Simone Biles e outras atletas processam FBI em mais de US$ 1 bilhão por falhas no caso de assédio
Em julho de 2021, um relatório do Departamento de Justiça dos EUA afirmava que a agência de investigação "não respondeu às alegações contra Nassar com a maior seriedade e urgência de que eles mereciam e exigiam"
Um grupo de cerca de 90 ginastas olímpicas americanas, incluindo a medalhista de ouro Simone Biles, processam o FBI, a agência americana de investigação, em mais de US$ 1 bilhão (R$ 4,89 bilhões) por falhas no caso de assédio do então médico esportivo Larry Nassar, condenado por abuso sexual de mais de 150 jovens e adolescentes. A informação foi divulgada pelos advogados das atletas nesta quarta-feira. Eles destacam que os agentes sabiam, em 2015, que Nassar foi acusado de molestar ginastas, mas não tomaram medidas. Com isso, ele continuou a praticar o assédio sexual contra mulheres e meninas por mais de um ano.
Nassar foi condenado a 360 anos de prisão em fevereiro de 2018, mas já vinha cumprindo pena de 60 anos de prisão por possuir materiais de pornografia infantil após ser julgado em dezembro de 2017. Ele trabalhou para a Federação de Ginástica dos EUA por cerca de três décadas.
"É hora de o FBI ser responsabilizado", disse Maggie Nichols, ginasta campeã nacional em Oklahoma em 2017-19, segundo a "NBC Sports".
O Departamento de Justiça disse em maio que não faria acusações criminais contra ex-agentes do FBI que não abriram rapidamente uma investigação.
"Se o FBI tivesse simplesmente feito seu trabalho, Nassar teria sido detido antes mesmo de ter a chance de abusar de centenas de garotas, inclusive eu", disse Samantha Roy, ex-ginasta da Universidade de Michigan.
O depoimento de Simone Biles: 'ninguém fez o necessário para nos proteger'
Em audiência no Comitê Judiciário do Senado dos Estados Unidos, em setembro de 2021, Simone Biles testemunhou num painel que apura os erros do FBI no caso do médico Larry Nassar. Em seu depoimento, Biles culpou a Federação Americana de Ginástica (USA Gymnastics) e o FBI pelos crimes cometidos pelo ex-médico da entidade esportiva.
Não quero que nenhuma outra atleta sofra o horror que eu vivi. Sofremos e seguimos sofrendo porque ninguém fez o necessário para nos proteger. Falharam conosco e merecemos respostas. Nassar está no lugar a que pertence, mas aqueles que permitiram os abusos têm de prestar contas - disse a atleta, que chorou no depoimento.
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No painel, também houve os depoimentos das campeãs olímpicas Aly Raisman e McKayla Maroney e da campeã mundial Maggie Nichols, primeira ginasta a denunciar os abusos de Nassar aos chefes da USA Gymnastics. Maroney afirmou que o FBI falsificou sua acusação reportada em 2015.
"Depois de contar toda a minha história de abuso ao FBI em 2015, não apenas o FBI não relatou meu abuso, mas quando finalmente documentou minha denúncia 17 meses depois, eles fizeram afirmações totalmente falsas sobre o que eu falei", disse Maroney.
Investigação lenta
A USA Gymnastics, com sede em Indianápolis, alertou agentes locais do FBI em 2015 que três ginastas disseram ter sido agredidas por Nassar, um médico da equipe. Mas a investigação foi considerada lenta. De acordo com um relatório, os investigadores esperaram cinco semanas para entrevistar por telefone uma das vítimas, e deixaram de entrevistar outras atletas. Os erros, segundo a conclusão do documento, permitiram que o abuso sexual continuasse por meses.
Em 2016, agentes do FBI de Los Angeles iniciaram uma investigação contra Nassar e entrevistaram várias vítimas, mas também não alertaram as autoridades de Michigan.
Nassar não foi preso até o outono de 2016 durante uma investigação da polícia da Universidade do Estado de Michigan. Apesar disso, a universidade também foi acusada de perder oportunidades durante muitos anos para deter Nassar. A instituição concordou em pagar US$ 500 milhões a mais de 300 mulheres e meninas que foram agredidas. A USA Gymnastics e o Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA fizeram um acordo de US$ 380 milhões.
O escritório do procurador-geral de Michigan finalmente lidou com as acusações de agressão contra Nassar, enquanto os promotores federais em Grand Rapids, Michigan, entraram com um caso de pornografia infantil.
Em julho de 2021, um relatório de 119 páginas foi emitido pelo Departamento de Justiça dos EUA que afirmava que o FBI em Indianápolis "não respondeu às alegações contra Nassar com a maior seriedade e urgência de que eles mereciam e exigiam."