Polarização política elevará inflação argentina, diz especialista

A derrota do governo por 47,6% a 32% levou os mercados a inquietar-se pela manhã

Bandeira da Argentina - El Caminante/Pixabay

A 76 dias do primeiro turno das eleições presidenciais e legislativas, o cenário político e econômico argentino encontra-se em convulsão. Embora as pesquisas, os eleitores e o mercado esperassem uma vitória da chapa de centro-esquerda do kirchnerista Alberto Fernández sobre a de centro-direita do atual presidente, Mauricio Macri, ninguém previu uma distância tão dilatada.

A derrota do governo por 47,6% a 32% levou os mercados a inquietar-se pela manhã. O dólar, que havia fechado na sexta-feira em 46,55 pesos, disparou para 61, no meio da manhã. Depois de uma intervenção do Banco Central, aumentando a taxa de juros para 74%, caiu um pouco, para os 56 pesos, com o qual fechou.

Na cidade portenha, as casas de câmbio tiveram uma manhã inusual. Poucas pessoas comprando, mas muitas indo de uma casa a outra e tirando fotos das variações do valor da moeda.

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"O mercado esperava a vitória do kirchnerismo e já trabalhava com a ideia de um dólar em torno ou um pouco acima dos 50 pesos a partir de hoje. O que não se esperava era o tamanho da derrota do governo. Surgem, então, outras perguntas. O mercado agora não quer respostas deste governo, porque já considera que estará fora em 10 de dezembro, e sim de Alberto Fernández. Querem saber dele agora qual será sua política econômica, que fará com a dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e quem será seu ministro da economia", disse à reportagem o analista econômico Fausto Spotorno.

Para o especialista, "o ideal agora era que governo e oposição se sentassem para conversar e garantir a governabilidade nesse período que falta até o resultado final. Mas isso não parece que vá acontecer por conta da polarização política. Se for assim, o mais lógico é que a inflação aumente no curto prazo", completou.
Enquanto isso, as ações das empresas argentinas em Wall Street caíram 56%.

Repercussão Política
O primeiro integrante do governo a sair a dar declarações foi o ministro do Interior, Rogelio Frigerio, que disse que a "oposição tem a obrigação de nos ajudar a garantir a governabilidade até o fim do mandato", e que o governo "irá fazer tudo o que for possível para reverter esse resultado".

Macri, na noite de domingo, não telefonou para Fernández, quem o fez foi Frigerio, parabenizando o opositor e fazendo um convite ao diálogo.

Do lado do kirchnerismo, porém, por enquanto não houve a demonstração de que esteja disposto a essa colaboração. Fernández deu apenas uma entrevista a uma rádio local, criticando Macri por não estar tomando medidas para conter o desabamento da economia. E que isso dava a sensação de uma chantagem política, "quer fazer pensar que, se não governa ele, a Argentina não pode ser governada. O presidente deveria pensar mais no país do que em sua candidatura. Agora se vê num cenário ao qual não sabe como dar resposta", disse Fernández.

Já sua candidata a vice, Cristina Kirchner, chegou a Buenos Aires, vinda de sua casa em Río Gallegos, na Patagônia, no meio da manhã. Foi recebida por um coro de "vamos a volver" (vamos voltar), o canto de guerra dos kirchneristas para esta eleição. A maioria dos que cantavam eram funcionários do setor aeroviário, que vêm realizando greves pontuais, reivindicando que seus salários acompanhem a inflação.