Tragédia com avião da Chapecoense completa cinco anos em meio à dor e espera por indenização
Meia década após acidente, familiares tentam superar perdas e lutam por reparação
Há cinco anos, o futebol brasileiro viveu sua maior tragédia. O avião da empresa La Mia, que transportava a delegação da Chapecoense para a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional/COL, caiu no dia 28 de novembro de 2016 (no Brasil, era madrugada do dia 29), ao se aproximar do Aeroporto José Maria Córdova, em Rionegro, perto de Medellín, na Colômbia. As investigações apontaram que a queda se deu por pane seca (falta de combustível). Ao todo, 71 pessoas morreram e seis ficaram feridas. Para os familiares das vítimas, a saudade não tem fim. O que eles querem, porém, é que “eternidade” não seja também a palavra que represente a espera pelas indenizações.
Dois pernambucanos estavam no voo: o meia Cleber Santana e o atacante Kempes. O primeiro, natural de Abreu e Lima, jogou pelo Sport, além de ter passagens por Santos, São Paulo, Flamengo e clubes da Espanha, como Mallorca e Atlético de Madrid. O segundo, de Carpina, da Zona da Mata Norte, atuou por Ceará, Vitória e equipes do Japão.
Família cobra Chapecoense
A Folha de Pernambuco conversou com a viúva de Cleber Santana, Rosângela Loureiro, sobre a luta pelas indenizações."Participo de um grupo no Whatsapp com outros familiares das vítimas. Ninguém recebeu dinheiro. Muitos passam necessidade porque dependiam dos jogadores. O clube (Chapecoense) e as seguradoras não querem pagar ou, em alguns casos, fazem propostas absurdas. Se eu fosse depender deles, passaria fome", revelou. Procurada pela reportagem, Vanessa Gonçalves, viúva de Kempes, optou por não conceder entrevista.
De acordo com Alan Belaciano, que defende a família de Cleber, o Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, de Santa Catarina, deu parecer favorável a uma ação trabalhista movida pelos familiares do atleta contra a Chapecoense. Com isso, o clube foi comunicado que deveria pagar R$ 6,5 milhões de indenização. A instituição, contudo, pode recorrer no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Dívida bilionária está travada
Além da Chape, familiares cobram indenizações da companhia áerea boliviana LaMia, a seguradora britânica Tokio Marine Kiln, a resseguradora boliviana Bisa e a corretora britânica AON. Há processos tanto no Brasil como na Bolívia, Colômbia, Inglaterra e Estados Unidos. Na Flórida/EUA, a Justiça definiu, em setembro de 2020, que deveria ser paga, por corretora, seguradora e resseguradora, uma indenização de 800 milhões de dólares (R$ 4.471 bilhões, na cotação atual). Todavia, uma ação movida em Londres/ING, pela Tokyo Marine Klin, paralisou o processo.
Em dezembro de 2019, o Senado Federal instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a situação das famílias das vítimas do acidente aéreo da Chapecoense. Com prazo original de 180 dias, e presidida pelo senador Jorginho Mello (PL-SC), ela foi suspensa em março do ano passado, por conta da pandemia da Covid-19. Neste mês, a CPIChape, como é chamada, retomou os trabalhos, ouvindo, na última quinta, Celia Castedo Monasterio, controladora boliviana responsável pela análise e aprovação do plano de voo da LaMia 2933. A funcionária estava foragida desde a tragédia, mas foi presa pela Polícia Federal, em setembro, no Mato Grosso do Sul.
O que não pode ser pago
Marinalva Santana, mãe de Cleber Santana, vive em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Os cinco anos após o acidente não foram suficientes para minimizar a dor da perda. Algo que indenização alguma pode trazer. "Basta falar dele que eu começo a chorar. Tenho muita saudade. De vez em quando, acordo de madrugada e pego uma foto dele. Vejo Clebinho e Aroldo (netos) querendo seguir a carreira do pai e tenho certeza que ele está orgulhoso".