Introdução alimentar: como despertar nas crianças o prazer pela comida
Evitar tratar a alimentação como uma obrigação e apresentar suas diferentes texturas e sabores de forma lúdica às crianças é a aposta dos nutricionistas
Crianças que se envolvem no preparo de seus próprios têm maiores estímulos à diversidade alimentar - Ed Machado/Folha de Pernambuco
Alimentação não precisa ser coisa tão séria. A introdução alimentar, na primeira infância, pode fazer a diferença na forma com a qual a pessoa vai se relacionar com a comida durante toda a vida. Na etapa do desenvolvimento infantil, quando a autonomia ganha destaque, muitos pais encontram dificuldades para nutrir os filhos de forma correta, já que as preferências da criança tendem a prevalecer.
Essa questão pode desencadear o distúrbio chamado transtorno alimentar seletivo, que desperta na criança o desejo de comer apenas os mesmos alimentos, rejeitando a variedade. Por isso, introduzir a alimentação variada de forma lúdica vem sendo uma proposta trabalhada por diversos profissionais nos últimos anos.
Evitar tratar a alimentação como uma obrigação e apresentar os alimentos em suas diferentes texturas, sabores e apresentações é uma das indicações dos profissionais de nutrição. Fazer uma criança se interessar por qualquer tipo de assunto não é uma tarefa fácil. De todas as formas de convencer os pequenos a fazer alguma coisa, reclamar e obrigar é a menos efetiva. Camila Viana, 40 anos, passou por dificuldades para alimentar a filha, Ana Luiza Viana, 4. Ana tinha seletividade alimentar, com resistência a algumas texturas de alimentos.
Inicialmente acompanhada pela fonoaudióloga, a menina foi direcionada para uma abordagem alimentar diferente. "Tem uma área da fonoaudiologia que trabalha com seletividade alimentar, que eu procurei porque ela apresentou um quadro. Ela comia coisas saudáveis, mas coisas que crianças comem normalmente ela se recusava a comer por causa da textura. Brigadeiro, por exemplo, ela não comia", contou Camila.
[PODCAST] Jota Batista conversou no Canal Saúde, da Rádio Folha FM 96,7, com a nutricionista Bruna Barbosa.
As nutricionistas Bruna Barbosa e Magda Brito trabalham na área materno-infantil e ofertam oficinas de alimentação lúdica para crianças. O passo inicial de estimular os pequenos a comer é fazer com que eles preparem, também, o próprio alimento. "Muitas vezes acontece dos pais nem deixarem a criança entrar na cozinha, mas é interessante fazer com que ela participe da preparação e até para as compras", contou Bruna.
A nutricionista salientou que a orientação nutricional, quando feita para a criança, deve envolver todos. "A gente tem que trabalhar reeducando os pais e os filhos. Não adianta trabalhar só com a criança, tem que trabalhar com a família. Inclusive, nas consultas familiares, pedimos que todos que fazem parte da alimentação da criança participem da orientação nutricional", explicou.
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O fato de enxergarmos a comida como algo sério e direcionado pode ter algum reflexo de uma abordagem limitada na nossa infância. Apresentar a comida como algo colorido, nutritivo, e de formas diversa faz com que a própria criança deseje comer coisas diferentes, segundo a nutricionista Magda. "Muitos pais dão só a papinha batida, aquele misturado todo que a criança não identifica o sabor de nada. Nem o próprio pai sabe o que é que tem ali. Está nutrindo, mas não está ensinando. A gente tem que ensinar a criança o que é que ela está comendo, quais são os alimentos e os benefícios que eles trazem. Então, a gente tem que trabalhar isso de forma lúdica para estimular a criança a consumir com prazer aquele alimento."
Ana Luiza participou de algumas oficinas e palestras sobre alimentação lúdica. Para ela, cada atividade é uma nova experimentação e brincadeira entre amigos. Em uma das oficinas, ela aprendeu sobre o suco do Hulk, que é verde igual ao herói. As nutricionistas estimulam as crianças a tomar a receita para ficarem fortes "igual ao Hulk". Para Ana, o suco funcionou muito. "Com o suco do Hulk eu vou subir até o teto!", gritava a pequena.
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