Sob desgaste, FPF propõe regras mais rígidas para retomar Campeonato Paulista
Clubes querem retomada da competição, mas precisam entrar em acordo com o Ministério Público de São Paulo
Uma reunião entre a Federação Paulista de Futebol (FPF) e os clubes do Campeonato Paulista nesta segunda-feira (29) definiu que os cartolas irão novamente ao Ministério Público de São Paulo para defender a continuidade do torneio em meio à fase emergencial do plano de combate à pandemia estabelecido pelo governo estadual.
Foi o Ministério Público que, ainda na primeira metade de março, recomendou ao governo João Doria (PSDB) a paralisação das atividades esportivas durante este período. Na última sexta-feira (26), houve prorrogação da fase emergencial até o dia 11 de abril.
A FPF fará alterações em seu protocolo sanitário e vai propor a criação de regras mais rígidas para a realização dos jogos, além de diminuir o número de profissionais nas partidas. As mudanças vêm sendo alinhadas desde sexta (26).
"O modelo prevê a organização de ambientes controlados, em que os clubes ficarão isolados em centros de treinamento ou hotéis, se deslocando apenas para os jogos", diz o documento, que cita ainda maior frequência de testagens, redução de efetivo de pessoas nos jogos, entre outras medidas de controle.
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As novas diretrizes preveem ainda que as delegações serão testadas 24 horas antes de entrarem nesses ambientes. Ainda que o documento fale em "bolha like", a concentração não será total. Profissionais colaboradores poderão se deslocar até suas casas -nesse caso, estão previstas testagens diárias.
A reunião com o Ministério Público deve acontecer ainda nesta segunda, e a intenção é que o campeonato seja retomado no máximo até 11 de abril. Assim, a FPF espera manter o fim do torneio no mês de maio, como prevê o calendário inicial.
A briga contra a suspensão do esporte em São Paulo tem deixado fissuras nos bastidores do futebol paulista.
Desde que a medida foi adotada, no meio de março, os dirigentes têm tentado reverter a decisão de João Doria, que acatou o pedido do Ministério Público, em um processo desgastante entre as partes.
O ponto mais crítico de tensão se deu no último dia 18, na reunião em que a federação colocou em votação com os dirigentes dos clubes da Série A1 a decisão de ir ou não à Justiça contra as medidas estaduais e conseguir autorização para realizar as partidas do Campeonato Paulista no estado.
O encontro marcou uma divisão entre os clubes, com 8 votos a favor da judicialização e 8 contrários, o que deixou o presidente da federação, Reinaldo Carneiro Bastos, em situação delicada. A Ferroviária, clube de Araraquara, mudou seu voto de a favor para contra, resolvendo o embate em 9 a 7 e evitando que Bastos desse o voto de Minerva.
O vazamento desse placar irritou o presidente e a federação. Isso porque o acordo até então previa que todas as decisões tomadas nos encontros seriam bancadas coletivamente, sem individualização do assunto.
Desde então, presidentes e representantes dos clubes redobraram a cautela sobre suas posições, mesmo aquelas informais, em conversas sigilosas com pessoas próximas.
Pessoas presentes nas reuniões recentes da entidade afirmam que o clima ficou mais tenso após a divulgação dos votos.
O entendimento da federação e dos dirigentes segue o mesmo, de que os protocolos adotados garantem a segurança na realização das partidas e que o Ministério Público e o governo paulista, que outrora aprovaram esse mesmo protocolo, agora se contradizem ao proibir o esporte no estado.
Também há a avaliação entre alguns de que está cada vez mais desgastante para a imagem do futebol paulista a defesa, por diversos meios, da realização das partidas, mesmo que haja segurança. O entendimento é de que a opinião pública tem visto a movimentação com maus olhos.
Os próprios presidentes têm sido mais arredios à ideia de conversar com jornalistas desde a votação sobre a judicialização.
Algumas mudanças concretas foram tomadas. Por exemplo, para a reunião seguinte, no dia 22 de março, o presidente do Red Bull Bragantino, Marco Abi Chedid, não foi convocado. No seu lugar, foi chamado Thiago Scuro, CEO do clube-empresa.
"Não houve animosidade. A decisão da votação foi respeitada, não falei com o Reinaldo [Carneiro Bastos] depois. Não quero criar problema. Acho que temos que achar alternativas, um protocolo alinhado com o MP e o estado", disse Chedid à reportagem.
"Foi tudo claro e objetivo, a votação [de judicialização] não passou. Precisa haver um diálogo em respeito às pessoas que morreram, respeito a isso, temos que entender que é um momento difícil do país", completou.
"Nós estamos trabalhando em união, sempre conversamos em off entre os presidente e nos comunicamos. Não houve nenhuma animosidade. A relação é harmônica, respeitamos as opiniões, mesmo as contrárias A união agora é primordial para o campeonato. É consenso que há necessidade de terminar, cumprindo os contratos legais que temos", afirmou o presidente do Mirassol, Edson Ermenegildo.
Antes, o presidente do Santos, Andres Rueda, sofrera pressão. Minutos após a publicação de uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em que ele defendeu a paralisação do futebol (quando a atividade ainda não estava suspensa), o clube recebeu uma ligação de Reinaldo. À época, a FPF disse que mantinha diálogo constante com todos os dirigentes.
A reportagem procurou o Ministério Público, que não confirmou a realização de uma nova reunião nesta segunda até a publicação deste texto.