Como começar a empreender durante a crise do coronavírus

Com o desemprego em alta, mais gente se vê forçada a abrir um negócio

Tecnologia e empreendedorismo - Pexels/Divulgação

Mesmo durante a pandemia de coronavírus, o número de registros de MEI (microempreendedor individual) continuam subindo e, em abril, esse contingente ultrapassou a casa de 10 milhões em todo o país -um crescimento de 1,2% sobre março. Só no estado de São Paulo são mais de 2,7 milhões de MEIs.

Para ser MEI, é preciso desempenhar uma das mais de 500 atividades previstas para essa forma jurídica (a lista completa está no Portal do Empreendedor). O MEI pode faturar até R$ 81 mil durante o ano, pagando mensalmente um valor fixo relativo ao Simples Nacional, que já inclui o INSS.

Com o desemprego em alta, mais gente se vê forçada a abrir um negócio. É o que os especialistas chamam de empreendedorismo por necessidade. "É diferente da pessoa que percebe uma oportunidade e, para investir nela, até deixa o emprego", diz Wilson Poit, diretor superintendente do Sebrae em São Paulo.

Começar a empreender durante uma crise econômica não é a situação ideal, mas pode dar certo se forem tomados vários cuidados. "O primeiro deles é cruzar o que eu sei fazer e amo com aquilo que o consumidor necessita", aconselha Pedro Superti, consultor de marketing de diferenciação.

O empreendedor precisa estudar o mercado, conversar com possíveis clientes e perceber as carências da região onde está instalado ou vai se instalar.


"Qualquer setor tem oportunidades, desde que se ofereça algo a mais do que os concorrentes já estão fazendo", afirma Edgard Barki, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas).


Para usar um jargão do empreendedorismo, em geral se sai bem quem entende a dor do cliente, quem percebe o problema que ele tem e não está conseguindo resolver, como diz Edgard. "Por exemplo, pode haver um monte de salões de cabeleireiro em um bairro, mas nenhum focado em cabelos crespos. Se houver uma grande população negra na região, ela pode sentir falta desse serviço especializado."

Muitas vezes, o algo a mais a ser oferecido é o toque pessoal do dono, aquilo que leva o consumidor a escolher um fornecedor entre tantos outros. Outra estratégia é envolver o cliente, trazê-lo para o dia a dia do negócio, compartilhar decisões.

Pedro Superti exemplifica com a história de uma doceria que, para o último Dia das Mães, convidou o público a escrever frases para as mães e usou essas mesmas frases em um kit a ser presenteado pelos filhos. "Foi o melhor Dia das Mães em todos os tempos para essa empresa."

Sem diferenciais, o negócio corre o risco de cair na condição de commodity e competir apenas pelo preço. Para se distinguir, principalmente no início, os especialistas sugerem ações simples e simpáticas para mimar o cliente, como oferecer uma entrega mais rápida ou uma embalagem diferente, mandar uma mensagem ou um bombom junto com o pedido ou entrar em contato para saber a opinião sobre a compra.

"É preciso surpreender o consumidor, dar algo que ele não espera, considerando sempre que a qualidade do produto e do serviço é o mínimo esperado, não é nada a mais", fala Edgard. Mas faz um alerta: "O custo do mimo tem de estar embutido no preço; do contrário, o empresário quebra".

Preparar-se para gerir o negócio é outro aspecto fundamental, tão importante quanto decidir o ramo de atuação. Por isso, ambos precisam acontecer ao mesmo tempo ou, se possível, a capacitação deve vir antes, a fim de que o empreendedor tenha um plano de negócios redondo, acompanhado de um planejamento financeiro eficiente.
 

"Quem está começando deve procurar ajuda para saber mais sobre vendas e gestão financeira. Há muito conteúdo online sobre isso", diz Poit, lembrando que o próprio Sebrae disponibiliza vários cursos gratuitos em sua página na internet, além de consultorias.
 

Uma característica comum entre empresários inexperientes é a falta de disciplina financeira, que leva a confundir os custos da empresa com os custos pessoais.

"O grande problema de misturar os caixas está em não ter controle sobre as saídas e entradas. Aí, definir o preço, que já é uma tarefa difícil, torna-se impossível, e o empreendedor pode acabar não tendo lucro nenhum e quebrar", explica Edgard, da Eaesp-FGV.
 

NOVAS DEMANDAS DO MERCADO INDICAM ÁREAS PARA EMPREENDER

A pandemia causada pelo novo coronavírus mudou os hábitos da população e fez surgir, ou reforçou, novas tendências de consumo. Observar esse movimento é a melhor forma de escolher uma área para atuar. As dicas são dos especialistas ouvidos para esta reportagem.

Minirreforma doméstica

Poit acredita que o home office veio para ficar, o que levará as pessoas a fazerem pequenas adaptações em suas casas a fim de melhorar as condições de trabalho. "É uma bancada mais adequada, a instalação de mais tomadas, conexões melhores para a internet", diz.

Vendas a distância

A pandemia serviu para muitos brasileiros que nunca tinham comprado pela internet experimentarem esse serviço e gostarem. Não é preciso nem investir em um e-commerce próprio, aprendendo como vender no Instagram e podendo-se aderir a um marketplace já serão soluções simples e rápidas para iniciar. Sem contar que o WhatsApp se tornou uma das melhores ferramentas de venda para os pequenos negócios. Saiba também como vender no Instagram.

Delivery de tudo, mas principalmente de comida

Espera-se que, passada a fase de isolamento social, muita gente vai preferir ficar mais em casa e precisará de coisas que tornem a vida mais prática, como receber refeições prontas, pães artesanais, cestas de frutas e verduras etc.

Produtos e serviços relacionados a saúde e bem-estar

Tudo o que sugere uma vida mais saudável tende a ter mais procura. Por isso, além de serviços médicos, entram aqui os alimentos orgânicos, exercícios físicos e tratamentos como fisioterapia e limpeza de pele. Aparecem, ainda, os seguros de saúde.

Tecnologias low touch

Quando adquire algo pela internet, o consumidor está se valendo de uma tecnologia low touch, ou seja, a automação permite a transação sem que comprador e vendedor interajam fisicamente.

Neste momento, em que apertos de mão e outros toques representam risco para a saúde, os brasileiros descobriram outros benefícios trazidos pelo low touch, como o pagamento por aproximação do telefone celular e os assistentes virtuais acionados por voz, que configuram alarmes, ligam para um determinado número, executam músicas, entre outras tarefas simples.