por causa das eleições, marcadas para 12 de dezembro. Segundo o estatuto do clube, a menos três meses do pleito, o comitê de gestão não pode contratar, vender jogadores ou antecipar receitas sem autorização do conselho, que vai decidir por maioria simples entre os presentes.
Ao todo, o clube tem 303 conselheiros aptos a votar (entre honorários, efetivos e eleitos), mas dificilmente esse será o quórum da assembleia.
"O comitê de gestão nos informou da contratação e os detalhes foram enviados para a comissão fiscal, que deu parecer favorável. Agora, o conselho terá de aprovar ou rejeitar a contratação", afirma o presidente do conselho deliberativo do Santos, Marcelo Teixeira.
Até o momento, o atleta não é considerado culpado pelo crime, já que o processo ainda está tramitando na Justiça italiana, composta por três instâncias.
Somente depois de percorrer essas três fases, a sentença pode ser considerada definitiva, com absolvição ou condenação -e, neste caso, com o início do cumprimento da pena.
A audiência no Tribunal de Apelação de Milão está agendada para o dia 10 de dezembro.
"Será a primeira vez [do processo] nesse tribunal, mas não sei dizer se será a última, porque o juiz pode querer reabrir alguma questão ligada a provas, aprofundar alguma coisa, ouvir novamente alguma testemunha", disse à Folha no início da semana o advogado Alexander Guttieres, que representa Robinho ao lado de Franco Moretti. Os dois escritórios, sediados em Roma, assumiram o caso depois da decisão de primeiro grau.
Caso a sentença final, na terceira instância, considere Robinho culpado, um novo processo terá início, dessa vez para decidir sobre o cumprimento da pena de prisão. A Constituição brasileira impede a extradição de brasileiros para países onde crimes tenham sido cometidos.
O caso voltou à tona nos últimos dias, depois que seu retorno ao Santos foi anunciado, provocando indignação de torcedores e levantando o debate sobre a posição do clube, considerada contraditória após a participação em campanhas de combate à violência contra a mulher.
Na quarta (14), após a notícia da perda de uma patrocinadora por causa da contratação, a agremiação publicou sua primeira nota oficial sobre o assunto.
"O clube não pode entrar no mérito da acusação, pois o processo corre em segredo de Justiça na Itália e sobretudo o Santos FC orgulha-se de, em sua história, sempre respeitar as garantias fundamentais do ser humano, dentre as quais, a presunção da inocência e o respeito ao devido processo legal", afirma a nota.
"Não será o Santos FC que lhe dará uma sentença antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão", continua a agremiação. "Infelizmente vivemos na era dos cancelamentos, da cultura dos tribunais da internet e dos julgamentos tão precipitados quanto definitivos, porém há a certeza que o torcedor do Santos FC entenderá que compete exclusivamente à Justiça realizar o julgamento."
O clube diz ainda que não há mudanças em seu posicionamento nas campanhas de combate à violência contra a mulher: "São valores irrenunciáveis e que fazem parte da história do legado Alvinegro".
A Folha procurou o Santos novamente após a divulgação das conversas interceptadas e aguarda uma resposta.
O acordo inicialmente firmado entre Robinho e o time tem duração prevista de cinco meses, até o fim do Campeonato Brasileiro, em fevereiro de 2021.
O salário, segundo o clube, será simbólico de R$ 1.500, mas envolve também outros ativos de performance, prevendo bônus de R$ 300 mil após dez partidas jogadas e outros R$ 300 mil depois de 15 jogos. Os valores, no entanto, só serão pagos no próximo ano.