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Tragédia

Torcedor morre em confronto em jogo na Argentina

César Regueiro teve uma parada cardíaca enquanto era transferido do estádio para um posto de saúde; no tumulto, polícia reprimiu torcedores com balas de borracha e gás lacrimogêneo

Tumulto no jogo entre Gimnasia y Esgrima e Boca Juniors, no estádio Carmelo Zerillo, resultou em uma morteTumulto no jogo entre Gimnasia y Esgrima e Boca Juniors, no estádio Carmelo Zerillo, resultou em uma morte - Foto: ALEJANDRO PAGNI / AFP

Um torcedor morto por parada cardíaca é o trágico balanço preliminar dos graves incidentes que na quinta-feira (6) causaram a suspensão do jogo entre Gimnasia y Esgrima e Boca Juniors, no estádio Carmelo Zerillo, em La Plata, pela Liga Profissional-2022 do futebol argentino. 

O jogo foi suspenso aos 9 minutos do primeiro tempo devido a graves distúrbios ocorridos fora do local que afetaram o desenvolvimento da partida disputada no estádio Carmelo Zerillo, cerca de 50 quilômetros ao sul de Buenos Aires. 

"Confirmo que há uma pessoa morta. Essa pessoa morreu de parada cardíaca", disse Sergio Berni, ministro da Segurança da província de Buenos Aires.

As autoridades do hospital San Martín de La Plata confirmaram a morte de César Regueiro, 57 anos, devido a uma parada cardíaca enquanto era transferido do estádio do Gimnasia para um posto de saúde. Um cinegrafista do canal esportivo TyC foi ferido por balas de borracha e dezenas de torcedores tiveram que ser levados para hospitais devido ao gás lacrimogêneo, segundo relatos da mídia local. 

O jogo foi cancelado até segunda ordem "por falta de garantias", segundo o árbitro Hernán Mastrángelo, minutos após os jogadores e comissão técnica se retirarem para o vestiário. 

"A realidade é que não tínhamos integridade física para continuar a partida, isso afetou a todos em campo, o ar ficou irrespirável. A situação saiu do controle e não havia garantias de segurança", acrescentou o árbitro.

Os incidentes começaram com travessias violentas na periferia do estádio, quando a polícia reprimiu com balas de borracha e gás lacrimogêneo os torcedores que lutavam para entrar em um estádio já lotado. A partida foi a mais importante na data 23, a quatro dias da final, com o Gimnasia jogando a última chance de lutar pelo título em casa, enquanto o Boca buscava uma vitória para voltar ao topo do campeonato. 

"O que ia ser uma festa acabou nisso, o que aconteceu magoa todos nós, é horrível e nós lamentamos", disse o técnico do Boca Juniors, Hugo Ibarra, a jornalistas.

"É muito amargo"

Com o estádio lotado, os incidentes começaram quando as pessoas continuaram chegando decididas a entrar, muitas delas com ingressos válidos, segundo as autoridades locais.

Detonações foram ouvidas no estádio e a fumaça do gás chegou rapidamente ao campo do jogo. Os jogadores, o árbitro e os membros do corpo técnico tiveram que sair rapidamente do campo, ao mesmo tempo que os torcedores entravam em campo em busca de uma saída e ar mais fresco, uma vez que os acessos estavam fechados. 

No futebol argentino, as partidas da Liga são disputadas sem o público visitante, o que não impediu que alguns integrantes do time do Boca ajudassem os torcedores rivais com água.

“A primeira coisa que vi foram as pessoas que começaram a sair das arquibancadas e comecei a sentir o que o gás causa. Pensei na minha família e comecei a me preocupar. Estou com raiva de tudo o que aconteceu", disse Nicolás Contín, jogador do Gimnasia, enquanto carregava seu filho pequeno nos braços horas após a suspensão do jogo, ainda no vestiário. 

A Associação Argentina de Futebol (AFA) emitiu um comunicado no qual "repudia veementemente os eventos publicamente conhecidos que ocorreram hoje nas proximidades do estádio Gimnasia y Esgrima La Plata" e expressou "seu compromisso de continuar trabalhando para erradicar essa classe de episódios que mancham a festa do futebol”.

Enquanto isso, Eduardo Aparicio, chefe da agência que previne a violência em estádios na Argentina, lamentou os incidentes.

"É muito amargo, tudo está sob investigação, sob as ações da polícia. Os incidentes começaram de fora para dentro, ao redor do estádio havia 10.000 pessoas querendo entrar, alguns tinham ingressos, outros não. Todo mundo viu como estava o campo, não havia espaço para um alfinete".

"O jogo não será disputado (na sexta-feira) de forma alguma", acrescentou. 

Segundo estatísticas da ONG Salvemos al Fútbol, os confrontos dentro e fora dos estádios produziram mais de 300 mortes na Argentina desde que o futebol se profissionalizou no país sul-americano na década de 1930, embora dois terços das mortes tenham ocorrido a partir da década de 1990. 

Antes da violência desencadeada na periferia do estádio de La Plata, dois jogos foram disputados, com a vitória do Argentinos Juniors como visitante por 4 x 0 sobre o Lanús e do Huracán por 1 x 0 sobre o Talleres de Córdoba.

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