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Futebol

Sem Copa em casa, brasileiras esperam que futebol feminino não retroceda

De acordo com lideranças do futebol feminino ouvidas pela reportagem, a realização de um Mundial em casa seria um passo importante para a continuidade do desenvolvimento da prática no Brasil

Brasil comemora gol em Copa do MundoBrasil comemora gol em Copa do Mundo - Foto: Philippe Huguen/AFP
A retirada da candidatura brasileira para sediar a Copa do Mundo feminina de 2023, anunciada pela CBF na segunda-feira (8), surpreendeu profissionais envolvidos com a modalidade.
De acordo com lideranças do futebol feminino ouvidas pela reportagem, a realização de um Mundial em casa seria um passo importante para a continuidade do desenvolvimento da prática entre as brasileiras.
 
"Acredito que um dos efeitos positivos seria impactar e acelerar a massificação da prática do futebol entre meninas e mulheres", afirma a coordenadora do departamento de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino.

A dirigente também acredita que uma Copa do Mundo no país seria importante para desconstruir a cultura machista que ainda enxerga a prática do futebol, especialmente na infância, como um esporte majoritariamente masculino, o que impede muitas meninas de iniciarem cedo o contato com a bola.
 

Sediar um evento desse porte também chama a atenção das marcas. No ano passado, em que foi realizada a Copa na França, empresas como a Nike e O Boticário realizaram ações de patrocínio específicas com a seleção. O Guaraná Antarctica veiculou um comercial no qual convocava outros anunciantes a também investir na equipe nacional.
"Seria importante por ter um engajamento maior da imprensa, das marcas, seria uma possibilidade muito grande para a modalidade", diz Cristiane, 35, atacante do Santos e artilheira do Brasil no último Mundial com quatro gols.

Apesar da retirada da candidatura, Aline Pellegrino não crê que isso brecará o processo de crescimento da modalidade, que soma algumas experiências positivas principalmente de 2019 para cá, com o Mundial da França transmitido na TV aberta e o amadurecimento de torneios nacionais femininos, como as séries A e B do Campeonato Brasileiro.

"O desenvolvimento do futebol feminino é algo que não irá retroceder, pois é uma diretriz muito forte da Fifa, com um plano de longo prazo muito bem elaborado e com objetivos bem definidos. Já vimos resultados no ano passado, com a Copa do Mundo da França, e vamos ver na Copa de 2023, independentemente de onde seja", diz a coordenadora da FPF.

Para as atletas, disputar um Mundial em casa representaria a realização de um sonho, assim como um incentivo para as mais veteranas, que poderiam esticar um pouco mais a carreira a fim de brigar por uma vaga na próxima edição da competição.

Medalhista olímpica com a seleção brasileira e presente em quatro Olimpíadas, a veterana Rosana, 37, meio-campista do Palmeiras, lamenta a queda da candidatura, mas é otimista quanto aos próximos passos do futebol feminino no Brasil.
Para ela, a disputa dos Jogos de Tóquio, em 2021, manterá a CBF comprometida com os investimentos e o desenvolvimento da modalidade.

"O futebol feminino no mundo inteiro está em ascensão, e aqui no Brasil não é diferente. Antes da pandemia, os jogos estavam sendo divulgados, as pessoas estavam mostrando um interesse maior. Melhorou muito a condição de jogo, a condição que os clubes dão para as atletas. Existe essa ascensão", diz Rosana, que chegou a trabalhar por um breve período como agente de jogadoras.

De acordo com a CBF, a candidatura foi retirada porque o governo federal não apresentou as garantias exigidas pela Fifa. O governo explicou ao órgão que comanda o futebol mundial que, em razão da pandemia da Covid-19, não conseguiria assinar o termo de compromisso com as condições impostas pela Fifa à apresentação da candidatura.

A CBF também colocou como empecilho o acúmulo de eventos esportivos recentes realizados no país, embora esse fator já existisse quando a confederação anunciou a intenção de se candidatar, no ano passado.

Desde o início da década passada, o Brasil abrigou a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo masculina (2014), a Olimpíada e a Paraolimpíada do Rio (2016), a Copa América (2019) e o Mundial masculino de futebol sub-17 (2019).

A partir da retirada, a CBF anunciou apoio ao pleito da Colômbia para sediar a Copa do Mundo de 2023. Japão e uma proposta conjunta de Austrália e Nova Zelândia também estão na disputa.

"A gente fica triste, né, porque seria muito bom para o futebol feminino o nosso país poder sediar uma Copa feminina, a primeira da história. Sabemos como foi a Olimpíada, o sucesso que fez, então a gente imagina que a Copa do Mundo não seria diferente", diz Andressa Alves, 27, que esteve no elenco que disputou o Mundial no ano passado, em 2019.

"Mas a gente entende, também, que no meio dessa pandemia o Brasil está sofrendo bastante, e a CBF também, sem os jogos, então entendemos a parte deles", completa a atacante da Roma.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada em maio mostrou que a CBF repassou uma verba emergencial aos clubes que disputam as duas principais divisões do Campeonato Brasileiro para mitigar o impacto financeiro da pandemia.

O montante deveria ser investido nos departamentos femininos das agremiações, mas algumas atletas afirmaram não ter recebido o repasse e acionaram a confederação, denunciando seus clubes.

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