Em 36º dia de greve, milhares de franceses protestam contra reforma da Previdência

A greve dificultou os deslocamentos na capital francesa nesta quinta

Protestos na França contra reforma da Previdência - Philippe LOPEZ / AFP

Grevistas franceses interromperam o serviço de trens, fecharam escolas e foram às ruas em várias cidades da França nesta quinta (9), em uma tentativa de dar um golpe final e convencer o presidente Emmanuel Macron a abandonar sua proposta de reforma da Previdência. O movimento de paralisações no setor público foi iniciado em 5 de dezembro e chega ao 36º dia.

A polícia disparou bombas de gás contra manifestantes em Nantes durante uma breve confusão. Em Bordeaux, Marselha e Toulouse, trabalhadores protestaram com bandeiras dos sindicatos e sinalizadores de fumaça acesos, em protestos pacíficos. Os atos em Paris começaram no início da tarde.

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A greve dificultou os deslocamentos na capital francesa nesta quinta. A produção de energia foi reduzida em 10%. As refinarias de petróleo seguiram operando, mas não era possível distribuir os combustíveis, segundo a empresa Total. Apesar disso, os postos pelo país estavam abastecidos.

Muitas escolas amanheceram fechadas. A Torre Eiffel, um dos monumentos mais visitados do mundo, não abrirá suas portas ao público, pois uma parte de seus trabalhadores está em greve.

Os advogados, que com a reforma perderão seu regime de aposentadoria autônomo, também estão mobilizados. Desde segunda-feira, 70 mil aderiram à greve em todo país.

Apesar da longa mobilização, as negociações estão estagnadas. Na terça-feira (7), dia em que as discussões foram retomadas após as festas de final de ano, ambas as partes permaneceram firmes em suas posições. Novas conversas foram marcadas para sexta-feira (10).

O governo promete criar um sistema mais justo em que cada euro cotado gere os mesmos direitos para todos. A França possui atualmente 42 regimes diferentes, que permite a algumas profissões, como maquinistas de trem e bombeiros, se aposentarem com menos anos de trabalho.

Macron também pretende aumentar a idade para receber aposentadoria integral, de 62 para 64 anos, um ponto questionado pelos sindicatos, que consideram essa medida injusta.

A estratégia do governo para lidar com a greve é fazer concessões pontuais a alguns setores, o que coloca em risco a proposta de um modelo único de aposentadoria.
A administração de Macron busca um acordo com a central CFDT, a maior do país, para tentar colocar fim aos atos. Porém, ela é contra a proposta de dar aposentadorias menores para quem se aposente antes dos 64 anos.

A CFDT propôs a criação de uma conferência multipartidária para buscar uma forma de equilibrar o orçamento da previdência sem exigir que as pessoas precisem trabalhar por mais anos.

Em 5 de dezembro, no primeiro dia da greve nacional contra a reforma, mais de 800 mil pessoas foram às ruas em todo país em rejeição ao projeto. No entanto, depois de mais de um mês de manifestações e greves, principalmente nos transportes, o apoio à mobilização começou a cair.

Segundo uma pesquisa, pouco mais de 60% da população francesa continua apoiando os manifestantes, 5 pontos a menos do que em meados de dezembro.
Apesar da greve ser uma das mais longas já feitas no país, ela não tem conseguido paralisar a rotina do país, como ocorreu em 1995, quando o governo recuou de outra proposta de mudança nas aposentadorias após a pressão das ruas.

ENTENDA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA NA FRANÇA

Um fundo para todos
Os 42 fundos de pensão administrados de forma independente serão fundidos em um único, com regras iguais para todos. Atualmente, se uma pessoa contribui para mais de um fundo, ela recebe mais de uma pensão. Sob a proposta, isso não será possível.

Fim de regimes especiais
O projeto acaba com regimes especiais de ferroviários, militares e bailarinos da Ópera de Paris, por exemplo. Esses funcionários públicos conseguem se aposentar antes dos 60 anos e recebem pensões maiores.

Sistema de pontuação
A ideia é adotar um sistema de pontuação no qual cada dez euros contribuídos equivalem a um ponto. Serão concedidos pontos bônus em casos excepcionais, como licença-maternidade.

Pela nova proposta, quanto mais anos um trabalhador ficar no mercado, mais pontos ele acumula, e maior será sua pensão. Quem trabalhar até os 64 anos, independentemente dos pontos obtidos, terá pensão mínima de mil euros.

Quem trabalhar além dessa idade pontua mais: aos 65, ganhará 5% a mais de pontos por ano; aos 66, mais 10%, e assim por diante.