Entre o adeus e o avante: Johnny Hooker se despede de "Coração" no Recife

O artista pernambucano é o nome da edição de 7 anos da festa Odara Ôdesce, que rola neste sábado (17), às 20h, na Cachaçaria Carvalheira

Johnny faz show na festa Odara Ôdesce - Lívia Tostes/Divulgação

Johnny Hooker escolheu a sua terra para fechar um ciclo marcado por brilho, efeito das suas realizações e confirmações. A turnê do álbum "Coração" (2017), o segundo do cantor, será encerrada neste sábado, em momento também especial para amigos seus, leia-se Allana Marques, Lucas Logiovine e Lala K, que celebram os 7 anos da festa Odara Ôdesce, na Cachaçaria Carvalheira.

"Se não fosse aqui, o povo me matava (rs). A galera pediu para ter. Vai ser lindo. A gente já fez esse show no ano passado, com ingresso esgotado, público emocionado", contou o pernambucano em entrevista à Folha de Pernambuco, lembrando da sua última apresentação por aqui, dentro do projeto Budweiser Basement, em julho de 2018, no mesmo local. 

Lala K e Allana Marques convocaram o artista para o aniversário da Odara - Crédito: Felipe Lorega/Divulgação

Desta vez, Hooker faz valer a máxima entoada na música "Touro", segunda faixa do trabalho. "Viver, morrer, renascer" marca este momento: o artista despede-se de um disco gestado com muita dedicação, vivido intensamente, e já trabalha nas produções para o próximo. "Foram dois anos lindos, de muitos presentes imensos que eu nunca imaginei", declarou.

Morando em São Paulo há três anos, ele chegou à Capital pernambucana no começo da semana, no desejo de pôr fim à saudade, vendo as suas pessoas, o seu sotaque e os seus lugares. Aquele Recife gigante de sentidos que aparece de corpo e alma no seu primeiro álbum, "Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, Maldito!" (2015), responsável por garantir ao músico o Prêmio da Música Brasileira na categoria Canção Popular- Cantor.

Johnny Hooker - Crédito: Murilo Yamanaka Studio/Divulgação

 

"Coração" deu a Hooker o passaporte para as suas duas primeiras turnês internacionais e o colocou numa posição de representação ainda maior entre o público LGBT com a canção "Flutua", dueto com Liniker. Também cumpriu uma missão decisiva na carreira. Cravou, de uma vez por todas, o seu nome na cena nacional. Era difícil imaginar que viria outro trabalho tão redondo, com uma estética tão alinhada e, paradoxalmente, marcado pela diversidade de ritmos e construções.

Johnny conseguiu, contando também uma história, que atraiu não só pela felicidade, mas pela tristeza. E só o fez ao olhar para dentro de si. E passou a tornar coletivas situações pessoais. Parece mesmo que este é o seu dom: partilhar emoções, "cutucar" os sentimentos. "Foi um sonho. Eu nunca imaginaria, porque o 'Macumba' já tinha sido aquela explosão, as pessoas já tinham gostado muito. Mas o 'Coração' realmente transformou algumas vezes mais. Poder viajar o mundo com este disco e, enfim, ter esses momentos que eu vou carregar para sempre", conta.


É inegável o caráter combativo de "Coração". Ao passo que levanta a bandeira do "Amar sem temer", numa clara referência a bordões políticos que circulavam à época do governo Michel Temer, também faz uma ode ao que o Brasil tem de bom, a exemplo de Caetano Veloso, com música que leva o nome do artista baiano. "Foi um grito ali naquele momento, em que a gente estava se sentindo acuado, estava vendo todos aqueles absurdos acontecerem. Estava todo mundo meio perplexo. Fazer aquele disco foi meio assim: 'vamo simbora, a gente está junto'. A gente resiste", explica.

Não há como não criar expectativas em relação ao que está por vir, principalmente depois do primeiro single divulgado, já em clipe, no último dia 8. "Escolheu a pessoa errada para humilhar" é o lado pop do novo álbum, cujos nome e data de lançamento ainda são desconhecidos. "Eu queria lançar este ano ainda, mas não sei se vai dar tempo. Estou trabalhando para isso", adianta. Segundo Hooker, a música é a que menos se parece com o resto do trabalho, com uma pegada de forró, também forma de reverência a seus avós sertanejos, que sempre lhe cobraram a presença do instrumento que tem a cara do Nordeste.


A escolha da música para introduzir as divulgações foi muito pensada. Deveria mesmo seguir pelo caminho das alegrias e superações. "Eu queria começar pelo lado da festa, da pista, da superação, da gente. Também falo do reencontro com o autoamor, dos relacionamentos abusivos. Lógico que tem uma sombra política nisso também, mas essa galera sequestra tanto a pauta. Falam besteiras todos os dias, e só o que você consegue conversar é sobre isso", justifica.

O público pediu e Johnny não tinha como negar. O novo single será entoado com gostinho de estreia na Odara. "Vamos sentir a energia do povo", revela. E sentencia: "Eu não poderia estar mais feliz. As pessoas podem esperar tudo de mim, como sempre, mas mais emocionante".