Envelhecimento ativo: a redescoberta da liberdade

Iniciativas buscam ressignificar a velhice possibilitando à população idosa uma vida ativa e uma nova função social

Lucimar Muhlert mudou sua vida com as artes cênicas - Léo Malafaia/Folha de Pernambuco

As modificações estruturais verificadas na sociedade brasileira e a controversa discussão da reforma da Previdência voltaram os olhos do País para os assuntos relacionados ao envelhecimento. A expectativa de vida no Brasil tem crescido exponencialmente ao longo dos anos. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 1940 o brasileiro vivia em média até os 30,5 anos.

Já em 2019 essa expectativa subiu para 80 anos para mulheres e 73 anos, para os homens. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), envelhecer com qualidade deve ser uma prioridade global. Por isso, iniciativas como a programa Envelhecimento Criativo surgem com o compromisso de ressignificar a velhice, buscando nova função social para essa população. 

Idealizadora do projeto, a arte-educadora Emanuella de Jesus explica que os trabalhos tratam o envelhecimento como um processo e, também, um resultado de tudo o que se fez na vida. “Muitos idosos, por consequência de suas vivências, chegam com problemas relacionados à depressão, como a tristeza e a baixa autoestima. Ao longo do trabalho, percebo como eles vão se fortalecendo”, ressalta.

[VÍDEO] Confira a reportagem abaixo sobre o Envelhecimento Ativo



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Há sete anos, Helena Batista, 94, integrou o grupo de teatro Criativ’Idade. Antes de se descobrir atriz, fez coral e dança. Todos os anos a aposentada desfila no Bloco das Ilusões. É o principal exemplo para o grupo e seus três filhos, cinco netos, 16 bisnetos e seis tataranetos. “O teatro rejuvenesce”, confessa. Assim como na vida, a aposentada redobra a atenção para não perder as deixas no palco. “Fiz atividades físicas até os meus 70. É preciso levar uma alimentação correta para não ter doenças”, indica ela, que se diz ansiosa para outros carnavais.

Após uma isquemia - obstrução de vaso sanguíneo, que pode resultar em infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou até trombose -, a pensionista Lucimar Muhlert, 71, se viu dependente dos filhos. “Achava que depois da minha doença, a velhice tinha chegado e só estava esperando que ‘Papai do céu’ me levasse”, conta. As artes cênicas devolveram a Lucimar o desejo de viver bem. “Faço yoga em casa, procuro uma alimentação mais saudável, com frutas, verduras, evitando as frituras. Me sinto feliz e não tenho vontade de deixar o teatro.”

Desde 2011, Emanuella de Jesus trabalha com o ensino do teatro para idosos. A aversão aos métodos ortodoxos levou a educadora a desenvolver uma metodologia que valorizasse a trajetória de seus alunos e ajudasse na construção de um envelhecimento sustentável: a Poética da Dramaturgia de Pertencimento. Um processo criativo que recupera “arquivos de memória do esquecimento” e pensa a prática teatral para além dos textos decorados. Na prática, são utilizados jogos que ativam a mobilidade, os sensos de direção, equilíbrio e recuperam a cognição.

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“Pela primeira vez teremos mais avós do que netos. Precisamos falar sobre a importância de se manter ativo e buscar um envelhecimento saudável. Muitos idosos, na terceira e quarta idade, perdem até sua própria identidade na sociedade. É necessário manter plena sua autonomia, sua capacidade funcional e não se deixar anular”, observa a geriatra Danielle Marinho. Segundo o IBGE, o percentual de natalidade em 1940, por exemplo, era de 42,6% e até 2050 deve cair para 14,1%, enquanto o aumento da população idosa é predominante (4,1% em 1940, com projeção de 29,4% para 2050).

Em julho deste ano, o aplicativo FaceApp causou histeria no mundo ao projetar nossa fisionomia para os 60 anos ou mais. “É necessário um novo olhar para esse grupo populacional. Hoje, um idoso de 60 anos pode ter 30 anos pela frente e viver novos amores, novos aprendizados, até buscar um novo estilo de vida. Acredito que, no futuro, esses netos vão ter outra visão sobre o envelhecimento. E o que buscamos é que esses estereótipos negativos da velhice sejam esquecidos e substituídos”, conclui a geriatra.

Interessados em conhecer o projeto podem encontrar mais detalhes no site www.envelhecimentocriativo.com.br.