Após rompimento com Boeing, Embraer negocia socorro com BNDES

As conversas foram iniciadas após o rompimento do acordo de compra da área de aviação civil da Embraer pela Boeing, no fim de abril

Boeing e Embraer - Eric Piermont / AFP

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) negocia com a Embraer e bancos privados operação de socorro semelhante ao que vem negociando com as companhias aéreas brasileiras. A expectativa é que o acordo com a fabricante de aeronaves seja concluído até junho.

As conversas foram iniciadas após o rompimento do acordo de compra da área de aviação civil da Embraer pela Boeing, no fim de abril. Assim como o setor de transporte aéreo, os fabricantes de aeronaves enfrentam efeitos da suspensão de viagens após o início da pandemia de coronavírus.

A informação foi divulgada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pela Folha de S. Paulo. Nem BNDES nem Embraer comentaram o assunto, mas a reportagem apurou que a ideia é usar o mesmo modelo em negociação com as aéreas e outras grandes empresas dos setores de energia ou montadoras.

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O modelo prevê a participação de bancos privados e a oferta de um pacote de diferentes instrumentos de mercado, como empréstimos, compra de participação acionária ou títulos lastreados em ações, como debêntures conversíveis.

A empresa apoiada terá que renegociar dívidas com instituições financeiras e se comprometer a suspender distribuição de dividendos a seus acionistas ou pagamento de bônus a executivos. O banco espera anunciar as primeiras operações com aéreas ainda em maio.

Não há ainda um valor definido para a operação da Embraer, embora a empresa tenha falado em US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões). A companhia fechou 2019 com prejuízo de R$ 1,3 bilhão, o dobro das perdas registradas em 2018. O resultado, porém, incluiu baixa contábil do segmento de aviação executiva, que seria vendido à Boeing.

O acordo entre as duas empresas foi cancelado no dia 25 de abril. Vivendo suas próprias dificuldades financeiras, que começaram com os problemas operacionais na linha 737 Max e foram agravados com o coronavírus, a Boeing alega que a Embraer não tomou todas as medidas necessários para concluir a operação.

A brasileira defende, porém, que as alegações são falsas e decidiu iniciar um processo de arbitragem para tentar recuperar as perdas que diz ter sofrido com a preparação para a venda da área de aviação comercial. O acordo entre as empresas vinha sendo costurado desde 2017.

Privatizada há 26 anos, a Embraer tem hoje entre os seus principais acionistas os fundos de investimentos Brandes Investment Partners, Blackrock e Hotchkis & Wiley, além do próprio BNDES, que tem 5,4% da empresa por meio de sua subsidiária de participações, o BNDESPar.

Caso a operação de socorro seja concluída com sucesso, a expectativa é o que o BNDES sai com uma fatia maior do que a atual. A direção do banco defende que, como em outras negociações, os instrumentos oferecidos sejam de mercado, sem juros subsidiados.

Em documento enviado à CVM (Comissão de Valores Imobiliários) na quinta (30), a Embraer enumera entre os potenciais efeitos da pandemia atrasos nos pagamentos e cancelamento de encomendas de aeronaves já feitas, tanto na aviação civil quanto em jatos executivos.

Para além da pandemia, a companhia disse ainda ver o risco de redução no número de clientes, já que é esperado um processo de consolidação no setor, com a fusão de companhias aéreas e a consequente queda no número de novas encomendas.

"Um declínio contínuo nas condições gerais econômicas poderá ainda resultar em reduções nas viagens aéreas e demandas reduzidas por nossas aeronaves", diz o documento. "Não podemos prever a magnitude ou duração do impacto que os referidos eventos terão não só na indústria de transporte aéreo como um todo, mas também no nosso negócio em particular."