Com espetáculos suspensos, companhias de teatro tentam sobreviver à pandemia

Através de novos formatos, editais e outros incentivos, os grupos buscam alternativas para sobreviver durante a pandemia da COVID-19

Companhias têm dificuldade de projetar a retomada após a pandemia do novo coronavírus: espectadores estarão receosos - Felipe Ribeiro/Arquivo Folha

A interação entre os atores em cena, o contato físico com o público e as casas cheias durante os finais de semana faziam do teatro a arte da aproximação com o espectador. A partir da segunda quinzena de março, quando houve um decreto oficial proibindo eventos acima de 50 pessoas em Pernambuco, as casas de espetáculos foram fechadas, ensaios encerrados e a contumaz interação de antes já não era mais permitida por conta das recomendações de isolamento social como estratégia de combate à Covid-19.


Quase dois meses depois, as medidas de distanciamento continuam em vigor, obrigando a classe artística a pensar em outras alternativas de sobrevivência no período pós-pandemia no Estado. “Acho que o caso mais crítico é com os circos, já que os trabalhadores estão recebendo cestas básicas para sobreviver. Mas a arte, num geral aqui, está sofrendo bastante. Os técnicos de produção que trabalhavam com teatro e cinema estão todos parados esperando uma solução”, explica Ivone Melo, a presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado de Pernambuco.

AQUI E AGORA

Para diminuir esses impactos, grupos expressivos de teatro em Pernambuco estão encontrando saídas para manter contato com o público através de outras experiências sensoriais, oferecidas pelas tecnologias. Como é o caso do grupo Magiluth, que montou o projeto “Tudo o que coube numa VHS: Experimento sensorial em confinamento”, que estreia hoje e encerra a temporada no dia 31 de maio. Nele, a equipe que é formada por Giordano Castro, Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Mário Sérgio Cabral, Lucas Torres e Pedro Wagner, o espectador poderá ter uma experiência sensorial e particular com um dos atores envolvidos através de múltiplas plataformas digitais.

Com o ingresso a R$ 20, a sessão pode ser marcada previamente e o público informa os seus endereços do Spotify, WhatsApp, Instagram e e-mail, por exemplo, para ter diferentes experiências.  “Esse não é um trabalho essencialmente de teatro. Nosso trabalho é de contato com o público, levamos as pessoas para o palco. Temos esse contato. Nós fomos os primeiros atingidos e seremos os últimos a nos recuperar”, afirma o ator e um dos integrantes do grupo, Giordano Castro.



Prestes a completar 10 anos de existência em 2020, o grupo Teatro de Fronteira não esperava a interrupção da sua comemoração de uma década. A cada mês, o público iria acompanhar uma intervenção diferente. Agora, com o distanciamento social, a coletivo vai apresentar um projeto virtual aprovado em edital do Itaú Cultural. “No momento, a classe pensa mais em como sobreviver do que em projetos em si. Este foi um projeto nosso pontual para dar andamento a uma emergência, mas que não cobre tudo. Não sabemos como ele vai ser publicado, mas vai se chamar “QueerAntena”, em alusão à quarentena”, explica o ator e produtor Rodrigo Cavalcanti.


FUTURO


Sobre o futuro do teatro em Pernambuco, ele aponta dificuldades em pensar em alternativas para a sobrevivência da arte. “Nós fomos contemplados com o edital, mas quantas pessoas se inscreveram? Foram 10 grupos escolhidos, mas foram centenas de inscritos. Há muita demanda e poucas ofertas de editais. Hoje, quase nenhum grupo consegue sobreviver de bilheteria de teatro, com exceção de grupos grandes. Depois da pandemia, as pessoas vão gastar menos e ter mais restrições para ter acesso a aglomerações”, reafirma o ator.

Além do edital do instituto Itaú Cultural, o Petrobras Cultural expandiu seu prazo de inscrição para o dia 15 de maio - produtores poderão enviar projetos de artes cênicas para crianças de até seis anos. Esta é a primeira de uma série de três chamadas para patrocínios a serem lançadas em 2020, que somarão valor total de R$ 10 milhões. A verba para esta primeira chamada é de R$ 3 milhões, destinados à circulação de espetáculos de teatro, dança e circo. As inscrições no site www.petrobras.com.br/cultura.

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