Brasileirão tem jogo paralisado por conta de homofobia

O jogo em São Januário entre Vasco e São Paulo foi o primeiro a ser paralisado. Isto ocorreu aos 19 minutos do segundo tempo porque a torcida vascaína gritou "time de veado"

Técnico do Vasco, Vanderlei Luxemburgo - Rafael Ribeiro/Vasco da Gama/Divulgação

A possibilidade de os clubes serem punidos com perda de três pontos por gritos homofóbicos mudou a rotina das partidas do Campeonato Brasileiro logo na primeira rodada em que a determinação do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) passou a valer. O jogo em São Januário entre Vasco e São Paulo foi o primeiro a ser paralisado. Isto ocorreu aos 19 minutos do segundo tempo porque a torcida vascaína gritou "time de veado".

A reação do treinador da equipe, Vanderlei Luxemburgo, é emblemática. Ele fez gestos com as mãos e falou para os torcedores pararem com o coro. O sistema de som do estádio também entrou em ação e o locutor pediu ao público que não cantasse gritos homofóbicos "para não prejudicar o Vasco". O árbitro Anderson Daronco conversou com os capitães de Vasco e São Paulo. Também pediu para acionarem o sistema de som do estádio. O episódio foi relatado na súmula e pode gerar denúncia ao STJD, o que poderia levar o clube do Rio a perder três pontos.

O assunto foi repercutido nas entrevistas coletivas. O treinador do São Paulo, Cuca, disse que é favorável à punição a clubes quando suas torcidas entoarem cantos homofóbicos. Cabe ressaltar que o técnico não estava se referindo ao caso específico da partida contra o Vasco, mas a uma tentativa de mudança de mentalidade do futebol.

Ele se declarou contrário a este tipo de comportamento, como gritar "bicha" quando o goleiro adversário vai bater o tiro de meta. A nova legislação tenta alterar uma cultura arraigada nos estádios, mas Cuca comparou ao cigarro para dizer que é possível uma mudança. Explicou que décadas atrás parecia irreal frequentar um bar sem pessoas fumando, algo que se tornou realidade hoje.

Vanderlei Luxemburgo também se manifestou e explicou que agiu para evitar que o time fosse prejudicado. "Foi pelos gritos homofóbicos, porque pode prejudicar. Mas como ia falar para todo mundo? Meio que entenderam. Passa na rádio e chega lá", disse Luxemburgo em coletiva

Leia também:
Milton deixa futuro em aberto no Santa
Conheça locais que deram início ao futebol pernambucano

O estádio de São Januário não foi o único a registrar episódios de homofobia na rodada. O Goiás recebeu o Internacional e seus torcedores gritaram "Gaúcho Veado", informou a Zero Hora, jornal de Porto Alegre. Mas também houve exemplos positivos. O Athletico Paranaense jogou contra o São Paulo no meio de semana em Curitiba e não foi registrado nenhum caso. O fato é importante, porque a torcida do clube de Curitiba costuma ter este tipo de comportamento. Já o adversário é uma das equipes mais visadas por gritos preconceituosos.

Outra mudança foi a postura dos clubes. A recomendação do STJD pede ações de educação dos torcedores e foi o que o Atlético-MG fez. O clube usou as redes sociais para solicitar ao público que compareceu ao Independência no sábado (24) para não ter atitudes homofóbicas.

A possibilidade de punição à homofobia é uma reação do STJD à pressão da Fifa e do STF. A recomendação do Justiça Desportiva citou quatro motivos para o cerco ao preconceito e três deles vinculados a estas duas instituições. A primeira é o julgamento do STF realizado em 13 de junho que decidiu aplicar a legislação de crimes de racismo para punir a homofobia e a transfobia. A determinação pressionou o STJD, porque o futebol brasileiro convive historicamente com preconceito nos estádios.

Há também duas razões derivadas de documentos da Fifa. A entidade emitiu uma circular em 25 de julho deste ano para seu filiados combaterem práticas discriminatórias. Antes, já havia lançado um guia para prevenção de preconceito.