Frevo está cada vez mais vivo aos 113 anos
Dia do Frevo será comemorado com lançamento de livros e apresentações em vários lugares do Recife
E lá se vão 113 anos desde que a palavra 'frevo' foi registrada pela primeira vez, no extinto Jornal Pequeno. De 1907 para cá, muita coisa mudou na dança ou no ritmo, que continuam fazendo a gente 'ferver' e transformam todo dia 09 de fevereiro em motivo de celebração.
O frevo se tornou um verdadeiro sistema cultural que vem sendo reinventado a cada dia, acompanhando as alterações nos corpos e no jeito de cada folião de estar no mundo, enquanto ao mesmo tempo se preservam as raízes daquela miscelânea criada por capoeiristas, operários e outros integrantes das classes menos favorecidas, na virada do século XX. Neste fim de semana em que se comemora o Dia do Frevo, resolvemos ouvir alguns dançarinos que vêm exercendo essa paixão de forma muito peculiar, ampliando as possibilidades do ritmo.
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A influência da capoeira é inegável, desde o início. Mas muitos não sabem, por exemplo, que o frevo bebeu na fonte de dançarinos "cossacos" que se apresentaram no Recife, no início do século passado. Balé, passinho, vogue, danças contemporâneas variadas têm trazido contribuições para o frevo. E assim vem sendo, desde sempre.
A proposta de tornar a dança ainda mais democrática é o ponto de partida do projeto Mexe com Tudo, do dançarino e professor Otávio Bastos. Além de divulgar o frevo nas redes sociais, contando com um canal que até o momento possui 90 vídeos que já foram assistidos por milhares de pessoas, Otávio dá aulas onde desmistifica a necessidade de ser jovem e atlético para poder frevar.
Ele e seus alunos formaram a Trupe Carnavalesca Mascarada (TCM) Mexe com Tudo, que no próximo dia 16 vai para o Marco Zero mostrar que a dança é para todos. "Tenho trabalhado muito em cima da vergonha. As pessoas se seguram para não dançar, e a ideia da máscara que usamos é muito mais para permitir, para revelar, do que para esconder", explica Otávio. Com a máscara, as pessoas se permitem experimentar, errar. E tudo isso é parte do frevo.
Edson começou dançando break e balé, na adolescência. Depois, apaixonou-se pelo voguing - e, na sequência, pelo frevo. Desde 2010, integra o grupo Guerreiros do Passo, que vem se dedicando a levantar a história da forma de dançar dos pernambucanos e, ao mesmo tempo, ensinar as novas gerações. Na dança de Edson, porém, as influências pelas quais passou seguem presentes. "O frevoguing é minhas pesquisa histórico-corporal sobre a pretitude urbana que dança e compartilha a mesma história de diáspora africana vivida de maneiras diferentes, seja pelo recorte geográfico, de gênero ou de identidade sexual", resume ele, que se propõe a buscar "novas maneiras estéticas, didáticas e metodológicas para o frevo".
O frevo de Alisson é extremamente contemporâneo, sem tirar o pé da tradição, e atrai por sua força e beleza plástica. Ele prefere dançar sem sombrinha, e usa as mãos de forma mais intensa. "Procuro dialogar com a música, me deixo embriagar por ela. O frevo é uma dança de improviso, apesar de ter tantos passos", descreve. "Eu procuro dançar a música, e não só executá-la. Não é uma coreografia pré-moldada, é um corpo aberto à experiência. E assim as pessoas se sentem mais próximas", afirma.
Neste sábado (8), véspera do Dia do Frevo, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lança no Paço do Frevo, a partir das 15h, duas importantes obras que devem interessar não apenas aos estudiosos do gênero, mas ao público em geral. "Frevo: transformações ao longo do passo" é o quarto livro da coleção Batuque Book, que anteriormente abordou o maracatu, o cabocolinho e o forró.
Escrita por Climério Santos e por Marcos Ferreira Mendes (mais conhecido como Marcos FM), a obra levou mais de cinco anos para ficar pronta e abrange um período que vai do fim do século 19 ao início do século 21, mostrando grupos, personagens e acontecimentos ao longo de 382 páginas. Além de subsidiar didaticamente estudantes de Música e de História, o livro é acessível aos demais leitores. "Falamos dos significados do frevo, o que está por trás daquele ritmo", afirma Climério. Um farto arsenal online ajuda a quem não sabe ler partitura a ouvir e entender os exemplos citados.
A festa do lançamento será animada por várias apresentações gratuitas, e no domingo o Bairro do Recife deverá ferver com o show do Maestro Spok, a partir das 14h e também no Paço do Frevo. Spok trará, em seu projeto "Roda de Frevo", os passistas do grupo "Trajetos e Trejeitos", comandados pelo dançarino Alisson Lima.