Manipular números é lealdade militar burra e genocida, diz Mandetta

"Não informar corretamente significa que o estado pode ser mais nocivo do que a doença", afirma ele

Ex-Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Isac Nóbrega/PR

O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou neste sábado (6) que a decisão do Ministério da Saúde de não mais divulgar o total do número de casos e de morte pela Covid-19 "é uma tragédia".

"Não informar corretamente significa que o estado pode ser mais nocivo do que a doença", afirma ele. Mandetta participa neste sábado (6) de uma live com o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), organizada pelo IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público).

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Para ele, quando os números de epidemias começam a explodir, "é quase que uma atração fatal do indivíduo falar: 'e se a gente mudasse os números, maquiasse os números?'"

No caso da crise do novo coronavírus, esconder dados da população "seria mais do que isso. Seria uma plástica transformadora. Me parece que o que estão querendo fazer é uma grande cirurgia nos números".

O combate a uma doença como a Covid-19, que não tem cura nem vacina, dependeria hoje exclusivamente do comportamento social das pessoas -e, para se proteger, elas teriam que estar bem informadas, diz o ex-ministro.

Mandetta afirma ainda que, quando saiu do governo, chegou a pensar que o fato poderia levar o presidente Jair Bolsonaro a refletir, já que ele se opunha frontalmente ao ex-ministro.

"Entrou o Nelson Teich, que é médico, e foi a mesma coisa. Quer dizer, não era uma coisa [problema] comigo. Era uma coisa de não querer nenhuma tomada de decisões que não fossem decisões políticas", afirma. Depois da saída de Teich, os militares tomaram de vez o ministério. O general Eduardo Pazuello foi oficializado como titular da pasta.

Mandetta diz que, "talvez nomeando alguém que não tem muito compromisso com o setor de saúde", mas sim com uma cultura militar, de lealdade e de cumprimento de missão, ficaria mais fácil "manipular e torcer os números".

Segundo ele, a atitude seria de lealdade, mas uma "lealdade burra e genocida".
"Talvez seja isso o que a gente vá presenciar: uma grande noite da ciência", disse ele.