Pesquisa da Fundaj aponta avanço da Covid-19 na periferia da RMR

O número de casos confirmados e mortes foi maior em bairros mais pobres e vulneráveis

Mapeamento da Fundaj aponta aumento de casos da Covid-19 nas periferias da RMR - Divulgação

O mapeamento de casos feito pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) nos últimos 15 dias destaca o aumento de contágios e mortes pelo novo coronavírus nas periferias da Região Metropolitana do Recife (RMR). O estudo, que analisou informes epidemiológicos das secretarias de saúde dos municípios da região, oferece também resoluções sobre a necessidade de manter escolas ainda fechadas para evitar uma maior propagação do vírus que causa a Covid-19. 

Por ter um contágio muito rápido, o coronavírus depende também da possibilidade de isolamento de cada um, de acordo com o pesquisador e coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (Cieg) da Fundaj, Neison Freire. “ A doença se vale das nossas fragilidades, não apenas biológicas, mas também sociais. Nossas desigualdades intra urbanas e regionais potencializam sua dispersão e seus impactos”, afirmou.

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As cidades com maiores populações da RMR foram escolhidas para participar da pesquisa. São elas: Recife (1.645.727 habitantes), Olinda (392.482 habitantes), Jaboatão dos Guararapes (702.298 habitantes) e Paulista (331.774 habitantes).

Foram comparados, nos bairros com aumento de casos no recorte de tempo da pesquisa, índices de curas, contágio, mortes e Índice de Vulnerabilidade Social (IVS). O IVS foi criado pela Fundaj e usa 4 variáveis do IBGE para sua definição: proporção de domicílios com renda até ½ salário mínimo per capita, proporção de domicílios sem abastecimento de água e coleta de lixo, bem como a inadequação de esgotamento sanitário dos domicílios

Os bairros que mais variaram em número de mortes foram também os mais socialmente vulneráveis: na Zona Sul, Jordão, Ibura e Cohab, na Zona Leste, Barro, Curado e Estância, e na Zona Norte, Brejo da Guabiraba, Dois Unidos, Nova Descoberta, Vasco da Gama, Alto José Bonifácio e Água Fria.

Apesar do bairro de Boa Viagem apresentar a maior variação entre os 94 bairros do Recife (foi de 351, no dia 10 de maio, para 531 casos confirmados, no dia 25. Ou seja, 180 novos casos, 51% de aumento), o bairro tem baixo índice de vulnerabilidade social (0,03). Se compararmos com o bairro vizinho, do Ibura, por exemplo, a situação é bem diferente: no dia 10, apresentava 96 casos e no dia 25, passou para 182, um aumento de 90%, com um índice de vulnerabilidade social de 0,33. Ou seja, a variação de casos confirmados foi maior no bairro mais pobre e vulnerável.

Através do cruzamento de dados sobre os bairros de Boa Viagem e Ibura podemos observar a nítida relação entre a pandemia e a vulnerabilidade social na cidade. Em Boa Viagem, os óbitos variaram 112% (de 24 óbitos no dia 10 de maio para 51 no dia 25), enquanto no Ibura variaram 256% (de 9 para 32 no mesmo período).

No segundo município com mais habitantes, Jaboatão dos Guararapes, houve maior variação de casos no bairro de Guararapes, seguido por Cavaleiro, Zumbi do Pacheco e Prazeres, todos bairros com maior vulnerabilidade social na cidade. O caso é diferente nos bairros de Vista Alegre e Comportas, que apresentaram menor variação de casos confirmados e têm baixa vulnerabilidade social. Nesse município, os óbitos também cresceram mais nos bairros mais pobres: Santo Aleixo, Cavaleiro e Prazeres.

Em Olinda, o bairro mais vulnerável e com maior variação de casos confirmados foi Águas Cumpridas, seguido de Sapucaia, Peixinhos, Fragoso e Jardim Atlântico. Alto da Sé, Carmo, Amparo e São Benedito foram os bairros com baixa vulnerabilidade social e menor variação de casos confirmados registrados no período estudado. Quanto a variação de óbitos, novamente Águas Cumpridas e os bairros Alto da Bondade e Caixa d’Água foram aqueles com maior variação de óbitos e alta vulnerabilidade social. Situação oposta foram os bairros de Casa Caiada e Bairro Novo, com pouca variação de óbitos e menor vulnerabilidade social. Novamente, Olinda segue o padrão de Recife e expõe suas desigualdades sociais em meio a pandemia.

Já no Paulista, o bairro com maior vulnerabilidade social e que apresentou maior variação de casos confirmados foi Jardim Paulista Baixo, seguido, em menor intensidade, pelos bairros de Paratibe, Janga e Pau Amarelo. No sentido oposto, os bairros de Jardim Paulista, Jaguaribe e Poti apresentaram menores variações e vulnerabilidade social.

“As análises desses quatro maiores municípios da região metropolitana mostram que os bairros com menor renda e precariedade no abastecimento de água, coleta de lixo domiciliar e esgotamento sanitário são aqueles que têm apresentado maior variação percentual de casos confirmados e óbitos no período pesquisado”, frisou Neison.

Aulas e Covid-19

Os municípios analisados na pesquisa registram mais de 3 milhões de habitantes, o que corresponde a quase 75% da população da Região Metropolitana do Recife. Segundo dados mais recentes do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), nesses municípios estão localizadas 1.893 escolas que oferecem todos os cursos da educação básica, desde a educação infantil até o ensino médio. A manutenção da suspensão das aulas presenciais é uma medida muito importante para reduzir a propagação da Covid-19. Isso, levando em conta o impacto da circulação de pessoas, caso a frequência nas escolas retornasse da forma que ocorria antes da pandemia.

Nessas escolas, 23.416 professores lecionavam e 625.270 crianças e jovens frequentavam presencialmente as atividades educacionais. Pode-se dizer então que esses professores e estudantes circulavam entre seus lares e as escolas em seu trajeto cotidiano para trabalhar ou estudar, além de outros espaços que pudessem ser acessados durante o percurso de modo eventual, como uma lanchonete ou uma papelaria.

Também é importante lembrar que a suspensão das aulas presenciais não toca somente nos alunos e professores diretamente envolvidos. Outros profissionais que trabalham nas escolas da educação básica também ficariam expostos ao risco de contágio. Ao voltarem a suas casas, todos que vivem com pessoas do grupo de risco aumentam a chance de ampliação do número de casos mais graves.

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