EXCLUSIVA

Técnico do Português e da seleção brasileira de handebol, Cristiano Rocha analisa 2023 das equipes

Comandante também projeta disputa olímpica nos Jogos de Paris em 2024

Cristiano Rocha, treinador do Clube Português e também da seleção brasileira de handebol Cristiano Rocha, treinador do Clube Português e também da seleção brasileira de handebol  - Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

De armador central do time do Clube Português do Recife ao comando técnico da seleção brasileira feminina de handebol. Ao longo de mais de 20 anos de trajetória no esporte, Cristiano Rocha construiu mais que uma repleta coleção de títulos, moldando uma identidade que o faz reconhecido como uma referência no meio da modalidade.

Em entrevista exclusiva à reportagem da Folha de Pernambuco, o treinador faz uma balanço esportivo do ano de 2023, fala sobre o desafio de se manter no alto nível do esporte, mesmo longe dos grandes centros, e expressa a sua expectativa para os Jogos Olímpicos de Paris em 2024.    

O começo
Criado no bairro do Totó, na Zona Oeste do Recife, Cristiano Rocha foi introduzido ao handebol ainda na fase da adolescência. Atuando como armador na época de jogador, diz ter desenvolvido sua visão de jogo pela função que exercia em quadra, característica que transportou também para a área técnica.

Ocupando há 23 anos a posição de técnico, o recifense diz que seu início na beira da quadra foi de forma precoce. 

“Com 18 anos, comecei um projeto de escolinha numa associação no bairro de Jardim Planalto, e foi aí que comecei a me identificar com a parte de treinador. Com 20 anos, eu já trabalhava como técnico. Aos 23, consegui meu primeiro título nacional”, rememora.

Temporada no Luso 
No Clube Português do Recife desde 2004, ele coleciona conquistas que passam das divisões de base até a categoria profissional adulta. Entre as temporadas de 2021 e 2022, o time esteve entre os dois melhores do Brasil na disputa da Liga Nacional feminina. Mais recente, em 2023, o treinador sente que os resultados poderiam ser melhores. “Esse ano foi bem atípico, começamos muito bem, fomos bronze no Sul-Centro Americano, campeões nacionais aqui no Geraldão, mas a Liga Nacional deixou o gostinho amargo, porque a gente foi eliminado no saldo de gols e ficou fora do Final Four, acabando na sexta colocação”, analisa. 

Do Recife para o Brasil
O trabalho consistente do treinador o levou à seleção brasileira, onde escreveu sua história em capítulos que variam desde a função de auxiliar técnico na categoria júnior, até técnico principal do time adulto em 2021. A terceira temporada à frente da equipe foi repleta de competições importantes e confrontos difíceis. E a avaliação dele é positiva.

 “O desempenho é uma das coisas que mais me orgulham, sabia? Mais que os resultados. No Pan-Americano, fomos praticamente impecáveis e na final atropelamos a Argentina. No Mundial, acho que o desempenho também foi muito legal. Estamos criando uma identidade como equipe e mesmo quando a gente não ganha, conseguimos apresentar coisas boas”, diz o treinador que terminou o último mundial na nona colocação na tabela.

Antes de construir uma identidade de jogo, o técnico, porém, cita que ter um bom ambiente de trabalho é necessário, sendo responsável por manter atletas motivadas e confortáveis quando são apresentadas às ideias de jogo construídas. “Antes de entrar no quesito técnico, é preciso compreender a parte da gestão de grupo, e acho que me saio bem. Na parte mais técnica, tenho equipes que correm muito, defendem com agressividade, pressão e que trabalham bem a transição em contra-ataque. Tanto na seleção e no Português as pessoas identificam essas características”, declara, com orgulho. 

Fora do eixo
O centro do handebol está na Europa, onde estão as melhores ligas e as atletas brasileiras convocadas para o último Mundial atuam. Foi de lá que saíram os oito últimos melhores times colocados em 2023, inclusive. Mesmo analisando isso, Rocha se mantém firme nas suas raízes, apesar das propostas internacionais que chegam. “Eu sou um cara muito bairrista, gosto muito de dizer onde venho, porque sei da dificuldade que é sair daqui e crescer. Seja a área que for, a gente do Nordeste precisa 'dar um pouquinho a mais' para ter nossa visibilidade, então valorizo sempre minha terra”, começa. 

"Tive muitas propostas de fora de Pernambuco, mas desde que assumi a seleção, as propostas foram diferentes, recebi sondagens para treinar clubes de outros países. Mas nunca aceitei, porque tenho um trabalho muito identificado e acredito que conseguimos mobilizar muitas coisas para as atletas. Tenho cuidado porque sei que influencio muitas vidas, são muitas bolsas nos colégios e faculdades. Fico preocupado se um dia a gente optar por sair, como vai ser o futuro para essas meninas que dependem muito da gente", completa. 

Para ser treinador no handebol europeu e disputar a Champions League da modalidade, por exemplo, é necessário tirar uma licença específica. E o treinador diz estar perto de conquistar. "Estou terminando o curso de treinador de alto rendimento na Espanha, passei vários meses online, nas férias passei um mês lá e agora no meio desse ano apresento meu trabalho de conclusão de curso, podendo trabalhar em qualquer seleção e clube do mundo", explica. 

Trabalho intenso de pesquisa 
Dividindo a atenção diariamente entre o Clube Português e a seleção brasileira, o recifense precisa se desdobrar, acompanhar o máximo de ligas possíveis ao redor do mundo e contar com o apoio de uma equipe capaz de mapear todas as atletas com capacidade técnica de vestir a amarelinha. 

“Ser técnico da seleção e do Português realmente demanda muito trabalho. Mas, conto com staff lá na Europa e aqui. Quando eu estou viajando, meus auxiliares aqui no (Clube) Português seguem o trabalho. Tenho um grupo grande, multidisciplinar, com quatro treinadores e analistas de desempenho. É um trabalho realmente muito cansativo. A gente tem que estar buscando ter assinatura de tv de outros países, ter contato dos treinadores das jogadoras, conseguir gravação daquelas partidas que não conseguimos assistir ao vivo e é dessa forma que a gente acompanha", frisa.

Paris 2024
Acompanhando as Leoas desde 2015, o treinador vai para a sua terceira participação em Olimpíadas na capital da França. Em 2016 (Rio de Janeiro) e 2021 (Tóquio), Cristiano Rocha esteve presente como auxiliar. Desta vez, será técnico principal. 

“É diferente demais, você que dá as cartas finais. Quando está como auxiliar, você ajuda, dá sua contribuição, mas a palavra final é sempre do treinador. Estou muito ansioso para chegar o momento", ressalta. 

Assumir uma equipe que já conquistou o posto mais alto do pódio em um Campeonato Mundial tem sua responsabilidade. E ele responde sobre estar mentalmente preparado.

"Sabia que ia assumir um cargo de muita visibilidade. Vem dando certo, por mais que tenha algumas derrotas, os resultados estão sendo avaliados como bons. Mas mesmo assim, eu tenho muita tranquilidade porque sei muito bem o que a gente vem fazendo. Tenho muita convicção que erros vão acontecer, mas que temos uma diretriz e se algo der errado, são dentro das nossas convicções. Estou confiante no nosso trabalho e otimista nos nossos próximos passos", finaliza.

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