Como Fernando de Noronha se tornou exemplo no combate à Covid-19

Resultados do Arquipélago baseiam-se na adoção do confinamento total pela população

Praia do Porto de Santo Antônio, em Fernando de Noronha - Divulgação

Um dos primeiros locais do Brasil a adotar medidas mais rígidas de isolamento social contra a Covid-19, o Arquipélago de Fernando de Noronha, localizado a 545 quilômetros do Recife, conseguiu zerar os casos da doença e se tornou exemplo no combate ao novo coronavírus. Ao todo, a Ilha registrou 28 infecções. Todos os pacientes foram curados e não houve nenhuma morte. O hospital de campanha montado na Escola Arquipélago esvaziou seus leitos.

O bom resultado do distrito pernambucano no combate à doença pode ser explicado pela adoção de medidas restritivas logo no início da doença, como a quarentena obrigatória - que terá início no próximo sábado (16) em cinco cidades da Região Metropolitana do Recife, conforme decreto do Governo de Pernambuco.

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O primeiro caso de infectado por Covid-19 em Fernando de Noronha foi confirmado no dia 27 de março, o de um funcionário do Aeroporto Wilson Campos, um homem de 48 anos. Nove dias depois, em 5 de abril, quando eram registrados apenas sete casos confirmados, a entrada na Ilha foi proibida para moradores e turistas. O acesso às praias também foi bloqueado, assim como as aulas nas escolas foram suspensas.

Em 20 de abril, a Administração deu início à quarentena obrigatória em Noronha. Apenas trabalhadores de serviços essenciais, como saúde e segurança, podiam seguir com suas atividades. Foi disponibilizado um formulário para autorização de circulação de pessoas por vias públicas. A essa altura, o balanço de infectados contabilizava 26 pacientes. Desde então, apenas mais dois casos foram confirmados, em 22 de abril.

Nos 16 dias seguintes, não houve mais nenhuma contaminação local e, finalmente, na última sexta-feira (8), os últimos dois pacientes apresentaram cura clínica, elevando a 100% a taxa de recuperação. Os últimos quatro casos ainda em investigação foram descartados no sábado (9).

Os resultados de Noronha são similares a de países insulares como Taiwan, Cingapura, Nova Zelândia e Austrália. Na Nova Zelândia, por exemplo, que aplicou mais de 37 mil testes por milhão de habitantes, houve apenas 1.492 infecções e 21 mortes. Em Taiwan, as autoridades contabilizam 440 casos e seis mortes.

O gráfico a seguir mostra a evolução dos casos de Covid-19 em Fernando de Noronha. É possível observar o achatamento da curva, algo tão pedido pelas autoridades de saúde.


Administrador fala sobre os resultados
Por ser uma ilha com população regular de aproximadamente 3,3 mil habitantes, Fernando de Noronha teve vantagem para vencer a Covid-19. Essa predisposição geográfica aliada às medidas tomadas de forma precoce e à obediência da população ajudaram nos resultados alcançados, como defende o administrador Guilherme Rocha. “O resultado se deu principalmente pelo respeito que a população teve por esse momento. No início sofremos muito, principalmente quando anunciamos o lockdown, afirmando que era uma medida rígida, mas necessária”, disse.

“Mostramos ao Brasil e ao mundo que o isolamento é o caminho correto. Fizemos e está aí o resultado: 100% de curados e nenhuma morte”, acrescentou Guilherme Rocha. O administrador ressalta que não houve nenhuma infecção em idosos e pessoas com comorbidades, integrantes do grupo de risco da Covid-19. “O próximo passo é abrir a Ilha para a própria comunidade. Dois meses atrás parecia um sonho distante, mas todo esse trabalho traz esse resultado. A primeira batalha foi vencida, mas a guerra continua”, continuou Guilherme.

“Em vez de comemorar agora, vamos rezar pelo Brasil. Não podemos comemorar enquanto temos mortes diárias no País. Se estamos sendo um exemplo, que esse exemplo seja seguido. Vamos pedir para que as mentes se abram um pouco e tenham compaixão com a população, que vem sofrendo tanto”, concluiu Guilherme Rocha.

Agora, a população da Ilha precisa seguir com as medidas de higiene e apenas serviços essenciais permanecem funcionando. Um protocolo para a flexibilização foi desenhado pela Administração e um estudo epidemiológico irá estudar a circulação do vírus da Covid-19 em Noronha. “Esse estudo vai dizer se o vírus ainda circula na Ilha e se circulou onde não sabíamos. Vamos saber qual a matriz de risco de Noronha aqui e em relação ao continente”, detalhou Guilherme.

Segundo o administrador, o resultado do estudo deve sair em um prazo de 15 a 20 dias. “Enquanto isso vamos trabalhando na flexibilização. A primeira etapa é começar a reabrir para a comunidade. Vamos nos cuidar para não sofrermos uma segunda onda”, explicou. Uma cartilha com uma série de recomendações à população para manter o controle sobre o novo coronavírus foi preparada para ser distribuída. A volta dos moradores de Fernando de Noronha que voltaram ao continente é estudada, mas, segundo Guilherme Rocha, ainda não há uma data específica.

Administrador de Fernando de Noronha, Guilherme Rocha - Foto: Divulgação