Vida e obra de Lia de Itamaracá é contada em livro

Cirandeira mais famosa do Estado tem biografia, escrita por Michelle de Assumpção, lançada pela Cepe

Lia de Itamaracá, artista pernambucana - Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

Quando criança, Lia de Itamaracá desejava ser uma artista reconhecida. Quem hoje vislumbra a imagem imponente da mulher de 76 anos de idade, capaz de fazer multidões darem as mãos ao som da ciranda, sabe que mais do que uma cantora famosa ela se tornou uma figura lendária. O caminho percorrido por Maria Madalena Correia do Nascimento, da origem humilde até a consagração pública, é contada através do livro “Lia de Itamaracá: nas rodas da cultura popular”, da jornalista Michelle de Assumpção. Quarto título da Coleção Perfis, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), a publicação será lançada nesta quinta-feira (14), às 17h30, em transmissão ao vivo no Instagram, com bate-papo entre a autora e Diogo Guedes, editor da Cepe.

Como jornalista atuante na área cultural, Michelle vem acompanhando o trabalho de Lia há mais de duas décadas. “Foi no festival Abril Pro Rock, em 1998, o meu primeiro contato com ela. Eu era repórter e estava lá para entrevistá-la. Era algo muito inusitado, naquela época, que um evento desse tipo trouxesse um personagem da cultura popular. Isso causou toda uma comoção”, relembra. Em 216 páginas, a publicação traz ao leitor a trajetória de Lia também por meio de imagens assinadas por nomes como Alfeu Tavares, editor adjunto de fotografia da Folha de Pernambuco.

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Após receber um convite da Cepe, a autora deu início às pesquisas no começo de 2019. Além de traçar a trajetória de Lia, o livro revela a história da manifestação cultural que a artista representa. “Existia outra biografia sendo feita, baseada nas impressões e sentimentos dela diante de tudo o que viveu. Preferi fazer uma obra que mostrasse Lia dentro de um contexto maior da ciranda e da cultura popular. Não há como dissociar uma coisa da outra”, explica. Cirandeiros importantes, como Dona Duda e Mestre Baracho, assim como a nova geração, são citados ao longo da obra.

Livro é assinado por Michelle de Assumpção, jornalista que acompanha a trajetória de Lia desde os anos 1990 - Crédito: André Zahar/Divulgação



Ao buscar referências para a sua pesquisa, Michelle se deu conta da escassez de material bibliográfico sobre cultura popular no Brasil. “Se fosse usar só as entrevistas que eu colhi, não teria condições de uma dimensão mais ampla ao trabalho. Então, tive que fazer um trabalho de pesquisa mais apurado e maior, assim, mais amplo. O Arquivo Público e a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, foram fontes importantes. A partir de matérias em jornais antigos, consegui encontrar as informações que precisava para encaixar as histórias que Lia me contava”, comenta.

Esclarecedor

O rigor da apuração jornalística fez a autora corrigir alguns erros recorrentes sobre a história da artistas e esclarecer fatos polêmicos. O encontro de Lia com a ciranda, ao contrário do que muitos pensam, não ocorreu na infância. A manifestação, aliás, só chegou à ilha de Itamaracá no final dos anos 1970, pelas mãos da própria artista.
“A própria Lia diz que decidiu cantar ciranda indo ao Pátio de São Pedro para ver os cirandeiros que se apresentavam lá”, aponta. A estreia da cantora no palco foi em 1974, quando venceu o 5º Festival de Ciranda de Pernambuco. Seu nome, no entanto, já era bastante conhecido, graças à música “Quem me deu foi Lia”, composta por Baracho e gravada por Teca Calazans em 1967.

“É fundamental falar sobre essa canção, porque ela faz parte do nascimento de Lia de Itamaracá como artista. É quando ela surge para a mídia e para a sociedade, dez anos antes de gravar seu primeiro disco. As pessoas se questionavam sobre quem era a personagem cantada e, depois que Lia aparece para o público, acaba transformando a música num verdadeiro hino”, defende.

Patrimônio Vivo de Pernambuco e doutora honoris causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lia vem acumulando títulos mais do que merecidos nos últimos anos. Em mensagem de áudio enviada através de seu produtor, ela afirma que o seu foco é o futuro. “Não quero lembrar mais do que passou. Ralei muito para chegar onde cheguei, sendo reconhecida, com livros escritos, discos e participações em filmes. E tenho fé em Deus que vou mais além”, assegura.

Serviço
Livro “Lia de Itamaracá: nas rodas da cultura popular”
Michelle de Assumpção, 216 páginas, Cepe Editora
R$ 40,00 (impresso) e R$ 12,00 (e-book)