Cena musical pernambucana trilha caminhos Brasil afora

Ora por falta de incentivo, ora por 'necessidade' de expansão de suas obras, artistas locais migram para palcos fora do Estado

Cantor e compositor Paulo Neto - José de Holanda/Divulgação

Gabi da Pele Preta é revolucionária no que brada (como pessoa) e no que faz (como artista), ora nos palcos de Caruaru, sua terra, ou nos do Recife e do Brasil adentro. “Precisamos fazer o caminho por fora”, justifica ela, quando questionada sobre os poucos espaços locais para divulgação do trabalho de uma cena cultural pernambucana, cada vez mais pungente “pelas bandas de cá”, mas que, não raras as vezes, aparecem bem mais “pelas bandas de lá”.

E eis que se abrem questionamentos sobre a ida de "artistas da terra" para outros redutos fora do circuito doméstico. Cidades como São Paulo, por exemplo, são acolhedoras contumazes de nomes de peso de nossas musicalidades, que por vezes se tornam grandiosas demais e, portanto, com "obrigação" de serem amplificadas geograficamente.

Há pelo menos onze anos, o cantor e compositor Paulo Neto, respira ares paulistanos. De Condado, na Zona da Mata do Estado, ele migrou com suas letras e canções para outras possibilidades na "terra da garoa". "São Paulo oferece mais palcos e diversidades de públicos que querem consumir outras coisas. Artisticamente eu me senti mais acolhido", ressaltou Paulo, confessando saudosismo em relação ao amparo da família, mas nada que é resolvido quando circula por terras pernambucanas".

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Já me adaptei ao jeito e ao tanto de conhecimento que a cidade (de SP) me proporciona. Estar perto da família é um pensamento que paira sempre, mas ainda não me faz pensar em voltar", completa o artista.

Assim como Paulo Neto, a caruaruense Isabela Moraes - que se apresenta neste sábado, ao lado de Bruna Caram, no Café Liberal 1817 (Bairro do Recife) - está fora das trincheiras do Agreste há algum tempo. Embora afirme ter moradia "onde exista possibilidade de sua música estar", inclusive no Recife, por onde "de vez em sempre" ela circula. Conhecida por composições fortes, que exalam, inclusive, o que sente e vive, é em São Paulo que ela apresenta efervescências nordestinas em poesias, letras e canções.

"A receptividade com a minha música, o meu sotaque, com a forma como eu enxergo a própria cidade e a traduzo, fez dela (SP) minha cidade-mãe", contou a artista. Para ela, a grandiosidade de artistas como Almério, Flaira Ferro, Jana Figarella e Gabi da Pele Preta, entre outros (tantos) nomes, também é justificativa para que suas obras sejam mostradas em outros palcos. "Ficaram maiores do que a própria arte, e precisam expandir os trabalhos. O mundo precisa conhecer e abraçar", completa.