Uma nova experiência com o delivery

Cresce a demanda por entregas gastrô que fogem do óbvio

Pernil do leitão é parte da experiência gastrô do Seu Porquin - Ed Machado/Folha de Pernambuco

Se o atendimento físico dos estabelecimentos gastrô anda restrito, no delivery eles percorrem território livre. Do restaurante classudo ao bar descolado, todos disputam a mesma atenção de quem não pode sair de casa no momento. Nessa quebra de braço da concorrência ganha quem consegue entender o momento, indo além da entrega impessoal, para ativar as memórias de uma época preenchida por pessoas e boa mesa.

É a oferta da experiência e suas demandas diferentes da vida pré-pandemia. Na prática, algo que vá além da entrega rápida e do atendimento cordial típicos de qualquer situação. De acordo a gestora de projetos na área de alimentação do Sebrae-PE, Valéria Rocha, trata-se de um processo de reinvenção, que obriga criar outras formas de valorizar o serviço. “Uma das maiores preocupações está ligada à segurança alimentar para proteger colaboradores, entregadores e clientes de qualquer contaminação, assim como a qualidade do que está sendo ofertado. Isso inclui, por exemplo, o tipo de embalagem para acondicionar os produtos e garantir a entrega em perfeito estado”, resume.

Compreendido o novo normal no delivery, é a vez da criatividade colocar luz sobre tantas operações no mundo virtual. “Seja elaborando ‘com­bos’ ou kits que possam promover uma experiência diferenciada, inserindo mensagens, cartões, toppings para bolos, cestas de café da manhã ou lembrancinhas associadas à refeição. Algumas cafeterias, por exemplo, criaram kits com pacote de café associado ao bolinho de aniversário. Pode ser também aquela quiche ou coockie entregue com o café que melhor harmoniza”, complementa Valéria Rocha, lembrando formas práticas de conquis­tar o consumidor dentro de casa.

Para comemorar
Mesmo sem espaço para grandes festas, ainda há motivos para pequenas comemorações. Em casa, os combos que reúnem o essencial para as famílias saírem da rotina ganharam seu lugar à mesa. Aniversários e outras datas comemorativas seguem o fluxo gastronômico de reunir o essencial capaz de dizer “está tudo bem”. Nicho, que representa cerca de 70% nas vendas atuais da marca Delikata.

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A loja, já acostumada ao movimento intenso de delivery, viu a demanda de pedidos crescer 130% durante a quarentena. Não houve corte de pessoal e ainda foi preciso contratar motorista. “Assim que começou a pandemia, precisei colocar os pés no chão. Criei um kit pequeno, para três pessoas, por R$ 74. Retirei as versões maiores, para 20, e inseri itens congelados para as pessoas fazerem estoque”, explica o proprietário Clayton Rodrigues. Em meio à variedade reduzida, a certeza de que comida também é afeto. “A gente sempre trabalhou a empatia, e isso foi o facilitador na hora de falar um assunto sério e vender um produto que não era essencial”, comenta ele, que vê seus doces, salgados e agora frutas montados nas salas na hora de uma live.


As experiências
O novo lazer estimulou a praticidade. Tudo ao alcance das mãos. Para o sócio da Debron Bier, Eduardo Farias, é hora de oferecer entretenimento agregado. “A exemplo dos nossos combos que harmonizam cerveja e petisco. Além de ter a possibilidade de finalizar um dos pratos, como costela, lombo ou hambúrguer”, diz. Colocar a mão na massa, aliás, tem sido uma experiência e tanto para fugir da mesmice. Segundo o proprietário da hamburgueria Brooklyn, Alexandre Friedrich, a ideia de oferecer kits que transformam qualquer um em mestre hamburgueiro veio dos seus clientes. “São itens com seis ou quatro unidades. E o mais legal é saber que essas pessoas vão se juntar para criar um ambiente divertido, mandando foto com o resultado”, defende.

Montar a mesa para o delivery virou hábito na quarentena - Crédito: Ed Machado/Folha de Pernambuco


 

Quem não quer se arriscar no talento culinário, coloca em prática outra habilidade. Pois imagine receber em casa um leitão inteiro, capaz de servir seis pessoas. Já visualize a mesa posta para ele. Merece. Essa é uma das ofertas do restaurante Seu Porquin, que, no início da pandemia, colocou para circular os produtos mais pedidos no salão. “Usamos nossa criação própria do leitão de porco preto, animal descendente do porco preto ibérico, que também sai fracionado, como só costela, pernil ou paleta, suculento por dentro e crocante por fora”, explica o sócio, Sérgio Lima. Por si, a chegada do animal já é um acontecimento somado à experiência de ter um prato aos moldes da cidade de Segóvia, na Espanha.

Colocando ordem na mesa 
Para fazer de conta que sua casa virou um pequeno restaurante ou salão de festa, basta organização. Com o delivery à caminho, é possível montar a mesa utilizando os acessórios que estão nos armários. Segundo o arquiteto e decorador Alexandre Mesquita, há dois caminhos. “Você pode, depois de higienizar as embalagens, tirar proveito delas na própria mesa ou retirar todo o enxoval guardado para montar uma cena”, sugere.

Na segunda opção, olhe todos os itens guardados e eleja os objetos que mais se identificam com as pessoas e a comida. Não se preocupe com a mistura de tons e tamanho dos objetos. O que vale é a funcionalidade e a história da família. Por exemplo, tábuas de madeira podem ser usadas como suportes para petiscos e até hambúrguer. No caso de jantar român­tico, cai bem utilizar a louça guardada do casamento. “Guardanapo de tecido é dispensável nesse momento, porque significa lavanderia. A versão em papel já quebra um galho”, completa Mesquita.

Para decorar, algumas dicas. A hor­ta que fica na janela pode ir na bandeja e ganhar o centro da mesa. Para vasos maiores, vale encomendar flores coloridas. O jogo americano, útil por não espalhar sujeira, setoriza o lugar de cada pes­soa. Para algo mais intimista, ve­la e luz baixa são sempre bem-vindas.