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FUTEBOL

Sonho com título de Copa até 2050: o projeto do Japão, primeiro classificado para 2026

Arrasador nas Eliminatórias, país estrutura identidade do futebol local e colhe os frutos com geração protagonista

Kamada e Mitoma comemoram gol do Japão contra o Bahrein Kamada e Mitoma comemoram gol do Japão contra o Bahrein  - Foto: JIJI Press / AFP

Numa nação em que as filosofias e a ideologia do trabalho são levadas às últimas instâncias, o esporte, e mais especificamente o futebol, não escaparia. Primeiro país classificado à Copa do Mundo de 2026, o Japão colhe os frutos de seus propósitos escritos e registrados em relação ao jogo, tanto na seleção quanto nas ligas.

Sonhando com um título mundial nos próximos 50 anos, os Samurais Azuis passaram pelas Eliminatórias locais como um furacão e despontaram de vez como potência na Ásia.

Com duas rodadas a serem disputadas em junho, o time do técnico Hajime Moriyasu segue invicto, com seis vitórias e dois empates nos oito jogos da terceira fase. Em grupo com Austrália, Arábia Saudita, Bahrein, China e Indonésia, marcou 24 gols e sofreu apenas dois.

 

Em destaque estão nomes como os atacantes Ueda e Ogawa (oito e seis gols marcados, respectivamente), que jogam no futebol holandês; o ex-Liverpool e hoje jogador do Monaco Minamino (quatro gols); bem como o camisa 10 Doan (Freiburg-ALE); e os meias Kamada (Crystal Palace-ING), Morita (Sporting-POR) e Takefusa Kubo (Real Sociedad-ESP), autores de três gols cada. Ito, do Reims-FRA, é outro talento importante.

História de evolução
A presença dos destaques da seleção em grandes ligas europeias é uma novidade na história recente japonesa, fruto da aplicação de uma filosofia de fortalecimento das ligas e de formação de atletas. Na Copa de 2002, quando foi uma das sedes e fazia sua segunda participação em Mundiais, o Japão usava apenas quatro nomes que atuavam fora do país. Vinte anos depois, no Catar, eles eram maioria (19).

Três anos depois daquele Mundial de 2002, no qual os japoneses caíram nas oitavas de final para a Turquia, a federação do país (JFA) divulgou um documento histórico. A “Declaração da JFA: sonhar com coragem para alcançar” falava em evoluir e aproximar o futebol da sociedade. E estabelecia dois compromissos ousados: em 2015, o Japão seria uma das dez maiores seleções do mundo e teria 5 milhões de torcedores. Já em 2050, acumularia 10 milhões de fãs, sediaria novamente a Copa do Mundo e a venceria. Naquela época, a J-League, liga profissional local, existia há 12 anos.

Hoje, o país é 15º colocado no ranking da Fifa e vem de um Mundial em que venceu Alemanha e Espanha na fase de grupos. E segue olhando para frente. Meses antes da Copa do Catar, a federação divulgou um novo documento, mais extenso, estruturando o “Japan's Way” (O jeito do Japão, em tradução livre), um projeto do que já é e do que será o futebol do país nos próximos anos.

Amor ao jogo e estudo de casos
Como filosofia, a ideia é promover a integração do futebol à sociedade, o amor ao jogo. Seja entre aspirantes à carreira profissional ou entre os que o praticam por hobby. A federação estudou os casos de Alemanha, Brasil, Espanha, Itália, Argentina, França e Bélgica. Uma medida prática é a criação de meios para formar técnicos e aumentar a rede de revelação de talentos como consequência. O documento também crava um perfil ideal do atleta japonês: alto Q.I. de jogo, adaptabilidade e flexibilidade, intensidade no um contra um defensivo e ofensivo, elevado nível técnico, tomada de decisão rápida e precisa, toque de primeira, capacidade física e trabalho duro.

A seleção deve focar em disputas de bola, transições rápidas, criatividade, equilíbrio ofensivo e defensivo e o “espírito samurai”. Já os jogadores “precisam pensar por eles mesmos, decidir e executar ações para que exerçam sua técnica. Essa é a verdadeira alegria de jogar futebol. Vamos desenvolver jogadores que amem o futebol até num nível de elite”, diz trecho do documento.

O resultado é uma geração de jogadores técnicos, inteligentes e com habilidades que o futebol japonês não tinha visto até então. São os casos, por exemplo, de Kubo, disputado por Barcelona e Real Madrid nas categorias de base, e de Kaoru Mitoma, atacante do Brighton-ING que dedicou sua vida universitária a desenvolver uma tese sobre os dribles, estudando os que ele mesmo aplicava.

O céu e a imprevisibilidade do futebol inspiram os próximos 25 anos da seleção japonesa. E o sucesso atual surpreende até os atletas.

— Não esperava que tudo ocorresse de forma tão tranquila. É o resultado do trabalho duro de todos. Sofremos nas últimas Eliminatórias, então fico muito feliz e aliviado desta vez — afirmou Kamada na última data Fifa.

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