Análise

Temporada de 2021 deve ser divisor de águas da história da Fórmula 1

Título inesquecível de Max Verstappen é a cereja do bolo de transformações que ocorrem no sentido de retomar a popularidade da categoria

Cumprimento entre Max Verstappen, da Red Bull, e Lewis Hamilton, da MercedesCumprimento entre Max Verstappen, da Red Bull, e Lewis Hamilton, da Mercedes - Foto: Gabriel Bouys/Pool/AFP

A Fórmula 1, durante décadas, foi como o cinema de arte europeu. Mais clássico, lento, baseado nas interpretações, com inovações voltadas para o abstrato. Atingia muito bem um nicho, mas se fechava nele, como se o que ocorresse ao redor não importasse. Salas de projeção um pouco vazias não eram sinal de desprestígio, mas sim de qualidade. Quanto mais um público "qualificado", melhor.

A Liberty Media adquiriu os direitos da modalidade automobilística em 2016 e desde então resolveu transformá-la em filme blockbuster, um processo gradual, que chegou ao ápice neste domingo, com o título histórico de Max Verstappen.

A temporada de Fórmula 1 de 2021 tem tudo para entrar para a história, daqui a décadas, como um divisor de águas da modalidade. A transformação definitiva da corrida de carros, do conservadorismo europeu para o frenesi de adrenalina, para a injeção de euforia que os filmes da Marvel injetam nos mais jovens e que abarrotam salas de cinema no mundo inteiro.

O papel da Liberty nisso tem sido crucial. Ela entendeu o mundo de hoje, o que move a audiência da geração Z, e sua realidade de multitelas, sua impaciência para qualquer coisa que resvale na contemplação.

Houve um incremento massivo da atuação da Fórmula 1 nas redes sociais, e a formação de discussões intermináveis na rede, debates que geram o engajamento. As portas abertas para o documentário "Drive to Survive" estimulou a criação de narrativas que supervalorizam as corridas, as rivalidades, as crises de relacionamento, os dramas humanos. Os pilotos de Fórmula 1 passaram a ser personagens de um reality show extremamente bem feito, em termos de audiovisual.

Os astros da Fórmula 1 ganharam aspectos humanos mais claros. O esporte virtual cresceu e a Fórmula 1 real abraça a modalidade, estimula os cruzamentos entre os dois mundos, com pilotos do grip participando de competições no videogame. É um estreitamento absurdo do competidor com um público que antes não tinha acesso a eles.

Novidades foram gradativamente implementadas nas corridas, para aumentar a competitividade. O número de ultrapassagens. Este ano, a realização de etapas com a corrida sprint, além da prova normal, foi mais uma alternativa que a organização apresentou ao público. Em vez de uma corrida por fim de semana, duas. Se é a corrida que o povo realmente gosta, por que não oferecê-la mais? É a lógica pura e simples do entretenimento. Audiência primeiro.

Tudo isso teve a sorte de encontrar em 2021 dois pilotos geniais, de equipes diferentes, com carros muitos semelhantes, em termos de desempenho, e um aspecto muito importante, em termos de atratividade, empatia: são representantes de gerações bem diferentes.

Lewis Hamilton contra Max Verstappen foi como ter a velha Fórmula 1 competindo com a nova. Ela opôs fãs fiéis da modalidade com uma nova geração destemida como o próprio piloto holandês. A vitória foi do novo. Para o roteiro de Hollywood escrito na temporada, qualquer um dos dois finais possíveis seria apoteótico. Para a renovação da audiência sonhada pelos americanos da Liberty desde 2016, Verstappen ser campeão é a melhor cereja do bolo possível.

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