Paulo Guedes aposta em Alcolumbre e centrão para driblar Rodrigo Maia

Para Guedes, as ideias da Economia encontram respaldo de Alcolumbre

Paulo Guedes - Wils

Em conflito com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro Paulo Guedes (Economia) busca alternativas para fazer as propostas da área econômica prosperarem no Congresso.

Para driblar Maia, ministro e equipe apostam no presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e em congressistas do centrão, grupo que reúne cerca de 200 deputados de partidos como PP, PL, Republicanos, Solidariedade e MDB, entre outros.

Para Guedes, as ideias da Economia encontram respaldo de Alcolumbre. O senador conduziu a operação para reverter o que a equipe econômica considerou uma bomba fiscal criada pela Câmara no pacote de socorro a estados.

Leia também:
Delegados da PF acusam Guedes e senadores de perseguição após previsão de congelamento de salário
Maia diz que texto de socorro do Senado prejudica estados do Sul


Membros do ministério também comemoram as articulações do centrão com o Palácio do Planalto, apesar de afirmarem que rejeitam investidas do grupo sobre a pasta.

A avaliação é a de que o movimento de aproximação desses congressistas com o governo pode retirar de Maia a sensação de que a Câmara é seu domínio e terá a palavra final sobre todo projeto que passa pela Casa.

O conflito entre Guedes e Maia se acentuou durante a tramitação do pacote de socorro a estados e municípios por causa da pandemia do novo coronavírus.

A equipe econômica chegou a apresentar um conjunto inicial de medidas que somava R$ 88,2 bilhões, com repasses diretos aos entes, renegociação e suspensão de dívidas e facilitação de crédito.

Parte do pacote previa medidas de ajuste fiscal por parte dos governos regionais.
Texto alternativo articulado por Maia retirou as contrapartidas, ampliou benefícios e passou a prever o pagamento de uma compensação variável aos entes.

Nos bastidores, Guedes passou a atacar Maia. Ele disse que o presidente da Câmara se associou a governadores e congressistas da oposição para enfraquecer o presidente Jair Bolsonaro.

A pasta montou uma estratégia de contra-ataque, com articulação no Senado e divulgação de notas técnicas mostrando a ampliação do custo das medidas aos cofres públicos.

Um dos documentos afirmava que o texto aprovado na Câmara poderia gerar impacto superior a R$ 200 bilhões. Após a divulgação do cálculo, Maia acusou Guedes de mentir e espalhar informações falsas.

Nos últimos dias, Maia e Guedes chegaram a trocar mensagens, segundo congressistas aliados do presidente da Câmara. Mas isso não significou, de acordo com deputados, uma trégua definitiva.

A estratégia da pasta no socorro a estados foi bem-sucedida. O Senado aceitou uma contraproposta do governo e alterou o pacote da Câmara.

O novo texto reduziu o impacto total para R$ 120 bilhões. A proposta incluiu, a pedido de Guedes, um congelamento salarial de servidores públicos.

Nesta terça-feira (5), Maia fez questão de evidenciar que a relação com Guedes ainda está tensa. Ao defender o esforço da Câmara para aprovar o socorro aos entes federados, alfinetou o ministro.

"Vimos a forma como o ministro da Economia tratou a Câmara dos Deputados, tratou principalmente a minha pessoa, achando que ataques iriam reduzir a nossa certeza", disse.

"Mas achava que aquela agressão iria nos colocar numa posição de submissão. A Câmara dos Deputados nunca será submissa a nenhum governo, será sempre respeitosa e sempre vai trabalhar de forma independente."

Passada a votação do socorro a estados, deputados e senadores têm pela frente a análise de outras propostas que podem gerar impacto fiscal. As medidas são combatidas por Guedes.

Congressistas articulam, por exemplo, um aumento do valor pago pelo governo a trabalhadores que tiverem o contrato suspenso ou redução de jornada e salário.

Outra medida já aventada no Congresso e vista com restrições pelo Ministério da Economia é eventual ampliação do número de parcelas do auxílio emergencial de R$ 600.

Técnicos da pasta afirmam que os gastos públicos não podem ser ampliados infinitamente porque a conta será paga pela sociedade no futuro, seja por descontrole da economia, seja com aumento dos juros, seja com inflação.

Para auxiliares de Guedes, Maia também faz acenos à oposição, outro fator que dificulta a relação.

A relatoria da proposta que trata dos cortes de jornadas e salários foi dada a Orlando Silva (PCdoB-SP). O deputado é crítico a Bolsonaro e aliado do presidente da Câmara.

Técnicos do Ministério da Economia afirmam que o comportamento do centrão pode ser decisivo nos próximos meses.

Para eles, se a aproximação do grupo ao Planalto se consolidar, o governo ganhará votos no Congresso e poderá reduzir a influência de Maia no Legislativo.

Apesar da avaliação, membros da Economia fazem ressalvas ao centrão. Eles afirmam que resistem a investidas do grupo sobre a pasta.

A aposta no centrão, porém, pode esbarrar em divergências do grupo com Guedes.

Integrantes desses partidos que têm se aproximado de Bolsonaro, como por exemplo, o líder do PP, Arthur Lira (AL), são críticos à política econômica do ministro.

Em mais de uma vez, congressistas criticaram Guedes por não querer assumir gastos durante a pandemia. Além disso, reclamam também da demora da pasta em liberar recursos após lançamento de programas.

De todo modo, desde que começaram a se aproximar do Planalto, esses deputados têm pregado que o Congresso precisa ter responsabilidade e ficar atento ao impacto fiscal das medidas que aprova.

Congressistas dizem que também há divisão sobre o lado que tomam no embate entre Guedes e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). Este último propôs um plano desenvolvimentista, que prevê obras com investimento público para gerar crescimento.

O pacote levou a um embate entre Marinho e Guedes. E na última semana, para esfriar os rumores de que o titular da Economia poderia deixar o governo, Bolsonaro afirmou que quem comanda a política econômica é Guedes.

A briga entre ambos segue. Marinho tem respaldo de parte da ala militar, que tem bastante influência sobre Bolsonaro.

Nesta segunda, aliados de Marinho compartilharam uma pesquisa da XP Investimentos, segundo a qual 65% das pessoas apoiam uma mudança no rumo da política econômica "com mais investimentos do governo para o Brasil voltar a crescer", para dizer que ganham força o Pró-Brasil e Marinho na briga com Guedes.