Produção de açúcar em Pernambuco é tema de palestra de José Nivaldo Júnior

Durante o 420º Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco, o historiador desmistificou algumas ideias sobre a estrutura produtiva dos engenhos no período colonial

José Nivaldo Júnior, dividindo a mesa com Fátima Quintas e Sônia Freyre - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

O Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) chegou à sua 420ª edição, na tarde de ontem, com conferência ministrada por José Nivaldo Júnior, na sede da instituição em Casa Forte. O publicitário, historiador, escritor e bacharel em Direito abordou o tema "Berço do Açúcar: a montagem em Pernambuco da mais complexa estrutura produtiva do mundo no século XVI", desmistificando alguns conceitos tão arraigados no imaginário popular a respeito do período colonial.

"A história de Pernambuco, até hoje, vem sendo pautada por princípios teóricos insuficientes para a sua compreensão total. E a agroindústria açucareira, que foi implantada aqui no século 16, é tratada com muito preconceito, como se fosse uma coisa atrasada, quando na verdade ela constituía o mais complexo e avançado sistema produtivo do mundo naquela época", defendeu o palestrante, abrindo espaço para um novo entendimento sobre o que representou a produção de açúcar em Pernambuco.

Atendo-se ao período de tempo que vai do início da colonização brasileira até o fim das guerras holandesas, José Nivaldo buscou mostrar a realidade dos engenhos a partir da ótica da técnica empregada. Para o historiador, esse sistema caracterizava um modo de produção próprio da Idade Moderna. "Era um modo de produção trópico-colonial, com características próprias, absolutamente independentes da realidade feudal, mas ainda não era capitalista. Neste caso, o núcleo político ficava nas metrópoles e o núcleo impulsionador estava situado nas novas colônias descobertas", explicou.

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Avesso à ideia de que existiram "bons e maus colonizadores", o conferencista defendeu a superioridade do sistema desenvolvido em território pernambucano em comparação com a manufatura europeia. "Não havia, na época, nem técnica, instrumentos técnicos e complexidade operacional que sequer se assemelhassem ao que era praticado na nossa agroindústria açucareira", afirmou José Nivaldo, ressaltando o uso de tecnologia de vanguarda no beneficiamento do açúcar local.

Esse pioneirismo vivenciado pelos produtores de açúcar em Pernambuco, na opinião do historiador, foi responsável pela longevidade da atividade econômica no Estado, mesmo após o fim do período colonial. "Não foi algo circunstancial, passageiro ou acidental. Foi feito e planejado para ser consistente e duradouro, explorando da melhor forma possível as condições climáticas e ecológicas. Hoje em dia, essa atividade continua moderna, utilizando tecnologia avançada. Os problemas em relação às condições geográficas vão sendo vencidos passo a passo pelo mesmo espírito pioneiro, empreendedor e visionário daqueles que implantaram essa agroindústria, que foi o centro da economia mundial no século 16, comenta.

Após a palestra, as palavras ditas por José Nivaldo foram comentadas por dez especialistas de diferentes áreas, como o médico e ator Reinaldo de Oliveira. Também integraram a mesa a antropóloga Fátima Quintas, coordenadora do Seminário de Tropicologia; a psicóloga Sônia Freyre, filha de Gilberto Freyre; e Carlos Osório, diretor de pesquisas sociais da Fundaj.