EUA espera novo dia de mobilizações em massa contra racismo

Os protestos, que degeneraram em tumultos e, em alguns casos, saques, conseguiram permanecer pacíficos nos últimos dias

Protestos nos EUA - Agustin PAULLIER / AFP

Os Estados Unidos esperam mobilizações em massa contra a desigualdade racial e a brutalidade policial, neste sábado (6), um dia que também estará marcado por uma nova cerimônia em memória de George Floyd, cuja morte deflagrou esta histórica onda de protestos.

Grandes protestos foram anunciados em muitas cidades americanas, entre elas Nova York, Miami e Washington, onde milhares de pessoas devem ir às ruas, segundo estimativas da imprensa local.

Após uma primeira cerimônia emocionante em Minneapolis, na última quinta-feira, será prestado uma segunda homenagem a esse cidadão negro de 46 anos imobilizado e asfixiado até a morte por um policial branco durante uma detenção, em 25 de maio, nesta cidade do norte do país. A nova cerimônia será realizada em Raeford, em seu estado natal, Carolina do Norte.

A polêmica aumentou diante da repressão aos protestos por parte das forças de segurança. Nos últimos dias, vários vídeos foram divulgados on-line, mostrando violentas intervenções policiais contra manifestantes pacíficos.

O último deles, divulgado na noite de quinta-feira, mostra um manifestante que é empurrado por dois policiais e lançado com força no chão, enquanto está sozinho diante de vários agentes. Isso aconteceu em Buffalo, no estado de Nova York.

Uma primeira declaração oficial relatou que este homem, de 75 anos, que sangrava em profusão e parecia ter desmaiado, "tropeçou e caiu". Em resposta à indignação provocada pelas imagens, os dois policiais envolvidos neste episódio foram suspensos. O governador do estado, Andrew Cuomo, também solicitou sua demissão, e o promotor local abriu uma investigação. "Os policiais devem ser protetores, não guerreiros", disse Mark Poloncarz, chefe executivo do condado de Erie, ao qual Buffalo pertence.

- Agentes suspensos -
Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio, vaiado na quinta-feira durante uma cerimônia em homenagem a Floyd no Brooklyn por não condenar a brutalidade policial contra manifestantes não violentos, prometeu investigar todos os incidentes denunciados. Disse ainda que medidas disciplinares serão tomadas.

Outros dois policiais foram suspensos, anunciou o chefe de polícia da cidade, Dermot Shea, na sexta-feira, citando "incidentes perturbadores". Um deles aparece, em um vídeo, empurrando uma mulher para o chão. O outro agente tira a máscara de proteção de um manifestante e lança spray de pimenta contra ele.

Do outro lado do país, no estado de Washington, a prefeita de Tacoma solicitou a demissão dos policiais envolvidos na morte de um homem negro em 3 de março, depois que um novo vídeo foi divulgado na Internet. Na gravação, os agentes parecem agredir o homem, imobilizando-o antes de morrer sob custódia policial.

Em Indianápolis, no Meio-Oeste dos EUA, a polícia iniciou uma investigação, após a circulação de outro vídeo que mostrava pelo menos quatro policiais agredindo uma mulher com cassetetes e lançando gás lacrimogêneo, no domingo à noite. Antecipando novos protestos, o chefe da polícia de Seattle anunciou uma proibição de 30 dias do uso desses gases.

Na sexta-feira, a polícia de Minneapolis anunciou a proibição de se recorrer a "estrangulamento", uma técnica perigosa usada em 2014, em Nova York, contra Eric Garner. Ele foi mais um afroamericano morto por policiais, cujo grito "Não consigo respirar" também foi proferido por George Floyd antes de morrer.

- "Um grande dia" -
Novos exemplos de abuso policial alimentam a raiva por trás dos protestos que abalam os Estados Unidos há dez dias. Algumas de suas exigências foram ouvidas. O policial que pressionou Floyd com o joelho por quase nove minutos foi acusado na quarta-feira de homicídio doloso, e não mais não involuntário, conforme estabelecido pela primeira acusação. Os outros três policiais presentes também foram acusados por ajudarem e instigarem o ato.

As mobilizações vão, na verdade, para além desse caso, denunciando o racismo sistêmico e exigindo uma mudança real no país. Os protestos, que degeneraram em tumultos e, em alguns casos, saques, conseguiram permanecer pacíficos nos últimos dias.

Várias cidades, incluindo Washington, Seattle e Los Angeles, suspenderam o toque de recolher que havia sido imposto pelas autoridades para controlar os tumultos. Já em Nova York, ele permanece em vigor até o domingo à noite.

Na sexta-feira, milhares de pessoas se reuniram no Brooklyn e em Manhattan.
Também houve mobilizações em outros países, como o Canadá, onde o primeiro-ministro Justin Trudeau marchou em Ottawa junto com milhares de pessoas.

Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, que continua pedindo a "restauração da lei e da ordem", insistiu em que os estados solicitem o reforço da Guarda Nacional, especialmente aqueles que até agora dispensaram esse efetivo, como Nova York.