Superação: após 6 anos de cama, mulher com doença rara vira nadadora profissional de águas abertas
A imunodeficiência primária (IDP) levou Anila Rindlisbacher a se entregar à natação e desafiar rios perigosos
Nascida de Monte Caseros, na Argentina, Anila Rindlisbacher sofreu, dos 36 aos 42 anos, uma internação domiciliar com sérias complicações respiratórias devido à imunodeficiência primária (IDP), uma doença rara e autoimune. Ela, então, começou uma jornada, em que a natação desempenhou um papel fundamental.
Até começar a sofrer os primeiros sintomas dessa doença, Anila Rindlisbacher levava uma vida bastante normal. Anila se formou em marketing aos 23 anos e tinha fundado sua própria empresa, em um escritório na sala de sua casa. Ela tinha saúde e vontade de "devorar o mundo". Começando do zero, a jovem conseguiu valores importantes, até que a doença a "tirou do jogo".
— Visitei muitos especialistas que me encaminhavam de um lugar para outro, mas demoraram seis anos para me dar um diagnóstico. Nesse tempo, eu não conseguia falar nem engolir. Eu me alimentava com líquidos, porque tinha todo o trato respiratório inflamado, com feridas e aftas que não cicatrizavam de jeito nenhum — lembra.
Anila teve que suportar o sofrimento até encontrar a imunologista Liliana Bezrodnik, que a diagnosticou com IDP. A paciente iniciou a recuperação e, após três anos de tratamento, começou a se sentir "mais ou menos bem".
— Quando me senti melhor, fui ver um traumatologista, porque, devido ao sedentarismo, minha cintura doía muito. Ele pediu alguns exames e me disse que não tinha nada importante, apenas uma grande contratura por ficar tanto tempo sem me mexer. Então, ele recomendou começar alguma atividade física como pilates, yoga ou natação. E eu escolhi a natação — conta Anila.
Leia também
• Mulher encontra 50 vermes vivos nos olhos crise de coceira
• Pacientes de câncer com origem em HPV sofrem com atraso no atendimento
• Esclerose múltipla: novo estudo destaca cinco sinais inéditos da doença
'Eu me senti livre'
Anila começou a nadar aos poucos, e em algumas semanas, começou a notar melhorias respiratórias significativas. Depois de alguns anos fechada em casa, ela ansiava por um pouco mais de liberdade, e esse desejo a levou a se aventurar pela primeira vez nas águas abertas do rio Uruguai.
— Após dois meses nadando, fiz a minha inscrição na travessia de águas abertas de 2,2 quilômetros de Liebig a San José, em Entre Ríos, sobre o rio Uruguai. Eu não tinha ideia do que era nadar em águas abertas, mas fiz e, pela primeira vez em muito tempo, me senti livre. Essa experiência me deu vida. Recuperei a confiança e, desde então, nunca mais parei — garante Anila, agora quase curada.
A natação foi o caminho a seguir, e Anila Rindlisbacher se dedicou a treinar, a ler e a pesquisar. Ela teve em mãos o livro de Agustín Barletti, "Hazaña en Gibraltar", que conta o percurso do autor ao atravessar a nado o curso do Estreito, sob a orientação de um dos melhores treinadores de águas abertas da Argentina. Pablo Testa é treinador principal de natação no Club GEBA e referência para nadadores interessados em travessias desafiadoras.
Depois de várias tentativas, Anila conseguiu entrar em contato com Testa, que concordou em vê-la nadar. Eles começaram a trabalhar juntos imediatamente e, pouco a pouco, ela se lançou em desafios ainda maiores.
A nadadora participou da travessia Salto-Concordia, que uniu Uruguai e Argentina com um percurso de cinco quilômetros; e da Concordia-Estancia Grande, também sobre o rio Uruguai, de dez quilômetros. Mais tarde, Anila realizou a travessia Villa Urquiza - Paraná, de 21 quilômetros, que completou em pouco mais de 3 horas, e participou de Concordia-Puerto Yerua, com 22 quilômetros sobre o rio Uruguai. Em novembro, ela fez a Travesía Rosa de dez quilômetros nas águas do Rio da Prata, onde teve que desafiar o frio e ondas intensas.
— A Travesía Rosa foi uma experiência muito boa, para apoiar e arrecadar fundos para mamografias para mulheres que não podem fazer o exame. Do ponto de vista esportivo, foi uma experiência que me tirou da minha zona de conforto, porque nunca havia nadado no Rio da Prata. As correntes são diferentes e exigem um pouco mais de força — detalha.
'Tento dar visibilidade'
Aos 52 anos, Anila Rindlisbacher é nadadora e palestrante, além de ser Embaixadora das Águas da ONG Iniciativa Alas, sediada no México. Para ela, nadar é importante para é divulgar e conscientizar sobre os sinais de alerta da imunodeficiência primária.
— A cada travessia que faço, tento dar visibilidade e, dessa forma, alcançar pessoas que estão em diferentes lugares da Argentina ou de países da região. Eles leem, ouvem ou veem que 'uma tal Anila, nadadora' conta os sinais de alerta que eles estão enfrentando e, então, vem me procurar nas redes. Eu não sei quem são essas pessoas, não as conheço, mas estou procurando por elas através das minhas nadadas. Isso pode mudar as suas e essa é a minha maior satisfação, minha maior conquista e meu propósito — reflete.
Em 2023, os desafios da nadadora foram na Argentina, mas, a partir do próximo ano, Anila quer participar de travessias em outros países. A Embaixadora das Águas planeja fazer a Travessia do Rio da Prata, em janeiro; a Passagem de Patria a Corrientes, de 35 quilômetros, em março; e a Travessia da Laguna Azul, no Peru, em maio. Para isso, Anila busca empresas possam acompanhá-la. As doações são feitas por meio da ONG Nadando Argentina, da qual ela faz parte.
— Gosto de me propor desafios que me tirem da minha zona de conforto. Não sou uma grande nadadora, mas sou perseverante e treino todos os dias. Faça chuva, calor ou frio. Deixo muitas coisas de lado: reuniões familiares, com amigos, saídas... é o custo de oportunidade que tenho que pagar para alcançar meus objetivos — conclui.
Fique atento
Existem alguns sinais do corpo que podem indicar uma imunodeficiência primária e, quando ocorrem com certa frequência e repetição, devem ser avaliados por um imunologista. Segundo a Fundação Jeffrey Modell, a população deve ficar atento a:
Quatro ou mais otites por ano;
Duas sinusites no ano;
Dois ou mais meses tomando antibióticos com pouca melhora;
Uma ou mais pneumonias em um ano ou ano consecutivo;
Dificuldades para crescer ou ganhar peso;
Um abscesso na pele;
Infecções por fungos (cândida/muguet) persistentes;
Necessidade de antibiótico endovenoso para curar uma infecção;
Uma ou mais infecções que requerem antibiótico endovenoso para cura;
Doenças hematológicas de causa não clara (anemia, trombocitopenia, etc.);
Diarreia persistente ou crônica;
Manifestações de autoimunidade não claras;
Antecedentes familiares de IDP.