Torcedores da Coreia do Sul sofrem no Catar com disparada da moeda local frente ao won
Rial catari disparou 9% em relação à divisa sul-coreana, pegando turistas de surpresa. Japoneses e britânicos também enfrentam perdas no câmbio
A surpreendente ida da Coreia do Sul para a fase de mata-mata na Copa levou euforia à torcida e arrancou lágrimas dos jogadores. Mas, ao acompanhar sua seleção no jogo contra o Brasil nesta segunda-feira (5), os coreanos que foram ao Catar terão uma matemática muito mais complicada para lidar do que as chances de seguirem na Copa do Catar.
Para muitos, a viagem pode se tornar bem mais cara do que o imaginado - e não só porque a seleção está avançando no campeonato. A moeda sul-coreana foi uma das que mais perdeu valor frente ao rial de Catar este ano.
Ficou quase 9% mais caro, para quem recebe salários no won sul-coreano, pagar qualquer coisa em rials - das diárias do hotel a um simples refrigerante que, diga-se de passagem, já tinham preços estratosféricos no país sede da Copa.
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"Planejar minha viagem para a Copa do Mundo foi financeiramente extenuante" afirma Choung Jongchan, um vendedor de eletrônicos de 32 anos que começou a organizar sua ida da Coreia do Sul ao Catar há cerca de um ano.
O rial tem sua cotação atrelada ao dólar, e a moeda americana subiu com força frente às principais divisas globais após o banco central dos EUA ter elevado, este ano, sua taxa básica de juros ao maior nível desde 2017.
Mesmo quem se planejou com antecedência, como Choung, não conseguiu evitar os preços mais altos com o rial valorizado.
"Alguns hotéis exigiam que o pagamento fosse feito seis dias antes da data do check-in. Então, mesmo que você tivesse feito a reserva meses antes, acabaria pagando um valor maior agora devido à cotação mais alta do riyal" explica Choung.
Tomar uma cerveja também pesa muito no bolso. O álcool é proibido no Catar, mas os visitantes podem comprar uma garrafa de Budweiser em locais específicos por cerca de 50 riais (US$ 13,60), quase 10 vezes o preço do mesmo produto em uma loja de conveniência na Coreia do Sul.
Conseguir as entradas para as partidas foi um desafio à parte. Choung conta que passou várias noites em claro, tentando comprar os ingressos para os jogos, cujos lotes de vendas eram liberados de madrugada. Insatisfeito com os assentos que conseguiu, ele acabou vendendo seus ingressos em troca de lugares melhores mesmo pagando 5% de comissão na plataforma oficial de revenda.
"Gastei quase 2 milhões de wons (US$ 1.538) no cartão de crédito" conta.
O também sul-coreano Im Sung Min, um vendedor de acessórios para celular de 29 anos, disse que, embora tenha tido sorte de ter feito a maioria de suas reservas antes da alta do dólar, ainda planeja levar comida e suprimentos para os jogos “caso não consiga comprá-los no local.”
Mas é claro que, na hora que a bola rola, o torcedor esquece o bolso e foca no futebol.
"Eu não perderia o que poderia ser a última Copa do Mundo para as estrelas do futebol Son Heung-min, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo" acrescentou Choung.
Para os turistas japoneses, acostumados a uma economia que há décadas convive com inflação baixíssima ou mesmo deflação, os preços na sede da Copa do Mundo são um choque ainda maior. O iene atingiu uma baixa de três décadas em relação ao dólar em outubro. Já o rial subiu 17% frente ao iene este ano.
"Uma pequena garrafa de água custa cerca de 400 ienes (US$ 3), e a Coca-Cola custa cerca de 600 ienes, isso é um grande fardo - disse Kazunori Takishima, de 46 anos, proprietário de uma empresa imobiliária em Tóquio."
Ele esperava pagar entre 25 e 30 ienes por rial durante sua viagem, mas, em vez disso, enfrentou uma taxa de 35 a 40 por rial.
O Catar adotou medidas para aliviar os custos crescentes, proibindo qualquer revenda de passagens no balcão e gerenciando valores de acomodação por meio de um site oficial.
O transporte público e a conexão à internet são gratuitos para os visitantes portadores do cartão Hayya, uma identificação dos torcedores portadores de ingressos para a Copa do Mundo. Ainda assim, tais esforços não foram suficientes para compensar a força da inflação e do dólar valorizado.
Para evitar que o custo dos ingressos subisse em termos de libras britânicas, Aminoor Rashid, um funcionário da autoridade tributária do Reino Unido de Newton-le-Willows, perto de Liverpool, pediu a seu amigo de Doha que os comprasse as entradas em seu nome em julho. Este ano, o rial já subiu 10% frente à libra britânica.