Start na carreira gamer: os esports como espelho para os pernambucanos
Neste Zoom, a Folha de Pernambuco traz para os aspirantes dicas de quem já passou por essa fase e obteve sucesso
Conectar-se com o mundo através do celular virou rotina entre os brasileiros. Mandar mensagens, acessar as redes sociais e comprar algo e jogar. Hábitos corriqueiros no dia a dia. Mas e quando, na palma da mão, o jogo vira uma profissão? Esse é um dos novos caminhos feitos pelos jovens brasileiros, espelhados em grandes astros dos “esports”. Antes mesmo de chegarem ao estrelato, eles vivem uma rotina atrelada aos jogos e buscam o sucesso dividindo estudo e trabalho com conteúdo relacionado à “paixão mobile”.
Para o "Casual Gamer", aquele que joga desde o conforto do quarto até aquele que aproveita o tempinho no ônibus, a maioria utiliza o smartphone (57.8% dos gamers brasileiros, de acordo com a Pesquisa Gamer Brasil). O que era um passatempo virou coisa séria. É o caso de um grupo de jovens do bairro de Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife. Através do Free Fire, jogo de celular mais baixado do Brasil e desenvolvido pela asiática Garena, eles buscam a profissionalização e o sucesso nos grandes campeonatos.
“Nós sonhamos em nos tornar profissionais. Hoje na nossa guilda temos cerca de 80 pessoas, e cerca de 60 também tem esse mesmo sonho”, explica Liberato Junior, técnico e responsável pela equipe de Free Fire da Real Esports. Ao lado de Jean “Mago” Cabral (19 anos), Rychaderson “Lampião” Marcílio (22 anos), Mateus “Catiza” Filipe (18 anos), Kayo “Negão” Henrique (19 anos), Vinicius “Camisa10” Souza (20 anos) e Gustavo “GZNNXL” Cabral (18 anos), ele busca o estrelato fora do estado de Pernambuco.
No entanto, conciliar estudo e emprego com a dedicação ao jogo nem sempre pode dar certo.“Na última semana, por exemplo, ‘perdemos’ um jogador porque ele conseguiu um emprego, então não vai ter o mesmo tempo para se dedicar aos jogos”, comenta Liberato.
A busca, além dos conteúdos de streamers (jogadores que transmitem treinos e jogos ao vivo) também é por melhorar os mecanismos para jogar. “Sempre que alguém consegue algum emprego ou algum dinheiro a mais, comentamos sobre trocar de telefone, buscar um mais potente”, afirma Junior. E mesmo sem o mais caro dos celulares, a dedicação é fator fundamental. “Quando tinha um plano de celular, jogava basicamente em todo canto. Essa semana mesmo, tenho acordado mais cedo para treinar até umas 10 horas por dia”, comenta Jean Cabral.
O sonho de Jean e dos meninos da Real Esports tem uma referência ideal: o sucesso do Brasil no Free Fire. No último Mundial disputado, em novembro, no Rio de Janeiro, o Corinthians venceu e conquistou uma premiação de R$ 845 mil. Com cinco jovens na equipe mais comissão técnica, o time representa uma fatia pequena de um público gigante.
De acordo com a última pesquisa da Newzoo, o Brasil registrou um crescimento de 20% em sua audiência de eSports em relação ao ano anterior, e chegou a 2019 com 21,2 milhões de fãs. Além do Free Fire, outros jogos como o Clash Royale e o Call of Duty Mobile despontam como alternativas do cenário competitivo para celular.
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O exemplo pernambucano
Adriano "Kronos" Ferreira, de 19 anos, foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de Free Fire, que reuniu equipes de todo mundo e foi realizada em abril deste ano. Nascido no Recife, o atleta despontou em 2019, sendo contratado pela Vivo Keyd, uma organização tradicional de esports. Se alternando entre o Recife e torneios fora da capital pernambucana, o jogador conta como foi o início até se tornar um profissional. “Comecei a jogar no ano passado. No começo foi difícil por conta dos familiares. Tive que fazer tudo sozinho e depois contar com a ajuda de amigos”, afirma.
Já “experiente” e uma referência nacional do jogo para celulares mais baixado no Brasil, Kroonos aproveita para aconselhar quem ainda sonha em ser um jogador profissional no País. “É preciso conhecer o jogo, assistir outros jogando, além de praticar bastante”, afirma o atleta que chega a jogar entre 10 a 12 horas por dia.
Mesmo sendo um jogo de tiro (gênero battle royale), Kroonos afirma que isso não influencia no comportamento fora do jogo. “Quem joga esse tipo de jogo é para se divertir, tirar o estresse ou até mesmo esconder a tristeza, como é comum com pessoas que sofrem de depressão”, afirma.
Cuidados com a mente
Para quem já é ou almeja estar entre os profissionais, é preciso tomar uma série de cuidados com a mente e com o corpo. Ter um acompanhamento psicológico é fundamental para os que querem ter sucesso, o que já ocorre em um patamar mais alto das organizações de esports pelo Brasil e no mundo.
“Cada modalidade tem sua peculiaridade. Os esportes eletrônicos tem uma característica mais específica que é uma maior demanda do trabalho psicológico, porque ali você está trabalhando com um décimo de segundo, onde um erro pode custar um campeonato”, afirma o doutor pelo laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP, dr. João Ricardo Cozac.
Atualmente atendendo a MIBR, organização brasileira de Counter-Strike: Global Offensive e Rainbow Six Siege, o psicólogo do esporte também já teve vasta experiência com equipes tradicionais do futebol brasileiro como Palmeiras, Goiás e Ituano.
Ele dá dicas para quem ainda sonha em ser um jogador profissional, e quer trilhar seu caminho. “O atleta que quer se tornar um pro player, assim como qualquer outro atleta de modalidade clássica deve cuidar da saúde, da alimentação, procurar um psicólogo do esporte para aprimorar, fazer exercício físico, participar de eventos, conhecer pessoas e treinar, fortalecendo a resiliência”, completa.