Investimento não volta sem a reforma tributária, diz nova coalização da indústria

A avaliação do grupo é que as incertezas em relação à reforma tributária paralisam os investimentos

PIB - Reprodução

Dois dias após a divulgação do PIB de 1,1% em 2019, a Coalizão da Indústria, grupo que concentra importantes setores industriais brasileiros, reforçou em entrevista apoio à política econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Eles defenderam, porém, agilidade na tramitação da reforma tributária para destravar investimentos.

O grupo avalia que o desempenho da economia em 2019, que mostrou investimentos despencando no fim do ano, foi "o possível" na conjuntura atual e que as reformas terão impacto apenas no longo prazo. Defenderam, porém, que a mudança nos impostos pode trazer alívio já em 2020.

Leia também:
Coronavírus pode tirar 0,5 ponto da alta do PIB deste ano, afirma Guedes
PIB da agropecuária perde ritmo e sobe 1,3%, menor alta em três anos

"A reforma tributária tem que ser resolvida com a maior rapidez possível. Na nossa visão, ainda no primeiro semestre", disse o presidente do IABr, entidade que reúne a indústria siderúrgica, Marco Polo de Mello Lopes, em entrevista coletiva no Rio, antes de reunião do grupo com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Além das siderúrgicas, a Coalizão pela Indústria inclui os setores automotivo, químico, textil, de cimento, brinquedos, construção, plásticos, máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos, entre outros. Foi criado às vésperas do segundo turno da eleição de 2018 para ser um canal de interlocução com o governo.

A avaliação do grupo é que as incertezas em relação à reforma tributária paralisam os investimentos. "Quem pensa em investir, precisa calcular quanto vai pagar em impostos daqui a cinco anos", argumentou José Velloso, que preside a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Eles apoiam as propostas que estão em discussão no Congresso -as PECs 45 e 110- pelas quais já vêm se articulando junto aos parlamentares, e questionam sinais de que o governo tentaria aprovar um texto com mudanças mais simples.

"Vamos transmitir ao governo a nossa visão de que não cabe colocar uma energia monumental em uma mudança que não seja profunda, não seja completa" , disse Lopes, avaliando que já há convergência nas duas casas legislativas em relação aos temas.

O grupo elogiou a abertura para interlocução com o Ministério da Economia e minimizou o resultado do PIB de 2019, alegando que o governo vem tocando pautas estruturais, cujos resultados serão sentidos só no longo prazo.

"A agenda da competitividade, a agenda da microeconomia é fundamental", defendeu o presidente da (Abrir) Associação Brasileira da Indústria Textil, Fernando Pimentel. Ele diz esperar para 2020 alta entre 1,5% e 2% no PIB, já descontando o efeito negativo de 0,5 ponto percentual da crise provocada pelo surto de coronavírus.

A entrevista ocorreu um dia depois de visita de Bolsonaro à Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), evento que gerou críticas pela falta de representação industrial. Os setores reunidos na Coalizão pela Indústria são responsáveis, segundo eles, 65% do PIB industrial do país e 30 milhões de empregos diretos e indiretos.

Assim como os empresários reunidos na Fiesp na quinta (5), ressaltaram apoio ao governo - para o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, "um governo que pensa um Brasil melhor".

Eles minimizaram os atritos entre Executivo e Legislativo, que motiva a convocação de passeatas em apoio ao presidente e contra o Congresso no próximo dia 15. Na visão do grupo, trata-se de um novo "O que a gente vê é que as coisas andam", disse Martins.

Como exemplo, citaram a aprovação da reforma da Previdência, da lei da liberdade econômica, a realização de concessões, o controle da inflação, entre outros. Ainda assim, avaliam, a má qualidade do emprego e a demora na mudança previdenciária contribuíram para segurar a economia em 2019.

Os setores representados na coalização têm sentido de maneiras diferentes o impacto da desvalorização cambial -a indústria química, por exemplo, é beneficiada pelo aumento da competitividade- mas o grupo espera que o dólar se estabilize para garantir maior previsibilidade aos negócios.

A avaliação é que, com os juros mais baixos, o real se estabilizará em patamares mais altos, mas ninguém quis apostar em um valor. "Será um dólar mais realista do que era na época da especulação [financeira]", disse Velloso.