Ricardo Salles exonera diretor de proteção ambiental do Ibama

Demissão é decorrente do mal-estar após reportagem veiculada na TV Globo sobre operação para expulsar invasores de terras índigenas

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - José Cruz/Agência Brasil

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, exonerou, na segunda (13), Olivaldi Azevedo, diretor de proteção ambiental do Ibama. A exoneração do major da Polícia Militar de São Paulo foi publicada nesta terça (14) no Diário Oficial da União.
Olivaldi foi nomeado logo no início da gestão de Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente.

A exoneração ocorreu após a exibição no programa Fantástico, da Rede Globo, de uma operação do Ibama para expulsar invasores de terras indígenas. A operação do Ibama também envolveu destruição do maquinário dos garimpeiros, ação permitida segundo o artigo 111 do decreto 6.514, de 2008, mas criticada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

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Em 5 de novembro, Bolsonaro afirmou a representantes da Febram (Federação Brasileira da Mineração) que atuam no Sul e no Sudeste do Pará, na saída do Palácio da Alvorada, que iria tomar providências contra a destruição de maquinário durante fiscalizações ambientas.

Contudo, afirmações semelhantes já levaram a exonerações. Após ser anunciado como novo superintendente regional do Ibama no Pará, Evandro Cunha dos Santos foi exonerado após afirmar, em audiência pública, que havia recebido ordem para interromper a queima de veículos que são flagrados pela fiscalização do órgão federal cometendo crimes ambientais na Amazônia.

Além das imagens de destruição de equipamentos, diversos agentes do Ibama aparecem dando depoimentos na reportagem, o que não tem sido uma prática comum desde o início da gestão Salles. O ministro limitou o poder de comunicação do órgão e toda demanda entre o Ibama e a imprensa precisa passar pela assessoria do ministério.

Durante a reportagem do Fantástico, um posseiro que estava no local e fora expulso pelo Ibama afirmou: "Com aquela conversa que saiu do governo federal, com o ministro, um redução de 5% das áreas indígenas. A gente tá com essa esperança, com essa expectativa para que um dia aconteça isso, para realmente o governo legalizar o pessoal aqui dentro. Enquanto isso a gente tá ocupando aqui."

Especialistas têm alertado constantemente que as afirmações do presidente quanto à exploração na Amazônia podem incentivar a destruição da floresta. Além dos problemas ambientais que causa, a mineração ilegal em terras indígenas pode expor os índios à Covid-19. Na última quinta-feira (9), ocorreu a primeira morte pela doença entre os ianomâmis. Alvanei Xirixana, 15, morreu no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista. Ele estava internado na UTI havia seis dias.

Xirixana era da aldeia Rehebe, que fica às margens do rio Uraricoera, região de entrada para milhares de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami (AM/RR). Ele estava ali quando seu estado de saúde piorou e foi transferido para Boa Vista.

O contágio do adolescente aumentou a apreensão entre os ianomâmis de que se repita a tragédia provocada pela "invasão garimpeira", entre os anos 1960 e 1980, que resultou na morte de cerca de 15% da população, principalmente por causa do sarampo, uma doença viral. Questionado, o Ministério do Meio Ambiente não explicou a motivação da exoneração de Olivaldi até a publicação desta reportagem.