Colombianos dormem há dias no aeroporto de Guarulhos à espera de repatriação
Eles estavam morando no Brasil, mas perderam o trabalho por causa da quarentena. Sem condições de pagar aluguel e outras contas, decidiram retornar para a Colômbia
Um grupo de colombianos que tenta voltar ao seu país de origem está dormindo há mais de dez dias no aeroporto internacional de Guarulhos por não ter dinheiro para se hospedar em São Paulo neste momento de pandemia.
São cerca de 15 pessoas que chegaram em momentos variados ao local, alguns vindos de outros estados e tendo percorrido a pé longos trechos na estrada. Eles estavam morando no Brasil, mas perderam o trabalho por causa da quarentena. Sem condições de pagar aluguel e outras contas, decidiram retornar para a Colômbia.
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Eles afirmam que tentaram embarcar em um voo de repatriação que foi organizado com a ajuda do consulado colombiano no último sábado (9), mas não conseguiram pagar a passagem, que estava com preço acima do normal - 2,5 milhões de pesos colombianos (o equivalente a R$ 3.700) somente ida, quando antes da pandemia cobrava-se em torno de 1,6 milhões de pesos pelo trajeto de ida e volta.
Também não teriam dinheiro para arcar com os gastos de hotel e comida em Bogotá, onde todo viajante que chega é obrigado a ficar em quarentena por 14 dias, antes de conseguirem voltar para suas cidades.
"A pandemia nos pegou de surpresa. Ficamos sem recursos para pagar o aluguel e até para comer", conta Maria Victoria Carvajal, 34, que é da cidade de Cali e vivia há quase três anos nos arredores do Recife. Ela e o marido trabalhavam em uma loja de roupas, que parou de funcionar por causa da quarentena. "Além disso, minha mãe está internada na UTI e preciso estar lá para ajudá-la. Viemos para São Paulo porque é daqui que saem os voos."
O casal está há 11 dias dormindo no chão do terceiro andar do terminal 2 do aeroporto. Não há chuveiro para tomarem banho e eles cozinham com lenha os alimentos que recebem como donativos de algumas pessoas que passam por lá. Dois cunhados de Victoria também vieram - um deles era jogador do time de futebol CSA, em Maceió.
Outros conterrâneos foram se juntando ao grupo, inclusive uma mulher com duas crianças, mas depois a família foi abrigada na casa de um parente em São Paulo. Um russo também foi "adotado" por eles, apesar de não conseguirem se comunicar por não falarem um idioma em comum. "Estamos alimentando-o com o que conseguimos. Também é um ser humano e temos que ajudá-lo", diz Victoria.
Eles dizem que entraram em contato com a chancelaria de seu país, mas não receberam resposta sobre sua situação. Afirmam que conseguiram negociar com uma companhia aérea um voo que estava partindo quase vazio para Bogotá, mas que precisariam de uma permissão do consulado em São Paulo, do qual afirmam não terem recebido resposta. Também pensaram em ir de ônibus, mas precisavam, da mesma maneira, da autorização consular.
A esperança era, então, conseguir embarcar no voo de sábado (9), no qual viajaram outros colombianos que queriam retornar, muitas delas turistas. Mas o preço foi impeditivo para eles. "Um voo humanitário supostamente deveria sair mais barato do que o normal, e não muito mais caro", diz Victoria. A reportagem procurou o consulado da Colômbia em São Paulo e a chancelaria do país, mas não obteve respostas.
Em um vídeo gravado por eles, um representante do consulado que foi ao aeroporto explica que apesar de o governo ter destinado uma verba para suas representações no exterior gerirem a crise da pandemia, não há recursos para financiar passagens e que só poderá embarcar quem pagar o valor do bilhete. "Qual é a solução para nós, que não temos recursos pro voo? Vamos morrer aqui?", pergunta um dos integrantes do grupo. "Não tenho nenhuma solução para isso", responde.
Victoria diz que uma funcionária da chancelaria passou a eles o nome de um abrigo em Guarulhos, mas eles resolveram não ir. "Não queremos ir para um refúgio, onde vão nos deixar e nos esquecer. Queremos ir embora." Ela afirma que eles pretendem juntar o dinheiro que conseguirem com familiares para ver se negociam o retorno pelo valor que for possível.
No grupo, há imigrantes que moravam em Goiânia, Fortaleza e João Pessoa. Dois homens que viviam em Campo Grande (MS) começaram a viagem até São Paulo a pé e chegaram a andar quatro dias, quando um deles foi atropelado. "Caminhávamos de noite e de madrugada, porque era mais fresco. Às 19h30, um carro passou por cima do meu amigo", conta um deles, John Edinson Restrepo, 30. "Ele demorou vários minutos para reagir, sangrava pelo nariz e pela boca. Depois passou a polícia, nos levou ao hospital e ele teve alta no dia seguinte", conta.
John trabalhava em um lava-jato na capital do Mato Grosso do Sul, mas perdeu o emprego durante a quarentena. Agora, quer voltar para sua cidade para trabalhar no cultivo de café, como fazia antes. Diz que tem muito medo de contrair o coronavírus em São Paulo e usa máscaras e luvas o tempo todo. "É um inimigo invisível. Mas na Colômbia estaria melhor do que no Brasil, porque ao menos lá temos nossos parentes e eu poderia ficar isolado trabalhando no campo e conseguir algum dinheiro para enviar ao meu filho pequeno."
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