Japiassu reúne cena pernambucana em 'Confraria da Toca'

Álbum, recentemente disponibilizado nas plataformas digitais, foi produzido em estúdio entre 2013 e 2018

'Confraria da Toca' está disponível em todas as plataformas digitais - Divulgação

Se há deleite no fazer artístico de um disco, o período de maturação das letras, cantos e melodias é, sem dúvida, o mais prazeroso de uma obra, que entre imersões individuais e coletivas, junto a calmarias distantes de prazos, clamores comerciais e soma de cliques virtuais, pode chegar com esmero a ouvidos atentos.

Foi mais ou menos esse o caminho que o artista paraibano radicado em Pernambuco, Fernando Japiassu, tomou em 'Confraria da Toca', primeiro álbum do compositor lançado recentemente nas plataformas digitais e que, sem pressa, foi pensando faixa a faixa, trazendo à tona um trabalho tomado por parcerias e interpretações potencializadas por vozes pernambucanas.

"Foram quase cinco anos para que o disco ficasse pronto. Antigamente as pessoas até moravam juntas para produzir, era importante para o processo de convivência e de criação. É o lado antigo de trabalhar em estúdio, com horários e músicas pré-organizadas. O disco foi feito assim, com uma reunião de músicos que não tinham nenhuma pretensão imediata de lançamento, a pretensão era da criatividade durante um período não determinado de tempo", conta ele, em conversa com a Folha de Pernambuco.

Ao lado de Gilberto Bala (percussão), Augusto Silva (bateria) e Fernando Azzula (baixo) - uma espécie de 'tripé que sustenta a Confraria', Japiassu traz, para interpretar as onze faixas do álbum, Almério, Edilza, Zé Brown. Riá, Isabela Moraes, Josildo Sá, Maria Pastora, Zé Cafofinho, Ska, Maciel Melo, Mazo Melo e Silvério Pessoa.

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"Tinha música que eu fazia pensando na Edilza, em outra vinha o Silvério e assim seguimos na base da afetividade, ouvindo e imaginando o que queríamos com aquela música para aquela determinada pessoa. Não tínhamos pressa em fazer as coisas de uma vez só. Podíamos voltar e fazer o baixo novamente para a voz que escolhemos, cantar novamente. O que fizemos foi algo tipo o namoro, procurando as pessoas e mostrando a elas uma primeira ideia", completa o compositor de "Logoff", que contou com a participação de Almério; "Vagão", com Maciel Melo e Júlio César Mendes; "Só um Beijo", que trouxe Spok e Zé Cafofinho e "Todo Santo Dia", faixa que teve Josildo Sá e Ska Maria Pastora, entre outras músicas que integram seu cancioneiro.

O disco tem, também, como instrumentistas, Lucas dos Prazeres, Reppolho, Pepê da Silva, Raminho da Zabumba, Danilo Mariano, Henrique Albino, Cláudia Beija, Nívea Amorim, Rodrigo Barros, Deco do Trombone.

O que se ouve em "Confraria da Toca" - produzido no Toca do Japi, em Aldeia, Camaragibe (RMR) - além 'pegada' nordestina e dos passeios que se aproximam da black music e do soul, é um trabalho (bem) pensado em arranjos e musicalidades intercaladas por sutilezas e interpretações que, quando justapostas ao contexto do disco, inflam de sincronia cada uma de suas faixas.

"Nosso desejo era produzir uma obra em si, com conceito que tivesse característica de álbum aliado à questão da arte e que funcionasse como um produto cultural. Foi muito boa a oportunidade de juntar pessoas e gêneros que necessariamente nem eram exatamente o da pessoa, especialmente do artista que veio no risco de fazer algo fora da zona de conforto. Deixamos registrado, no trabalho, um grande momento em Pernambuco", ressalta o compositor que assina o disco e não precisa colocar a própria voz para angariar aplausos.

"Foi um trabalho mais envolto do que se eu fosse simplesmente o cantor". Confraria da Toca (Riá e Pepê da Silva), Balada do Amado Ausente (Almério e Renato Bandeira), Quem Sabe Como a Gente Mudou? (Edilza Aires e Zé Brown), Canção em Preto e Branco (Isabela Moraes e Lucas dos Prazeres), A Ciranda (Mazo Melo e Reppolho), Aos que Esperam (Silvério Pessoa e Renato Bandeira) e Babel, esta última como bônuz track e com letra não inteligível, completam o álbum.

Ouça uma das faixas do álbum 'Confraria da Toca'