Maioria dos profissionais de saúde sente medo do coronavírus, aponta pesquisa

O percentual mais alto é entre agentes comunitários de saúde e de combate às endemias

Profissional de saúde - Diulgação

Cerca de 89% dos profissionais de saúde sentem medo do coronavírus, aponta pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas).

O percentual mais alto é entre agentes comunitários de saúde e de combate às endemias (ACS e ACE), grupo no qual chega a 91,3%. Entre os médicos, o número é de 77,7%; entre enfermeiros, 84,3%; e entre os demais profissionais, categoria em que são considerados os relacionados ao Núcleo de Apoio à Saúde da Família ou à gestão e administração dos equipamentos de saúde, 88,2%.

A região Norte do país é a que mais concentra profissionais que relatam ter esse sentimento (92,3%), seguida pelo Nordeste, com 90,6%. No Sudeste, a porcentagem é de 87,2%, no Sul, 85%, e no Centro-Oeste, 82,2%.

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"Essas são as regiões que tiveram menos treinamento, menos apoio governamental e onde os profissionais se sentem menos preparados", diz Gabriela Lotta, professora da FGV e coordenadora do NEB (Núcleo de Estudos da Burocracia) da EAESP (Escola de Administração de Empresa de São Paulo), responsável pelo levantamento.

A pesquisa "A pandemia de Covid-19 e os profissionais de saúde pública no Brasil" foi feita com base em entrevistas realizadas online com 1.456 profissionais da saúde pública, de todos os níveis de atenção e regiões do país, entre os dias 15 de abril e 1º de maio.

O levantamento também mostra que 15% dos entrevistados se sentem preparados para lidar com a pandemia -65% afirmam não estarem preparados e os outros não souberam responder.

Os ACS e AES são os que mais se sentem despreparados (7,6% se sentem prontos para enfrentar a crise de coronavírus). Entre os profissionais de enfermagem, esse número é de 20%.

"[Os agentes comunitários de saúde e de combate às endemias] são historicamente os mais precarizados dentro do SUS (Sistema Único de Saúde)", afirma Lotta. Somada a esse contexto, a regulamentação desse grupo para trabalhar durante a crise foi mal desenhada e o grupo também é o último a ter acesso a equipamentos na cadeia dos profissionais de saúde, explica a pesquisadora.

De maneira geral, os entrevistados mostraram que não se sentem apoiados pelos governos, mas há diferenças entre os níveis da federação. A avaliação de 67% é de que o governo federal não os apoia. O número cai para 56% na esfera municipal e para 51% na estadual.

Em relação ao apoio direto de seus superiores, 71,8% dizem não ter esse suporte e, em relação a treinamento, 21,9% relatam ter recebido orientações ou ações oficiais de formação.

A pesquisa também aponta que 32% dos profissionais afirmam ter recebido equipamentos de proteção individual (EPI) durante a pandemia. Entre os agentes comunitários de saúde e de combate às endemias, o número cai para 19,7%.

"Se formos pensar em termos de atenção primária, eles são os mais expostos, porque eles têm que fazer visita domiciliar", diz Lotta. "O estado não está cuidando de quem deveria cuidar de nós."

Entre os entrevistados, 79% são mulheres, 19,6%, homens e menos de 1% preferiu não declarar. Há também uma concentração de profissionais que atuam na Bahia (32%), em São Paulo (16,7%) e no Rio de Janeiro (14,6%).

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