Olimpíada

COI recua e já admite permitir protestos antirracistas na Olimpíada

Os protestos antirracistas em eventos esportivos voltaram à tona na esteira dos protestos que tomaram conta dos Estados Unidos nas últimas semanas

Movimento Black Lives Matter. - Kerem Yucel/AFP
Horas depois de o jornal britânico Telegraph publicar declaração do Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmando que os atletas seguem proibidos de protestar nos Jogos Olímpicos, o presidente da entidade, Thomas Bach, mudou de tom. Em entrevista coletiva por teleconferência já programada, ele foi questionado sobre o assunto e admitiu que o COI pode rever o rigor da regra 50 da Carta Olímpica, que diz que "nenhum tipo de manifestação ou propaganda política, religiosa ou racial é permitida em quaisquer locais, arenas ou outras áreas olímpicas".

Perguntado sobre o assunto, Bach, desconfortável, disse que não cabe a ele, ou ao COI, e sim aos representantes dos atletas, sobre o direito de protestar no pódio dos Jogos Olímpicos. "Somos muito claros em nossa posição contra qualquer tipo de discriminação e contra o racismo e apoiamos os atletas que fazem uso digno de seus direitos à liberdade de expressão, disse Bach.
 

O alemão, que foi campeão olímpico na esgrima, disse que o COI vai dialogar com a Comissão de Atletas antes de tomar qualquer decisão. "Apoiamos totalmente a iniciativa da Comissão de Atletas do COI de dialogar com atletas de todo o mundo para explorar maneiras diferentes de como os atletas olímpicos pode expressar seu apoio aos princípios consagrados na Carta Olímpica de maneira digna", continuou.

Bach, porém, deixou claro por que o tema é polêmico. Há uma linha tênue entre protestos que parecem universais, como os contra o racismo, a aqueles que dividem. "Devemos sempre respeitar o espírito olímpico. Isso significa que devemos delimitar a diferença entre apoio aos princípios consagrados na Carta Olímpica e manifestações potencialmente divisórias."

Os protestos antirracistas em eventos esportivos voltaram à tona na esteira dos protestos que tomaram conta dos Estados Unidos nas últimas semanas. A NFL reconheceu na semana passada que "estava errada por não ouvir os jogadores da NFL anteriormente e incentivar todos os jogadores a falarem e protestarem pacificamente", mas não se desculpou com Colin Kaepernick, líder daquele movimento. Já o Comitê Olímpico dos EUA pediu publicamente desculpas à lançadora de martelo Gwen Berry, punida por protestar contra o racismo no Pan de Lima.

OLIMPÍADA ENXUTA

Na coletiva, Bach também falou pela primeira vez sobre o escândalo que atingiu o levantamento de peso. Na semana passada, o advogado canadense Richard McLaren publicou relatório apontando uma série de irregularidades no comando da modalidade, que vão de corrupção a acobertamento de casos de doping.

Bach disse que o COI está chocado com o relatório e admitiu que a modalidade pode ser excluída do programa olímpico, mas só dos Jogos de Paris. "Deixamos bem claro, dependendo dos resultados das conclusões da comissão de supervisão da IWF (Federação Internacional de Levantamento de Peso), que nos reservamos ao direito de adotar medidas de longo alcance, incluindo, entre outras, a exclusão do levantamento de peso no programa dos Jogos Olímpicos."

Pivô da crise, o agora ex-presidente da IWF, Tamás Aján renunciou à sua cadeira no COI já na esteira da crise, que começou com a exibição de um documentário na TV alemã. O COI aponta que só isso não é suficiente. Em nota, informou que está analisando o relatório e que não irá conceder nenhuma credencial para quaisquer funcionários da IWF implicados no relatório, independente da posição delas. De acordo com o COI, essas pessoas não se sentam mais à mesa com o comitê.

Na coletiva, o COI também falou de uma Olimpíada "simplificada" em Tóquio, com níveis menores de serviço. "Estamos analisando a quantidade. Nos Jogos anteriores, muitas vezes planejamos demais e sub-consumimos", comentou Christophe Dubi, diretor executivo do COI para os Jogos Olímpicos.

Mais cedo, o chefe-executivo do comitê Tóquio-2020 também falou sobre isso. "Para simplificar os Jogos, precisamos revisar e entender Federações Internacionais, Comitês Olímpicos Nacionais, emissoras e parceiros. Essas partes interessadas devem agir em uníssono para garantir jogos simplificados", comentou, citando mais de 200 ideias para simplificar os Jogos.