De coronavírus a invasores de terra: entenda a situação dos indígenas em Pernambuco e no País

Os indígenas contam, basicamente, com o trabalho de suas lideranças comunitárias, das entidades indigenistas e profissionais de saúde, que travam uma guerra contra a Covid-19 sem a munição necessária

Indígenas da comunidade Parque das Tribos choram no funeral do chefe Messias, 53 anos, da tribo Kokama, vítima do novo coronavírus, em Manaus - Michael Dantas / AFP

Mesmo antes da pandemia do novo coronavírus se alastrar pelo Brasil, as comunidades indígenas já sofriam com a precária assistência do governo, além da crescente onda de invasões em seus territórios. Só nesta última semana, o povo Fulni-ô, em Pernambuco, registrou 13 casos confirmados (seis deles entre profissionais indígenas da saúde), com quatro infectados, sete curados e dois óbitos. Além disso, existem mais dois casos de óbitos suspeitos. Um número preocupante se considerarmos que a população desta etnia é de 4.529 (Sesai, 2013), ou seja, são 2,9 casos para cada 1.000 indígenas. Os dados são da Rede de Monitoramento de Direitos Indígenas em Pernambuco (Remdipe). 

Em relação aos povos Pipipã e Pankará, os dois óbitos ocorridos não foram em seus territórios, sendo o caso da recém-nascida Pipipã e o da idosa Pankará de 69 anos (primeiro óbito entre os povos desta etnia), que faleceu no começo do mês e teve a confirmação para a Covd-19 na última quarta-feira (12/5). Somados todos os casos, são 18 indígenas testados positivo para a doença entre os povos Atikum, Fulni-ô, Pankararu, Pankará e Pipipã.

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Já no país, são 537 infectados e 102 mortos, totalizando 40 povos atingidos nos estados do Amazonas, Amapá, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte, Roraima, São Paulo e Alagoas, além de Pernambuco (dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - Apib). Segundo Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Apib, "a melhor forma de prevenir agora é manter as comunidades isoladas e orientar que não saiam e nem recebam visitas, pois temos um histórico muito perverso de doenças contagiosas, que dizimaram etnias inteiras no passado”. A preocupação maior das entidades, ainda de acordo com sua fala, é se prevenir contra a fase mais dura do contágio, que ameaça as comunidades indígenas, proporcionalmente, na mesma projeção de avanço às cidades.

Os indígenas contam, basicamente, com o trabalho de suas lideranças comunitárias, das entidades indigenistas e profissionais de saúde, que travam uma guerra contra a Covid-19 sem a munição necessária. "Faltam EPI's (Equipamentos de Proteção Individual), vacinas contra a gripe e material para testagem do coronavírus em pessoas que apresentam sintomas de contaminação", denuncia Guajajara.

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DISPUTA POR TERRAS

Em meio à luta árdua contra a pandemia, os povos indígenas também se viram ameaçados pela Medida Provisória 910/2019, conhecida como "MP da Grilagem", que trata da regularização fundiária de ocupações de terras da União, permitindo a obtenção de título sem vistoria prévia em áreas de até 1.400 hectares em alguns municípios da Amazônia, e autoriza invasores que entraram em terras até dezembro de 2018 a se tornarem proprietários. A validade para votação da MP seria nesta terça-feira (19/5). Após pressão da oposição, formada por movimentos sociais, artistas e organizações ambientalistas, a votação foi adiada.

CAMPANHA DE ARRECAÇÃO

Em conjunto, a Comissão de Juventude Indígena em Pernambuco (Cojipe), a Comissão de Professores(as) Indígenas em Pernambuco (Copipe) e a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), lançaram uma campanha de arrecadação de recursos para combater o avanço do coronavírus entre as comunidades indígenas. As doações serão utilizadas na compra de produtos para a higienização e EPI’s. Os interessados podem fazer depósitos em conta bancária. Importante: o comprovante do depósito deve ser enviado para indigenas.contra.covid.pe@gmail.com, para prestação de contas.

Campanha: Indígenas contra a covid-19
Banco: Bradesco
Agência: 0286
Conta corrente: 131829-2
CNPJ: 03449406/0001-44

CRÍTICAS

Para a realização desta matéria, entramos em contato com o Sesai, buscando obter esclarecimentos acerca de possíveis medidas de assistência aos povos indígenas no estado durante a pandemia. Porém, até o fechamento da matéria, não obtivemos respostas. É importante frisar que entidades da sociedade civil estão preocupadas com a subnotificação da pandemia entre a população indígena, isso acontece porque os dados do órgão levam em conta apenas indígenas que moram em aldeias, excluindo os chamados "indígenas urbanizados".