Artistas plásticos pernambucanos falam dos impactos da pandemia
No Brasil, Dia do Artista Plástico é celebrado nesta sexta-feira. Sem exposições e com galerias fechadas, artistas enfrentam novos desafios
A crise provocada pela pandemia da Covid-19 impôs novos desafios a profissionais de diversos segmentos, incluindo os relacionados à cultura. Não foi diferente com os artistas plásticos, cujo dia oficial é celebrado nesta sexta-feira (8) no calendário nacional. Assim como tantos brasileiros, eles têm vivido dias atípicos. Sem exposições e com as galerias fechadas, o impacto é sentido no bolso e na criação. A Folha de Pernambuco ouviu alguns nomes da cena pernambucana para saber como eles estão lidando com esse momento.
Para Jota Zer0ff, conhecido principalmente pela intervenções urbanas que executa por meio do grafite, a pandemia atrapalhou os planos de expandir seu trabalho para outros estados do Brasil. “Eu tinha algumas viagens planejadas e precisei cancelar tudo”, conta. O impacto econômico dessa nova realidade já está sendo sentido pelo artista, com menos obras sendo vendidas.
“O mercado de arte já era complicado antes e, com isso tudo, ele eleva mais uns dois níveis de problemas. Até apareceram novos clientes, que gostam do meu trabalho, mas tudo se torna bem mais difícil. As pessoas vão gastar dinheiro com o que elas consideram essencial e, para muitos, a arte fica em segundo plano”, lamenta.
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Zer0ff faz parte do casting de artistas da Nuvem Produções, que mantém um site para a comercialização das obras dos seus agenciados. Dessa forma, mesmo sem poder ir a uma galeria ou ateliê, o comprador pode escolher a obra e comprá-la. Algumas peças, inclusive tiveram os preços alterados após a pandemia.
Criatividade
Toda a pressão psicológica que envolve a quarentena também acaba afetando o lado criativo dos artistas. Zer0ff conta que tem se esforçado para conseguir abstrair a enxurrada de más notícias e buscar inspiração. “O absurdo político em cima de uma calamidade é o que está me deixando mais ansioso. Isso atrapalha um pouco na hora da produção. Tem sido um caos na minha cabeça que eu tenho tentado vencer todos os dias”, revela.
Apesar dos empecilhos, Zer0ff ainda consegue se concentrar em sua arte. “Surgiram várias ideias, vários projetos paralelos aos que eu já estava fazendo. Veio uma nova temática sobre sobre a cultura nordestina carnavalesca. Estou usando novas técnicas e estudando bastante”, conta. Dani Acioli compartilha que produzir nos dias de quarentena requer muita disciplina da parte dela.
“A gente imagina que, por estar em home office, vai ter mais tempo de criar. Só que eu tenho um trabalho paralelo e, além disso, a casa tem uma rotina própria. Eu me sinto ainda muito travada para produzir. Isso me angustia um pouco. Emocionalmente, tudo tem mexido de maneira muito forte comigo e nem sempre acaba saindo algo”, diz.
Bruno Vilela passou passou a frequentar menos o ateliê e a produzir no próprio apartamento. A mudança de ambiente trouxe alterações na dinâmica criativa. “Preciso lembrar que estou em um ambiente doméstico. Então, estou fazendo telas menores, não estou usando solvente carvão e pastel seco, que tudo isso suja a casa inteira. É um trabalho menor, mais contido”, aponta. Um quadro iniciado antes da pandemia e concluído há poucos dias acabou ganhando o nome de “Isolamento”.
Com os museus e galerias fechados, o lugar onde os artistas têm encontrado o público é o das redes sociais, especialmente o Instagram. Bruno já participou de duas lives nesse período e gostou da experiência. “O que eu estou percebendo é que os artistas estão se doando mais, mostrando como é o processo”, conta. Para Jota Zer0ff, o contato com os admiradores é revigorante. “Eu vejo vários comentários das pessoas agradecendo pelo meu empenho, por estar usando a minha arte de forma que ajude eles também a superar essa situação”, afirma.
O futuro do mercado de artes plásticas, mesmo após a pandemia, ainda é incerto. A importância da arte para sociedade passar por um momento como esse, no entanto, parece estar muito bem definido nas cabeças dos artistas. “A cultura, de maneira geral, é fundamental à vida. Em todos os piores momentos do mundo, a arte sempre deu uma resposta muito viva”, assegura Dani Acioli.