Estudo revela que falta mão de obra qualificada no setor de tecnologia

Até 2024, a busca por profissionais com habilidades digitais chegará a 70 mil pessoas por ano no País, mas o número de formados na área será de 46 mil ao ano, segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação

Sergio Gallindo afirma que solução é “olhar para o ensino” - Divulgação

Enquanto 11,9 milhões de pessoas procuram emprego no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área de Tecnologia da Informação (TI) deve ter até o ano de 2024, cerca de 290 mil vagas em aberto. O estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) revela que o setor enfrenta um grande problema quanto a grande quantidade de vagas disponíveis e a falta de mão de obra qualificada.

Com uma movimentação de R$ 479,1 bilhões da produção setorial, a tecnologia da informação sofre com poucos profissionais formados no mercado. Até 2024 a busca por profissionais com habilidades digitais chegará a 70 mil por ano no País, mas o número de formados na área será de 46 mil, de acordo com a Brasscom.

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Na visão do presidente da Brasscom, Sergio Paulo Gallindo, apesar de o Brasil ter desenvolvido mais nos últimos anos o setor tecnológico, é preciso ainda que o ensino auxilie na transformação desse cenário. “O país conquistou um espaço de evolução nos últimos anos e é algo para celebrar. O fato da demanda superar a oferta é uma conjuntura nacional, existe um equipamento que deve suprir isso que é o de ensino, a empresa gostaria de ter essas pessoas para contratar e fazer o seu trabalho. O Brasil derrapou e não está conseguindo formar os profissionais qualificados que o setor precisa. É um desafio que pode ser visto como uma boa oportunidade”, explicou.

Sergio reforça que a solução não é as empresas que devem buscar a solução na criação de cursos e que quem deve suprir essa demanda são os representantes do governo. “Essas iniciativas pontuais, de empresas se aproximando de treinamentos são paliativas, as empresas não deveriam ser oneradas de formar. A verdadeira solução é olhar para o setor de ensino, ver o que está impedindo dele ser promovido. Os governos tem essa responsabilidade, a gente defende o assunto tecnologia no médio técnico e médio regular”, ressaltou.

Até o ano de 2024, o investimento no Brasil por parte do setor será de R$ 346 bilhões por ano, mas para que esse aporte chegue é preciso de grande demanda de profissional. “Esse investimento de R$ 346 bilhões não é um investimento que precisa, é um investimento catalogado a partir de expectativa de investimentos empresarial. Para que ele se materialize, é necessário corrigir o problema da formação. Se não tivermos mão de obra, esse valor vai para outro lugar, assim como os empregos que serão gerados”, analisou o presidente da Brasscom.

O levantamento realizado pela Brasscom aponta algumas das habilidades específicas que os profissionais do setor de tecnologia da informação devem ter. As especializações são as mais requisitadas a médio e longo prazo, e são as principais dificuldades encontradas pelas empresas.

Entre elas, estão em falta profissionais que desenvolvam mobile, com foco em programação de plataformas; computação na Nuvem, aplicando virtualização nas plataformas; Data Analytics, com conhecimentos em Gestão da Informação, Big Data e Ciência de Dados; segurança cibernética e inteligência artificial.

Para o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, esse problema se dá por conta falta de preparação do Brasil para o crescimento do segmento de tecnologia da informação. “Esse é um problema mundial, não só local. Essas vagas que surgem em grande quantidade se dão com base no crescimento das empresas que compõem o setor. Dois países em todo o mundo se prepararam para isso e foram os Estados Unidos e a China, que mandaram gente estudar fora, montaram universidade. Agora todos estão correndo atrás do prejuízo para suprir”, disse.

Pierre Lucena pontua ainda que Recife é uma das cidades brasileiras com maior preocupação, por conta da grande quantidade de empresas presentes, apesar de ter grandes formadores de profissionais. “Recife tem mais gente com tecnologia per capita do que outras cidades do Brasil. A gente tem grandes formadores. Se a gente quiser resolver o problema do país, é preciso de um grande programa para solucionar isso, que os governos municipais, estaduais e o federal se articulem para auxiliar. As empresas dependem das universidades”, reforçou o presidente do Porto.

Empresas investem em cursos
O Porto Digital, parque tecnológico do Recife, com o intuito de incentivar a formação de profissionais e fazer com que os já atuantes se qualifiquem, buscou parcerias com instituições de ensino para criar cursos específicos.

De acordo com o presidente do Porto, Pierre Lucena, a ideia foi buscar uma parceira com três instituições para que as pessoas buscassem qualificação profissional. “Nos associamos com a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Centro Universitário Tiradentes, Fundação Dom Cabral, além da presença do Cesar School, ofertando cursos de graduação voltados para áreas específicas que as empresas mais apresentam dificuldades. A gente está planejando esse ano expandir a formação e colocar mais gente dentro mercado”, contou.

Além da criação dos cursos a gestão do parque tecnológico criou um banco de talentos para poder dar suporte as empresas embarcadas. Para este ano, Pierre Lucena antecipa que serão feitas ações para atrair pessoas de outros estados do Nordeste. “A gente montou uma central de pessoas, o mercado está saturado, estamos buscando gente em outras cidades. Devemos começar por João Pessoa e Aracaju, para buscar pessoas qualificadas e suprir as vagas em aberto. Nós temos também a inclusão de mulheres na área, que é algo também muito necessário”, destacou.

Para o diretor acadêmico da Digital House, Edney Souza, uma das soluções para suprir essa necessidade de vagas de imediato, seria o foco em ações específicas para desenvolver habilidades que as empresas precisam. “A lógica no Brasil por muito tempo foi dar foco em dar acesso à universidade em tudo, mas não em demandas que o mercado precisa. podemos olhar para as empresas, o que ela faz e trabalhar diretamente com elas, fazendo cursos com as finalidades que cada uma tem. O trabalho em equipe é importante, e trocar as equipes de software é algo bom na preparação, sentindo o que é o mercado, reproduzindo em sala de aula os desafios do mercado”, afirmou.

O ministro da Cidadania, Osmar Terra, visitou nesta semana a estrutura do Porto Digital no Recife. Na ocasião ele comentou sobre a importância de direcionar jovens de programas sociais a estudar sobre ferramentas tecnológicas. “A tecnologia vai ser a base de tudo em pouco tempo. Temos que pensar na capacitação, as empresas precisam de mão de obra qualificada, e porque não usar todo esse exército de jovens que não tem oportunidade de trabalho e não estão estudando, para que passem a fazer cursos de TI, principalmente de famílias mais pobres, são soluções tecnológicas que o Brasil precisa”, afirmou.