João Falcão filosofa no Santa Isabel em “Que Deus Sou Eu'

Diretor pernambucano retorna ao Recife com espetáculo inspirado em filosofia hindu da Bhagavad Gita

'Que Deus Sou Eu', de João Falcão, em duas apresentações no Santa Isabel - Divulgação

A inspiração para o “início, o fim e o meio”, de Raul Seixas, em Gita, é a mesma tomada pelo olhar do diretor e roteirista pernambucano João Falcão em “Que Deus Sou Eu”, espetáculo que será apresentado neste sábado e domingo, às 20h e 19h, respectivamente, no Teatro de Santa Isabel, e que remonta a atualidades trazidas de um passado épico, livremente inspirado em uma nada vã filosofia hindu da obra Bhagavad Gita, tal qual fez o "Maluco Beleza".

No palco, Krishna e Arjuna - vividos pelos atores Leandro Villa e Daniel Farias - travam uma batalha e personificam dilemas atemporais, alguns contemporâneos o suficiente para despertar reflexões e provocar instintos. "É um texto filosófico, que fala sobre Deus (Krishna) como um tudo, como o pai, a mãe e o avô, como você, como eu. A ideia é, também, suscitar religiosidade mas, sobretudo, dizer que o seu 'não agir' também é uma forma de agir, é uma ação", explica João em conversa com a Folha de Pernambuco.





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Em 2007, esse mesmo espetáculo foi dirigido pelo pernambucano, mas com protagonismo de uma mulher no papel de Krishna (Aline Moraes). "A encenação atual tem um tom mais leve", explica João, que, há 13 anos, dava ao espetáculo o título de 'Dhrarma'. "Mas ninguém chamava de 'drama' mas de 'darma', troquei (o nome) primeiramente por causa disso".

É "filosofia pura", como afirma o próprio diretor, assumidamente instigado em suas obras, ao longo de pouco mais de décadas de carreira, aos ares culturais de Pernambuco (onde nasceu), Rio de Janeiro (por onde viveu) e Bahia (onde mora atualmente). "Tenho muita influência daqui (PE) e de todo o Nordeste, cultura pela qual prezo muito. Tenho também outras influências e posso citar a música brasileira com uma delas. Penso que Chico, Caetano e Gil, por exemplo, poderiam também ser poetas e escritores", justifica.

Para Daniel Farias, que o tanto quanto João, é pernambucano com residência em Salvador, atuar em cima de um texto indiano tão épico e antigo e ao mesmo tempo atual, torna o trabalho mais interessante, especialmente pelo tom lúdico pensado pelo diretor. "O texto vem no sentido da possibilidade de se fortalecer individualmente, vencer os dilemas éticos e os conflitos internos, equilibrar corpo, mente e ação. São temas profundos que não à toa reverberam até os dias de hoje. Conheci João Falcão no processo de audições do elenco, ainda em 'Sonhos de uma Noite de Verão', e nos aproximamos, com afinação e outras trocas", atesta o ator, que considera o diretor "inteligente, bem humorado e sagaz".

"Escolheria o humor como característica principal. Procuro rir de mim mesmo para não me levar tão a sério", ressalta João Falcão sobre as qualidades que lhe foram atribuídas pelo ator. Além do palco de "Que Deus Sou Eu", ele permanece ativo escrevendo e dirigindo, como projetos para o decorrer deste ano.

"Estamos com uma série para um canal de streaming que vamos gravar no segundo semestre", complementa ele que apesar de esbanjar versatilidade na arte de roteirizar e dirigir para a televisão (A Comédia da Vida Privada e Sexo Frágil) e para o cinema (O Coronel e o Lobisomem e A Máquina) é no teatro que ele retorna de quando em vez para agradecer, como fez em 2017 com "Dorinha Meu Amor", cujo protagonismo foi dado à cantora Isadora Melo. "É onde me sinto mais à vontade e volto, para beber mais dessa arte simples, primitiva, mas tão poderosa".

Serviço
"Que Deus Sou Eu", de João Falcão

Teatro de Santa Isabel, sábado e domingo (20h e 19h)
Ingressos: R$ 80 (inteira), R$ 50 + 1 kg de alimento (social) e R$ 40 (meia), na bilheteria do teatro e no Sympla
Praça da República, 233, Santo Antônio