Racismo e maternidade são temas fortes em “Little Fires Everywhere”

Série conta com Reese Whiterspoon e Kerry Washingtom no elenco

'Little Fires Everywhere' está disponível na Prime Video - Reprodução

Nem só de “The Handmaid’s Tale” vive a Hulu, serviço de streaming da Walt Disney. Ainda que a história das aias e a luta delas contra o patriarcado tenha colocado a empresa nos holofotes, muito conteúdo relevante vem sendo lançado no último ano com a assinatura da empresa. A novidade do momento é “Little Fires Everywhere”, minissérie que é uma adaptação do livro homônimo de Celeste Ng e que começou a ser distribuída no Brasil pela Prime Video nesta sexta-feira (22).

Protagonizada e produzida por Reese Witherspoon (The Morning Show) e Kerry Washington (Scandal), a história é ambientada na década de 1990 e gira em torno de um incêndio na casa de uma família rica nos Estados Unidos. Elena Richardson (Witherspoon) e sua família observa o fogo consumir tudo enquanto dão por falta da filha mais nova, Izzy (Megan Stott), que não está em lugar algum. Logo, a caçula vira a principal suspeita, mas a série retorna alguns meses atrás, apresentando outros personagens que também teriam motivo de causar o crime.

Leia também:
Personagens que gostaríamos de rever no derivado de ‘American Horror Story’
‘Hollywood’: Saiba quem é quem na minissérie da Netflix

Esta não é uma minissérie de suspense policial. As cenas do incêndio são apenas o resultado de uma sequência de acontecimentos anteriores em que a trama se sustenta. O título faz jus e define bem o que ocorre na história. A tradução “Pequenos incêndios por toda parte” é bem precisa no recado dado: algumas rachaduras nos relacionamentos entre os personagens e os conflitos gerados são a receita básica de qualquer tragédia.

Whiterspoon e Washington dão o tom do drama. De um lado, temos uma mãe branca e rica, com quatro filhos em fases diferentes da adolescência e que sempre tiveram tudo do melhor, ainda que sob as rédeas curtas da matriarca que não aceita nada menos que a perfeição (pelo menos a olho nu). Do outro, temos Mia (Washington), uma mãe negra e pobre que trabalha com artes plásticas e se muda constantemente de cidade, contrariando o gosto de sua filha única, Pearl (Lexi Underwood). Os dois mundos colidem quando Mia se torna a nova inquilina de Elena e ambas passam a conviver, principalmente depois que Pearl nutre um fascínio pelo mundo dos ricos na mesma medida que Izzy, a caçula rica, passa a se identificar e questionar seus privilégios.

O elenco não deixa a desejar. Depois de interpretar Madeline Mackenzie em “Big Little Lies” e Bradley Jackson em “The Morning Show”, Reese parece mostrar que chegou à indústria televisiva para ficar. Já Kerry Washingron, a eterna Olivia Pope de “Scandal”, só confirma o que todos já sabem: é uma das grandes atrizes do gênero de drama. A cereja do bolo fica com o núcleo mais jovem da série, principalmente quem interpreta as protagonistas na fase jovem. AnnaSophia Robb (The Act) e Tiffany Boon (The Chi) são bastante fiéis e incorporam assustadoramente a mesma atuação de suas mentoras.

Os temas são desenvolvidos de tal maneira que nenhum episódio aparenta ser desperdiçado. Todas as cenas são válidas e ricas, é certo afirmar que “Little Fires Everywhere” mostrou como se faz uma adaptação densa e bem estruturada, respeitando sua fonte original. Com o tema de racismo sendo cada vez mais visto em tela, nesta produção ele se apresenta de outra maneira, como aquelas afirmações discretas que quase soam normais, mas que estão carregadas de hipocrisia, estilo o popular “tenho até amigos que são”.

Aquele racismo que fica nas entrelinhas pode passar despercebido para alguns na vida real, mas o curioso na minissérie é como ela joga luz para esse tipo de comportamento enquanto deixa claro para o público qual é a problemática e como isso está diretamente ligado à diferença de classe.

Outro tema chave é a maternidade e o sacrifício deliberado no qual algumas mulheres são submetidas. A história aborda o tema das mais variadas perspectivas, embora deixe claro que todas tem algo em comum: o amor incondicional pelos filhos. Em determinado momento, fica difícil escolher lados e atribuir culpa para mulheres cujo único erro foi amar demais.

Como tudo que é bom pode durar pouco, “Little Fires Everywhere” deixa aquele desejo de querer assistir mais enquanto finaliza da melhor maneira possível, deixando pequenas lacunas que podem ser interpretadas por conta própria, mas que seria motivo suficiente a favor de uma possível segunda temporada – para o bem ou para o mal.



*Fernando começou a assistir a séries de TV e streaming em 2009 e nunca mais parou. Atualmente ele já maratonou mais de 300 produções, totalizando aproximadamente 7 mil episódios. A série mais assistida - a favorita - é 'Grey's Anatomy', à qual ele reassiste com qualquer pessoa que esteja disposta a começar uma maratona. Acesse o Portal, Podcast e redes sociais do Uma Série de Coisas neste link.

*A Folha de Pernambuco não se responsabiliza pelo conteúdo das colunas.