Manter boa relação bilateral requer cuidado do Brasil, diz China

A China não escondeu a irritação com o governo brasileiro em razão de dois ataques sofridos nos últimos dias

Bandeira da China - Image Source/Folhapress

A Embaixada da China deixou claro nesta sexta-feira (10) que preza a boa relação com o governo brasileiro, mas que ela ficará ameaçada caso não cessem os ataques ao país asiático de figuras importantes ligadas ao presidente Jair Bolsonaro, em razão da Covid-19.

"Nossas economias são muito complementares. Temos necessidades cotidianas e estratégicas para fomentar a nossa cooperação. Mas isso requer um cuidado, um carinho muito especial. Temos que colocar tijolos nessa parceria, em vez de tirar os alicerces desse edifício", afirmou em entrevista coletiva o ministro-conselheiro Qu Yuhui, porta-voz da embaixada.

A China não escondeu a irritação com o governo brasileiro em razão de dois ataques sofridos nos últimos dias. Primeiro pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, que atribuiu ao país asiático a culpa pela crise mundial do coronavírus.

Depois pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que ironizou o modo como a fala dos chineses costuma ser retratada, comparando-a à do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. Nenhum dos dois pediu desculpas, o que gerou forte reação chinesa.

O ministro repetiu que a China considerou as declarações irresponsáveis. Sobre Weintraub, disse que o conhecimento dele sobre o país "é muito aquém do que desejamos".

Em diversas ocasiões, contudo, o diplomata reforçou que esses episódios até o momento não comprometeram de maneira significativa a relação bilateral. "Há um sentimento anti-China, racista, xenófobo, e esse tipo de declaração coloca óleo ou gasolina nessa fogueira pequenina. Isso não é favorável à manutenção de um bom ambiente de cooperação. Por outro lado, as relações entre China e Brasil são muito maduras", afirmou.

Em um recado ao presidente, o ministro-conselheiro colocou-se contra as duas principais medidas defendidas por ele para lidar com a crise do coronavírus.
Sobre o uso da hidroxicloroquina, afirmou que a China ainda é muito cautelosa. "Ainda não temos medicamentos 100% comprovados para curar o coronavírus. No caso da cloroquina, estão sendo feitos testes clínicos, mas ainda não está sendo aplicada no tratamento".

Também se manifestou contrariamente à flexibilização do isolamento social.
"Não é hora de relaxar. Não estou olhando com bons olhos as medidas de afrouxamento tomadas por alguns estados. No Brasil, a curva ainda está em expansão. E na China continuamos a fazer enormes esforços para continuar a combater a Covid-19", declarou.

Recentemente, o governo chinês encerrou o isolamento da cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, uma vez que a situação lá já está perto de ser controlada.
Qu afirmou que a China não pode se responsabilizar pela carga de 600 respiradores retida em Miami na semana passada, que seria destinada ao Nordeste. Ele alfinetou os EUA, ao dizer que a desistência do negócio é de responsabilidade de uma empresa intermediária americana.

"Depois parece que [a carga] foi revendida para outra cidade nos EUA. Não foi o fornecedor da China que desviou, para não falar do governo chinês", afirmou.
Ele foi genérico ao ser perguntado se o governo de seu país pode ajudar o governo brasileiro ou os estaduais a comprar e transportar materiais para o combate à doença.

O governo da Bahia, por exemplo, adquiriu uma nova carga, de 300 respiradores, para substituir a que ficou retida nos EUA, mas tem dificuldade para conseguir buscá-la. "A vontade existe para ajudar. Mas é uma questão técnica e operacional. Nesse momento, a logística internacional tem sido um dos gargalos", declarou.

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