Protagonista de “Fina Estampa”, Lília Cabral celebra volta da sofrida Griselda ao horário nobre

Fina Estampa agora faz parte da grade especial da Rede Globo

Lília Cabral, a Griselda de "Fina Estampa" - Divulgação/Globo

Lília Cabral já era uma atriz respeitada e disputada dentro da Globo quando ganhou sua primeira protagonista. Mesmo jurando que o posto nunca ter sido um foco em sua carreira, ela lembra com clareza da alegria e entrega com que viveu a rústica Griselda de “Fina Estampa”. Quase uma década depois da exibição original, Lília é só felicidade com a chance de rever um dos trabalhos mais significativos de sua trajetória, que está de volta em uma edição especial para substituir temporariamente “Amor de Mãe”, que teve as gravações paralisadas por conta da pandemia de Covid-19. “Acho que a novela envelheceu muito bem. A mensagem de esperança em torno da história da Griselda é muito bem-vinda nos dias de hoje. Ela superou questões familiares, traições e decepções sem perder a vontade de viver e o amor ao próximo. Demorou, mas essa protagonista chegou na hora certa”, valoriza.

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Paulistana da Lapa, Lília se formou na prestigiada Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo no final dos anos 1970. Na sequência, passou no teste para integrar o elenco de “Os Adolescentes”, da Bandeirantes. Após alguns trabalhos na emissora, estreou na Globo na pele da perua Margarida de “Corpo a Corpo”, de 1984. Ao longo de mais de três décadas de contrato de prazo longo, Lília até mostrou sua verve cômica em personagens como a Amorzinho, de “Tieta”, mas foi no drama que ela conquistou o público, seja como as sofridas Gorete do “remake” de “Anjo Mau”, e Catarina de “A Favorita”, ou as vilãs carregadas de realidade de produções como “História de Amor” e “Páginas da Vida”. “Nunca me importei muito com o tamanho das minhas personagens e sempre me dediquei de forma integral para dar o meu melhor. Aos poucos, fui conquistando espaço e tenho muito orgulho da carreira que construí. Ficava preocupada com o passar dos anos, mas envelhecer me trouxe uma nova gama de papéis maravilhosos”, avalia Lília, do alto de seus 62 anos.

 O que você sentiu quando recebeu a informação de que “Fina Estampa” voltaria ao horário nobre no lugar de “Amor de Mãe”?

 - Tomei um susto. Mas daqueles de felicidade, sabe? A novela foi exibida em 2011 e já estava esperando que, em algum momento, ela fosse reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”, mas não no horário nobre. É ótimo rever a trama, ao mesmo tempo, tenho noção de que isso foi motivado por algo ruim, que é a pandemia. Sou telespectadora de “Amor de Mãe” e a novela estava na reta final, em um momento muito bom. Ocupamos esse espaço com o maior respeito e espero que tudo logo se normalize.

 “Fina Estampa” reestreou com boa audiência no horário nobre. Você acha que a novela envelheceu bem?

 Muito! O texto do Aguinaldo aborda questões que continuam muito importantes. Antes do empoderamento feminino entrar nas conversas cotidianas, essa novela apresentou ao Brasil a figura da Griselda, uma mulher que foi abandonada e que teve de cuidar dos filhos sozinha trabalhando como “faz tudo”. É uma personagem muito real, facilmente encontrada em muitos lares brasileiros. Então, essa identificação do público é imediata.

Griselda foi sua primeira protagonista. Era uma função que faltava na sua carreira?

 – Acho que tudo aconteceu no momento certo. Mas é claro que me senti prestigiada. Fiz personagens maravilhosos e de muita repercussão ao longo dos anos. Principalmente, as antagonistas nas novelas do Manoel Carlos, como “História de Amor” e “Páginas da Vida”. Não tinha o protagonismo como uma meta e nem esperava por ele, pois estava muito plena com as escolhas e caminhos da minha carreira. Mas, de repente, após uma ligação do Aguinaldo (Silva), acabei ganhando esse papel.

- Como foi esse convite?

- Meu encontro anterior com um texto do Aguinaldo foi em “Pedra Sobre Pedra” (1992), então há tempos que ele dizia que iria escrever um papel pensando em mim. Nos falamos algumas vezes ao longo dos anos e ele sempre dizia que adorava minhas vilãs, mas queria me ver fazendo uma heroína. Essa hora chegou e no primeiro dia de gravação, por um breve momento, meio que viajei no tempo.

- Como assim?

 - Lembrei dos meus primeiros trabalhos e em como as protagonistas dessas novelas foram receptivas e importantes para eu acreditar na profissão. Lembro de admirar muito a postura acolhedora e divertida da Glória Menezes em “Corpo a Corpo”, a Eva Wilma passava horas me dando dicas sobre como descobrir meu “timing” de humor em “De Quina Pra Lua”. Então, além de ter que parar minha vida para me dedicar à Griselda, também quis ajudar as pessoas que estavam ao meu redor assim como fizeram comigo no passado.

 - “Fina Estampa” terminou com 185 capítulos. Em um trabalho tão longo, você consegue lembrar de alguma cena que realmente a comoveu durante as gravações?

- Muitas! Mas duas em especial. Gosto muito da sequência em que o Antenor (Caio Castro) contrata uma atriz para ser mãe dele em um jantar chique e a Griselda descobre. Revi essa cena outro dia no Globoplay e estou curiosa para ver a reação do público atualmente. Quero ver se ainda haverá a mesma comoção. Afinal, certos sentimentos e conflitos, como os que existem entre mãe e filho, são universais. O outro momento inesquecível é quando a Griselda ganha na loteria. Me emociono só de pensar.

 - O que mudou na sua carreira depois da Griselda?


- Acho que passei a me pressionar menos. Tirei um ano de férias, fiz a série “Divã”, depois me diverti com personagens menores no tamanho, mas grandes na complexidade artística em produções como “Saramandaia” e “Liberdade, Liberdade”. Recentemente, trabalhei pela primeira vez com a Glória Perez e outras duas com o Aguinaldo. No geral, passei pelos 60 anos sendo muito produtiva e acho que a Griselda tem a ver com isso.

- Já deu para sentir alguma repercussão popular sobre a volta de “Fina Estampa”?

- O elenco tem se falado bastante e recebi mensagem de muita gente desejando sorte. Não tenho conta no Twitter, mas muitos amigos me contaram que o público está gostando da volta da novela. Claro que algumas pessoas estão reclamando, afinal, não dá para agradar a todos. Mas tenho a sensação de que tem muito mais gente a favor. No meu Instagram, pelo menos, todo mundo é a favor. Acho que isso já representa um pouquinho da audiência (risos).


Momento de reflexão

Em tempos de coronavírus e quarentena, Lília Cabral admite que sofre ao ter de deixar de fazer coisas simples do cotidiano. “Gosto de ir para a rua, de fazer as coisas a pé, então, não está sendo fácil. Eu tenho prazer de andar, de ver gente. Agora que não podemos mais fazer isso, tenho ficado em casa, de verdade”, assume a atriz, que tem aproveitado a rotina menos intensa para botar as séries e filmes em dia.

De forma mais filosófica, Lília acredita que o tempo em casa pode ser muito útil para fazer com que a sociedade mude sua postura perante os problemas do mundo e passe a dar mais valor às coisas simples. Além disso, também chegou a hora de parar de olhar para o próprio umbigo e se envolver de forma mais prática nas questões sociais. “Nós já estamos passando por uma recessão e vivendo um momento tenso. Fico vendo as pessoas necessitadas e continuo dizendo que tudo o que a gente puder fazer por quem não tem condições, devemos fazer: doar roupas, alimentos não perecíveis, produtos de limpeza, livros. O que cada um puder fazer para ajudar, faça. Todos nós temos essa obrigação e estamos no mesmo barco”, avalia.



Projetos de vida


Mesmo com tantos compromissos na tevê, Lília Cabral ainda arranja tempo para atuar no teatro e no cinema. De tão vitoriosos, alguns projetos acabam rendendo frutos em mais de um veículo. No final dos anos 2000, o sucesso do espetáculo teatral “Divã”, de Martha Medeiros, foi tão grande que Lília resolveu se envolver na produção de um filme e, posteriormente, uma minissérie de tevê. “Mercedes é uma personagem que me deu muitas alegrias. Ela reflete as incertezas da mulher madura e acho que por isso o projeto conseguiu entrar no coração das pessoas”, destaca.

Em 2010, Lília embarcou em uma nova empreitada teatral com “Maria do Caritó”, comédia assinada por Newton Moreno que rodou o Brasil. Após uma longa turnê que durou cerca de cinco anos, Lília enxergou o potencial da personagem para a tela grande. Com direção de João Paulo Jabur, o longa homônimo chegou aos cinemas em meados do ano passado. “Confesso que hesitei um pouco. Achava que as pessoas começariam a pensar que eu tinha dificuldade em abandonar personagens. Por fim, os filmes são uma forma de eternizar esses trabalhos que me fizeram tão feliz”, explica, aos risos.