Desnutrição e obesidade

Duas condições que acarretam problemas de saúde

Obesidade pode ter várias causas - Abeso/Divulgação

Em dezembro passado a ONU realizou, em Bangkok, um evento que reuniu 500 pesquisadores em nutrição. As conclusões não foram animadoras. A prevalência da desnutrição e do excesso de peso ainda apresenta níveis alarmantes. O que também preocupa é a falta de perspectivas de melhoria no curto prazo.

Ao contrario, com que acontece com as pessoas com excesso de peso, o número de desnutridos tem diminuído. Porém, a diminuição acontece em velocidade muito menor do que seria desejável.

De acordo com as atuais estatísticas disponíveis, são quase 900 milhões de pessoas diagnosticadas como desnutridas. Ou seja, pessoas que dispõem de menor quantidade de alimentos do que seria recomendável.

Tanto sobre o ponto de vista calórico como também e principalmente na qualidade dos alimentos.

Obviamente, esta condição é muito mais prevalente nos países pobres. Além disso existe um outro fato que a falta de recursos acarreta .Além de uma ingesta de menor quantidade de calorias , pouco consumo de proteínas e vitaminas. A razão disso é que os alimentos mais saudáveis são mais caros.

Nas ultimas décadas, o preço dos carboidratos aumentou muito menos do que o das proteínas, das frutas e das leguminosas. Uma outra dificuldade para o consumo de proteínas é a suas perecibilidade. Existe necessidade permanente de refrigeração. O número de geladeiras nos países mais pobres é muito diminuido. Na India, por exemplo, só 24% das residências têm geladeira.

Felizmente, a situação quanto ae ste problema é muito melhor no Brasil. Afinal, depois da televisão, a geladeira é o eletrodoméstico mais comum na casa dos brasileiros. Sendo assim, acredita-se que a grande diminuição dos casos de desnutrição só ocorrerá uma melhora substancial, na desigualdade econômica dos países.

Por outro lado, o excesso de peso na população é um problema ainda mais grave. O número de pessoas que estão com cifras ponderais acima do desejável é maior do que o de famintos. E, ao contrário do que acontece com a desnutrição, essa população não para de crescer.

Acredita-se que hoje no mundo, existam mais de 2 bilhões de pessoas com excesso de peso ou obesidade. Isso acontece porque nossa gordura é o nosso tanque de combustível. Todo o alimento ingerido, satisfeitas as necessidades básicas, é armazenado como gordura.

Nosso metabolismo consome energia a cada segundo para o seu funcionamento. As calorias são fornecidas pelos alimentos e como não nos alimentamos continuamente precisamos de uma reserva energética para ser utilizada nos intervalos das refeições.

E por que cada vez mais pessoas têm mais combustível armazenado do que deveriam? As razões são diversas: A quantidade de alimentos disponível para os não pobres nos países desenvolvidos é cada vez maior. Por outro lado, o gasto calórico na sociedade atual é cada vez menor. para realizarmos as nossas atividades rotineiras.

Temos o automóvel, o elevador, o computador, o controle remoto, o telefone celular etc. Todos eles contribuem para diminuir o nosso gasto de calorias. Como resultado, a maior sobra que é armazenada como gordura.

Por outro lado, o preço dos alimentos também é um fator que contribui para população aumentar de peso. Nas sociedades desenvolvidas, o segmento da população que consome mais carboidratos, açúcares, cereais é o menos ricos. E este tipo de alimento é o mais engordativos. É por isso que o excesso ponderal é mais comum nesse grupo econômico.

O pouco gasto calórico e o tipo de alimentação explicam o grande pre­valência do aumento do excesso de peso na população?? Explicam, mas não tudo. Caso estas fossem às únicas explicações, todas as pessoas que vivem nessas condições teriam mais gordura armazenada, excesso de peso ou obesidade. E isso não ocorre.

A maioria da popula­ção ainda não tem sobre peso ou obesidade. Além disso, existe uma di­ferença no metabolismo. Como explicar que pessoas com as mesmas condições dietéticas e de atividade física, umas que têm tendência a engordar e outras não. A medicina ainda desconhece como isso ocorre. A ciência médica ainda está em grande dívida com as gordinhos.

*É endocrinologista e escreve quinzenalmente neste espaço