Resignação marca última manifestação antibrexit antes de saída da União Europeia

O endereço não podia ser outro: as calçadas do Parlamento britânico, em Londres

Antibrexit protestando nas calçadas do Parlamento britânico - Tolga AKMEN / AFP

"Festejar como se não houvesse amanhã." Foi com essa frase que o ativista Steve Bray convidou seguidores para o seu último protesto antes de o Reino Unido formalmente sair da União Europeia, o que vai acontecer às 23h (horário local) desta sexta-feira (31).

O endereço não podia ser outro: as calçadas do Parlamento britânico, em Londres.

Chamado de "Mr. Stop Brexit", Bray, 50, frequenta o entorno do Palácio de Westminster desde setembro de 2017, quando iniciou uma campanha de um homem só contra a saída do país do bloco.

Nos dias em que os parlamentares estão em sessão, ele vai para a região com chapelão, bandeira amarrada no pescoço e cartazes.

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Ficou conhecido por invadir transmissões ao vivo realizadas pelas equipes de TV berrando "stop brexit" (pare o brexit) ou silenciosamente balançando placas com frases como "nós ainda estamos aqui porque o brexit ainda é uma porcaria".

Nesta quinta-feira (30), seu ato pré-brexit foi menos solitário. Debaixo de uma garoa fina, Bray reuniu dezenas de pessoas ao longo do dia, alguns que se tornaram colegas de ativismo.

Ex-comerciante de moedas antigas, ele diz viver atualmente de doações.

"Viemos do País de Gales para apoiar o Steve, a União Europeia e para vaiar Boris Johnson", disse Barbara (ela não quis informar o sobrenome), aposentada de 63 anos, segurando um cartaz em que o primeiro-ministro britânico aparece com nariz de Pinóquio.

"Estou triste, mas determinada porque nós voltaremos para a União Europeia. Talvez não enquanto eu estiver viva, mas em algum momento."

Em entrevistas e cartazes, os participantes do ato chamam o líder do Partido Conservador de mentiroso.

"Mentira do brexit: retomar o controle. Realidade: perdemos o controle" foram as palavras escolhidas por Bray para esta quinta-feira, em referência a um dos bordões de Boris Johnson, "take back control".

"As regiões menos favorecidas do Reino Unido votaram para sair, porque na opinião dessas pessoas eles teriam uma vida melhor. Eu não culpo aqueles que votaram pela saída, eu culpo esse governo, que mentiu como líderes da campanha Vote Leave [vote pela saída] e está mentindo agora como governo", diz o Mr. Stop Brexit.

Embora o convite mencionasse uma festa, o clima esteve longe disso. Entre os presentes, a sensação era de resignação e de que o desfecho para a saída da União Europeia está longe de terminar -os dois lados têm até dezembro para negociar os termos finais do brexit, um prazo considerado irreal.

"Eu estava otimista até a eleição de dezembro [quando os conservadores receberam a maioria dos votos]. Mas perdi a esperança com este país", diz o anglo-germânico Simon Wallfish, 38, que desde 2016 protesta uma vez por mês na vizinhança do Parlamento usando sua voz de cantor barítono.

Nesta quinta, acompanhando por um violinista, uma flautista e outros cantores, entoou algumas vezes "Ode à Alegria", de Beethoven, o hino da União Europeia.
"Tenho dupla cidadania, então estou estudando o que fazer no futuro."